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A realidade do mundo da espionagem

rw16 de janeiro de 2003

Exposição documenta a espionagem na Alemanha do pós-guerra. Objetos, filmes e vídeos documentam a rotina, êxitos e fracassos dos serviços secretos durante a divisão da Alemanha.

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Aparelho de escuta menor que palito de fósforoFoto: PUNCTUM/Bertram Kober

A imagem que se faz de agentes secretos geralmente coincide com os clichês que nos são incutidos pela literatura ou pelo cinema. Mas, na vida real, nada é como nos filmes de James Bond. Ousadia, criatividade e improvisação, mas também a ganância por dinheiro e prestígio, motivaram os agentes dos serviços secretos das Alemanhas Oriental e Ocidental na segunda metade do século passado.

Uma exposição intitulada Duelo no escuro – Espionagem na Alemanha dividida resgata mitos e realidade desta época, ao documentar, por exemplo, atividades do Stasi, serviço de segurança do Estado alemão oriental, na Alemanha Federal.

A exposição foi montada em forma de labirinto, com paredes sobrepostas e jogos de luzes e sombras. A sensação de estar "vivendo" a história é enriquecida com filmes e sons originais. O visitante faz uma incursão na Berlim da década de 50. A cidade, dividida em quatro zonas de ocupação após o final da Segunda Guerra Mundial (britânica, norte-americana, francesa e soviética), era o legendário centro da espionagem na Europa.

Uma das várias atividades secretas que aconteceram na época tinha o nome "Operação Ouro": um túnel escavado por norte-americanos e britânicos para a zona comunista, para grampear os telefones das tropas soviéticas. A exposição revive também o mito do posto de controle na ponte Glienecker Brücke, onde aconteciam as famosas trocas de espiões capturados pelos serviços secretos rivais.

Microgravadores e ursinhos de pelúcia ocos

Kameras Duell im Dunkel Spionage im geteilten Deutschland
Câmeras soviéticas disfarçadas de carteira de cigarroFoto: PUNCTUM/Bertram Kober

Muitos dos 700 objetos e documentos, reunidos na Alemanha, Estados Unidos e Rússia, estão sendo expostos pela primeira vez. Além de minicâmeras, microgravadores e ursinhos de pelúcia ocos, pode-se ver codificadores da administração militar britânica em Berlim Ocidental e os diversos passaportes de agentes duplos. Para aprofundar seus conhecimentos, o visitante tem oportunidade de assistir a um filme com casos reais de espionagem nas duas Alemanhas.

Para incentivar seus agentes, o Stasi alemão oriental os chamava de "espiões da paz". A exposição, entretanto, revela a discrepância da realidade em relação ao mito: seqüestros de críticos ao regime, execução de dissidentes nas próprias fileiras e aliciamento de agentes inimigos. Aliás, o serviço secreto alemão oriental era especialmente bem-sucedido em convencer agentes ocidentais a virarem a casaca.

Uma das personagens mais famosas do mundo da espionagem foi a agente dupla Mata Hari, espiã da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. Um de seus vistosos enfeites de cabeça mostrado na exposição introduz a seção dedicada às secretárias que, sem saber, passavam informações de seus chefes a espiões alemães orientais, disfarçados de "romeus". As "evas", por seu lado, atraíam empresários, políticos e visitantes de feiras ocidentais. Depois, faziam chantagem com vídeos gravados nos quartos dos hotéis.

Histórias de êxitos e fracassos

Na Berlim dividida, os espiões não vinham do frio. Eles foram recrutados nos campos de refugiados e de prisioneiros de guerra devolvidos à Alemanha Ocidental. Na parte ocidental, Reinhard Gehlen começou a montar o serviço de informações que dez anos mais tarde viraria Bundesnachrichtendienst (Serviço Federal de Informações), ligado diretamente ao governo federal. Do outro lado, estava Markus Wolf, cujo Serviço de Informações de Política Exterior foi subordinado ao Ministério de Segurança do Estado, de Berlim Oriental.

Entre os altos e baixos nas histórias dos serviços secretos, a exposição registra o fracasso dos alemães ocidentais ao não detectar os planos de construção do Muro. Mostra, também, destroços de um avião dos Estados Unidos derrubado sobre a União Soviética, em maio de 1960, e a troca do piloto, Francis Powers, por um agente soviético.

Espetacular, também, o fato de um casal ter conseguido copiar, para Berlim Oriental, milhares de páginas de documentos secretos no quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Até 21 de abril, em Leipzig

A pesquisa e documentação das atividades do serviço secreto alemão oriental só foi liberada em 1995, após o Tribunal Federal Constitucional decidir que não seriam punidas espionagens praticadas a partir do território da então Alemanha Oriental. Os organizadores da mostra revelam, por outro lado, que não receberam autorização para acessar todos os arquivos dos serviços secretos ocidentais.

Duelo no escuro - Espionagem na Alemanha dividida tem entrada gratuita e pode ser vista no Fórum Contemporâneo de Leipzig até o dia 21 de abril. Depois, ela segue para a Haus der Geschichte (Casa da História) em Bonn, onde fica de 23 de maio a 3 de agosto de 2003.