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Música

Oliver Kranz (sv)17 de fevereiro de 2009

Baixar arquivos de música da internet traz obviamente desvantagens para os próprios músicos. Muitos deles, que disponibilizam eles mesmos suas obras para acesso público, têm que lutar pela sobrevivência.

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Venda de CDs: movimento cada vez mais fracoFoto: AP

Em 2006, Ekkehard Ehlers lançou o CD A life without fear, considerado pela mídia alemã a resposta musical do país a Brian Eno. Num show realizado na Suécia, ele foi aclamado por muitos fãs, que usavam até mesmo camisetas estampadas com referências à capa de seu CD. Algumas semanas depois, o músico levaria um verdadeiro choque: em toda a Suécia haviam sido vendidos somente dois exemplares de seu CD.

Também na Alemanha o álbum de Ehlers vendeu somente mil cópias, enquanto se registraram 25 mil downloads na internet. O músico acredita ter sido espoliado por seus próprios fãs, ou seja, pelas pessoas que ouvem com prazer o que ele produz e até escrevem comentários elogiosos no MySpace.

Essa situação faz com que Ehlers não tenha recursos financeiros para trabalhar num próximo CD, porque recebeu nada ou muito pouco em dinheiro com o primeiro. No momento, ele passa até mesmo por sérias dificuldades para sustentar a si e sua família, tendo que trabalhar como funcionário de uma sauna para pagar suas contas.

A teoria do long tail

Ekkehard Ehlers
Ekkehard EhlersFoto: Ekkehard Ehlers

Até há pouco tempo, a internet significava para boa parte dos músicos a esperança de atingir um público mais amplo. Era comum a crença na teoria do long tail, anunciada pelo norte-americano Chris Anderson na revista Wired Magazine, em 2004. Anderson acreditava que produtos como CDs ou livros, que só vendem poucos exemplares, poderiam abandonar o nicho do mercado e serem comercializados de forma rentável pela internet. E por muito tempo.

A prova seria, segundo ele, os números registrados pelo serviço online de música Rhapsody, que, num curto espaço de tempo, teve mais lucros com produtos de baixa demanda do que com grandes sucessos de público. O gráfico das vendas long and little (longas e poucas) de determinados produtos se assemelhava ao rabo de um animal; daí o conceito long tail (rabo longo).

Negócios deficitários

Na realidade, essa teoria não costuma funcionar: 85% de todos os títulos de música oferecidos na rede no ano de 2008 não foram vendidos nem uma única vez. E até os formatos clássicos CD e LP estão vendendo mal. A crise, que assola as grandes gravadoras há alguns anos, chegou aos pequenos selos.

"Antes, um artista que estava em alta sempre vendia seu novo disco", diz Gudrun Gut, proprietária do selo berlinense Monika Enterprise. Essas vendas, no entanto, foram reduzidas a um terço do que eram antigamente.

Hoje, o selo independente é um negócio deficitário para Gudrun Gut, algo que ela só consegue manter porque também trabalha como locutora de rádio e música, podendo, desta forma, subvencionar seu próprio selo.

Mudança de valores

Gudrun Gut Elektrokünstlerin
Gudrun GutFoto: Kerstin Anders

Mas não só o costume de baixar músicas de graça da internet é responsável pela crise do setor. Achim Bergmann, do selo independente Trikont, de Munique, aponta para uma profunda mudança de valores na sociedade: "Não dá para esquecer que, nos últimos 20 anos, tinha um monte de festas com música", lembra Bergmann.

A mídia e a indústria da comunicação criaram uma cultura jovem de entretenimento, para poder vender melhor seus produtos. Com isso, foi se perdendo o interesse real pela música, acredita ele. Ou seja, embora a música esteja por todo lado disponível para o consumo, são poucas as pessoas que têm um interesse real por ela. A proposta de Bergmann é promover uma conscientização neste sentido, através de uma divulgação mais precisa na mídia. As tendências atuais, no entanto, vão na direção contrária.

Cultura da recompensa

Mark Chung, ex-funcionário da Sony Music em Londres e atual presidente da associação dos empresários, editoras e produtores musicais independentes, sugere a implementação de mecanismos que tragam retorno a músicos com trabalho de acesso público na rede:

"Na Inglaterra, por exemplo, buscam-se soluções neste sentido. Quanto se deveria, na verdade, receber de um provedor de internet, a fim de que valha novamente a pena produzir música?" pergunta ele.

No entanto, é claro que modelos como esse também levantam outras questões, principalmente a respeito de quem seria o responsável por distribuir o dinheiro recolhido e de acordo com quais critérios.

De qualquer forma, Ekkehard Ehlers vê com bons olhos uma solução como essa: "Se houver algo assim, no formato certo, tempos melhores virão para pessoas como eu", espera o músico.