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A guerra pelo poder

(sv)12 de abril de 2003

A escolha de um próximo líder para o Iraque ocupa o governo norte-americano. À sombra das rivalidades entre o linha-dura Rumsfeld e o moderado Powell, surge o nome de Ahmed Chalabi, um iraquiano exilado nos EUA.

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Ahmed Chalabi: condenado à prisão e próximo ao neoconservadorismo de BushFoto: AP

O cenário do pós-guerra está mais ou menos claro para os EUA: as Nações Unidas aparecem somente lá atrás, no comboio da ajuda humanitária. No lugar de qualquer espécie de poder de decisão, Washington pretende delegar ao órgão apenas as funções de fornecer água, comida ou livros escolares para as crianças.

Uma maior autonomia da ONU significaria conceder a palavra a países do bloco dos "indispostos" à guerra, como França ou Rússia. Fato absolutamente descartado pelo governo norte-americano, que bate o pé pelo controle político e militar da região.

A luta pelo poder em um Iraque pós-guerra envolve não apenas disputas entre diversas correntes de iraquianos no exílio, como revela a acirrada rivalidade entre a Secretaria de Estado e o Pentágono. Enquanto a primeira insiste que um novo governo deverá ser formado gradualmente, com forças vindas "de dentro do país", o segundo gostaria de ver seu discípulo predileto instalado na cadeira de Saddam: o exilado Achmed Chalabi, queridinho dos neoconservadores norte-americanos.

Colin Powell
Secretário de Estado, Colin PowellFoto: AP

Americanização do poder - Além disso, os moderados em torno do Secretário de Estado Colin Powell gostariam de evitar uma "americanização" total e completa do poder em Bagdá, com o objetivo de, pelo menos na superfície, legitimar a intervenção no país perante a comunidade internacional.

A posição, entretanto, é combatida com veemência pela corrente linha-dura que envolve Donald Rumsfeld no Pentágono. Ali, pretende-se, entre outros, nomear o ex-diretor da CIA, James Woolsey, para o Ministério iraquiano da Informação, propósito rejeitado com veemência por Powell, tendo em vista as reações que isso poderia desencadear em todo o mundo árabe.

Até mesmo na questão crucial do controle dos poços de petróleo há divergências entre Powell e Rumsfeld: enquanto o primeiro acredita que as reservas devam ser administradas de forma centralizada, para não acirrar ainda mais os conflitos étnicos e regionais no país, o segundo vê a indústria petroleira como parte da economia de mercado livre e pretende privatizá-la por completo.

Verteidigungsminister Donald Rumsfeld
Secretário norte-americano da Defesa, Donald RumsfeldFoto: AP

Proteção do Pentágono - No centro das discussões entre os dois lados, surge o nome de Ahmed Chalabi, um banqueiro de 57 anos, que vive nos EUA e preside o chamado Congresso Nacional Iraquiano. Descendente de influente família xiita, cujo avô foi ministro e o pai presidente do Senado, Chalabi deixou o Iraque em 1958, aos 13 anos, quando o rei Faisal foi deposto e assassinado. Na fuga rumo ao exílio definitivo, passou por vários países: Jordânia, Líbano, Reino Unido e, por fim, EUA, onde graduou-se em Matemática, para depois de um doutorado ir dar aulas na Universidade de Beirute, no Líbano.

Condenado por corrupção -

Em 1977, Chalabi foi chamado para dirigir um banco na Jordânia. A princípio bem-sucedida, sua atuação acabou se transformando em um fiasco. Em 1989, o iraquiano acabou sendo condenado a 22 anos de prisão, por ter levado à falência o banco que dirigiu. Com ele, desapareceram também cerca de 70 milhões de dólares. Apoiado pelos círculos neoconservadores nos EUA, Chalabi iria encontrar rapidamente novo respaldo à sua carreira: em 1992, fundava o Instituto Nacional Iraquiano, financiado inicialmente com recursos do FBI e da CIA.

Um dos principais nomes a incentivar a guerra no Iraque, Chalabi apoiou incondicionalmente a derrubada de Saddam, mantendo-se lado a lado com o Pentágono. E exatamente essa proximidade extrema da Secretaria da Defesa faz com que ele não seja bem visto pelos diplomatas de Powell. No entanto, além do exilado iraquiano pró-Bush, não são muitos os nomes cogitados no momento para assumir o poder no Iraque.

Importação de governantes -

Outra alternativa seria o ex-ministro do Exterior Adnan Pachachi, um sunita de 80 anos. O problema é que Pachachi rejeita categoricamente uma adminsitração norte-americana no Iraque e defende a presença da ONU durante um governo de transição.

Independente da querela entre Defesa aqui e Secretaria de Estado ali, há de se pensar também como o povo no país irá reagir à planejada importação em massa de governantes norte-americanos e a um novo líder imposto, mesmo que este tenha a cidadania iraquiana. Fala-se de um governo interino, mas, como muitos do gênero, não se sabe quão provisório ele será.