A história do alemão que levou o bom chocolate para a Rússia
23 de setembro de 2013Um jovem alemão inaugurou, em 1851, uma confeitaria no centro de Moscou. Teodore Ferdinand von Einem soube escolher sabiamente o local para o seu empreendimento, diretamente na rua Arbat, que é hoje um dos locais mais turísticos da cidade. A Einem começou ali, com cinco funcionários, como um dos poucos endereços que vendiam doces e chocolates finos no então império russo. Ele havia descoberto um nicho de mercado. A confeitaria logo se tornou popular.
Embora as relações comerciais entre e a Alemanha e a Rússia datem de longos séculos, por muito tempo, o Império Russo era um mistério para os alemães. No século 16, o viajante Sigismund von Herberstein alertou seus compatriotas sobre a suposta deslealdade dos comerciantes em Moscou: "Logo depois de fazer uma promessa, eles já querem te enganar".
No entanto, a suposta tendência dos moscovitas para quebrar promessas pode ser interpretada como um mal-entendido cultural. Na Rússia, um acordo só estava fechado quando o comerciante beijava a cruz, algo que não acontecia na Europa Ocidental. O idioma dificultava muito a comunicação. O nome russo para alemão é 'nemez', que de acordo com a lenda deriva da palavra 'mudo'. Devido as suas dificuldades com a língua russa, até hoje, os alemães são os "mudos" em russo.
A fábrica de chocolate
No entanto, no século 19, o dono da confeitaria não teve que lidar com tais dificuldades. Seu negócio prosperou, já que os moscovitas – e os visitantes da cidade – compravam grandes quantidades de seu chocolate. Assim, a pequena confeitaria pôde crescer. Mas essa expansão se deve a um segundo alemão, que queria fazer fortuna no país. Alguns anos após fundar seu negócio, Einem firmou uma parceria com o comerciante Julius Heuss, que havia trocado a remota Floresta Negra por Moscou. Em 1867, os dois sócios fundaram uma fábrica de chocolate.
A fábrica ficava às margens do rio Moscou, não muito longe do Kremlin, e manteve o nome Einem. Equipada com as mais modernas máquinas e equipamentos, a fábrica tinha cem funcionários que produziam chocolates e biscoitos de qualidade – que em pouco tempo ficaram conhecidos em todo o país. Seus doces, aparentemente, também agradaram a família real, já que a fábrica fornecia para a corte.
A tempestade da revolução
Eles começaram a produzir em todo o país. Einem passou a deixar, cada vez mais, Heuss à frente dos negócios. O confeiteiro que encantou Moscou com suas doces criações morreu em 1876. Heuss provou que poderia continuar sozinho na administração da companhia. Ele investiu em publicidade e embalagens de alta qualidade, que destacavam os produtos Einem da concorrência. Sob o comando de Heuss, a empresa acumulou respeito e sucesso.
No entanto, a história chegou ao fim em 1918, quando a Revolução de Outubro abalou a Rússia. Os comunistas, sob o comando de Lênin, tomaram o poder. O país mergulhou em uma guerra civil entre monarquistas e anticomunistas, que custou a vida de milhões de pessoas.
Outubro vermelho
A fábrica de chocolate foi estatizada e ganhou um novo nome: Fábrica de Confeitos do Estado nº1. O chocolate continuou a ser prioridade para os novos governantes. Assim, os doces continuaram a ser produzidos no prédio de tijolo às margens do rio Moscou. Em 1922, a fábrica mudou de nome para Outubro Vermelho, uma homenagem à revolução.
Até hoje, os moscovitas ainda se deliciam com chocolates que chegaram à cidade pelas mãos do alemão Ferdinand Theodor von Einem. A fábrica sobreviveu ao comunismo, bem como à queda da União Soviética. Só que, hoje, os doces são produzidos em outro lugar, já que a antiga fábrica se tornou um lugar descolado na nova e cara Moscou e abriga clubes, estúdios e restaurantes.