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O direito de decidir sobre a própria morte

Stefan Dege (rc)26 de janeiro de 2014

Um terço dos suicídios na Alemanha é cometido por idosos. O médico Klaus Arens, de 82 anos, é a favor do direito à eutanásia para pacientes terminais. Mas também para si próprio, como alternativa à vida no asilo.

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Foto: picture-alliance/dpa

Klaus Arens enfatiza que, se quisesse, poderia dar fim à própria vida. Ao contrário de muitos outros que desejam a morte, o médico de 82 anos tem acesso a medicamentos potencialmente letais a qualquer hora.

"Conhecidos meus se mataram. Um se jogou na frente de um trem em movimento, outro se enforcou", conta Arens. "Ambos os casos foram um grande choque para mim." Por outro lado, ele observou a eutanásia em animais, com uma injeção letal. "Eu vi como a coisa pode ser descomplicada e pacífica."

Diante da solidão da velhice

O médico veterano sofre de leucemia, o que o obriga a tomar remédios diariamente. Para poder atravessar o dia, ele precisa de fortes analgésicos. O apartamento em que vive é "grande demais", diz, assim como o automóvel que dirige. Ele é um senhor de idade de boas posses.

No momento, Arens diz não ver motivos para se matar. Ele chegou a considerar o tema dois anos atrás, logo após a morte da esposa. Gravemente doente, ela foi internada numa clínica para pacientes terminais. Arens caiu em depressão profunda. "Minha condição estava mais para a morte do que para a vida", descreve.

Sterbehilfe Klaus Arens
Médico de Düsseldorf defende direito de determinar a própria vidaFoto: DW/S. Dege

Um psiquiatra o tomou sob seus cuidados. "Depois que comecei a melhorar e a gradualmente me recuperar, percebi que a tão esperada vida familiar não se concretizava." O filho e a filha, que vivem no mesmo prédio, não se importavam com ele. O idoso se sentiu abandonado e solitário. "Foi então que percebi que um velho deve comandar a própria vida."

Autodeterminação na vida e na morte

Arens quer poder determinar a própria vida. "Padecer num asilo, tratado por totais estranhos, que me dão banho e me sentam no sanitário, está fora de questão para mim." Para ele, aí seria o momento de dizer: "Agora eu acabo com tudo!"

Muitos idosos consideram que não querem mais viver. Eles temem se tornar cada vez mais dependentes, sofrem com os sintomas das doenças e com relacionamentos estressantes. A cada ano, cerca de 10 mil pessoas se suicidam na Alemanha. De acordo com o Programa Nacional de Prevenção do Suicídio do governo federal, mais de um terço delas tem 60 anos ou mais. Também chama a atenção o aumento da frequência a partir da oitava década de vida, sobretudo entre os homens.

Sterbehilfe Klaus Arens
Morte da esposa precipitou Arens numa depressão profundaFoto: DW/S. Dege

Se for o caso, Arens quer que também sua morte seja por determinação própria. Como médico, ele já tomou as medidas necessárias: as pílulas letais estão a postos, revela sem rodeios. "Então, se chegar ao ponto de não ter mais como cuidar de mim mesmo, eu posso dar fim à história."

Ajudar, não só curar

Muitos outros pacientes não dispõem dessa opção. "Ou eles têm que ter muito dinheiro para ir à Suíça" – onde a eutanásia é permitida por lei – "ou então lançam mão de meios totalmente inadequados, que podem resultar em complicações sérias, mas não no sucesso almejado."

O "sucesso" a que Arens se refere é o fim da própria vida. Para ele, é seu direito inalienável decidir quando esse fim deve ocorrer. Ele está familiarizado com o debate sobre a eutanásia. "Uns dizem que não se pode dispor da vida à vontade; os outros, que a autodeterminação é essencial e está acima disso. Entre esses dois polos é quase impossível um consenso." Quanto à sua preferência pessoal, ele não tem dúvidas.

Mas o médico não existe para curar, em vez de matar? "O médico não tem apenas o dever de curar", acredita Arens, "mas, sim, de ajudar o paciente". Essa ajuda implica também "providenciar uma morte tranquila" a um doente terminal, caso este o deseje ou assim tenha estipulado num testamento vital.

Sterbehilfe Klaus Arens
"Acabar num asilo, aos cuidados de estranhos, está fora de questão para mim."Foto: DW/S. Dege

Ele próprio nunca teve que agir assim em sua profissão, afirma. No entanto, há situações em que simplesmente não é mais possível curar. "Ao nascer, a gente é condenada à morte. Nós temos a possibilidade de dar ao paciente uma morte pacífica, por exemplo, com uma superdose de anestésicos."

E se ele tivesse se matado no ápice da depressão? Aqui, o médico octogenário fica reflexivo: "OK, então eu não existiria mais. Mas também não teria mais motivo para me aborrecer."