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Agonia de Babelsberg suscita discussão sobre mídia no país

Soraia Vilela19 de setembro de 2002

Os famosos estúdios alemães que produziram "Metrópolis", de Fritz Lang, comemoram 90 anos em plena crise. Acredita-se que o grupo francês de mídia Vivendi, que detém boa parte dos estúdios, esteja abandonando o barco.

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Futuro de Babelsberg está indefinidoFoto: Studio Babelsberg

Trata-se da crônica de uma morte anunciada. Os estúdios Babelsberg, localizados em Potsdam, cidade próxima a Berlim, festejam seus 90 anos em plena agonia. Dez anos após a entrada nos negócios do grupo francês Vivendi - que tentou sacudir os ânimos, transformando Babelsberg em uma ilha de produção para o mercado nacional e internacional pós-queda do Muro de Berlim - as perspectivas para o futuro dos estúdios parecem negras.

Desconfiança -

Em função de caixas completamente deficitários, a Vivendi pretende se retirar. Menos de uma semana antes da comemoração dos 90 anos, a então presidente dos estúdios, Gabriela Bacher, recebeu o cartão vermelho de seus chefes franceses. O cargo foi assumido pelo diretor da Vivendi na Alemanha, Thierry Potok, que ainda tenta passar a impressão de que tudo vai muito bem, obrigado.

Enquanto Potok acusa "problemas de confiança mútua" como razão da súbita demissão de Bacher, a ex-presidente dos estúdios anuncia que entra na Justiça contra o conglomerado francês. Novos interessados em explorar os estúdios, pelo que tudo indica, ainda não foram encontrados. Políticos demonstram preocupação e especialistas reúnem-se em uma conferência de três dias sobre atuais tendências e problemas da mídia alemã.

Postura incorreta -

"A festa acontece em um momento ruim", observa Klaus Wowereit, prefeito de Berlim. Em um texto escrito para o diário Der Tagesspiegel, o diretor alemão Volker Schlöndorff mostrou-se convicto de que os dias da Vivendi em Babelsberg estão contados. "Os franceses nunca quiseram produzir na Alemanha, mas sim serem prestadores de serviços. Talvez uma postura incorreta, mas compreensível", resume o cineasta, ex-diretor dos estúdios.

Espelho da história -

Babelsberg espelha como poucas outras instituições a história alemã. De verdadeiro pólo de vanguarda desde sua criação, em 1912, até os anos 30, os estúdios serviram depois de instrumento de propaganda para a ditadura nazista e para o posterior governo da ex-Alemanha Oriental. Fora seus primórdios – que remetem aos clássicos Metropolis de Fritz Lang e Anjo Azul, de Josef von Sternberg –, os estúdios não carregam memórias muito suaves.

Nos anos 30, vieram os nazistas, que expulsaram todo o potencial criativo de Babelsberg rumo ao exílio, transformando a fábrica de sonhos em uma fábrica de pesadelos. No período nazista, foram ali produzidos cerca de mil filmes. Aí vieram os comunistas e transformaram a antiga UFA em DEFA. O novo regime recomendava extremo cuidado, principalmente em tudo o que carregava no tom de crítica social. Apesar da censura, foram rodados 700 filmes nos 45 anos de história da DEFA.

Glamour perdido -

Em 1992, após a queda do Muro de Berlim, numa Alemanha reunificada, vieram os ocidentais tentando recuperar o glamour há décadas perdido. Os estúdios foram libertos das amarras de duas ditaduras e entregues aos caprichos do mercado. O grupo francês Vivendi adquiriu os direitos de uso dos estúdios por um prazo superior a dez anos, em troca de 67 milhões de euros. O Estado alemão, interessado em que o barco não caminhasse à deriva, continuou contribuindo aqui e ali com gordos incentivos.

Hoje, na comemoração dos 90 anos da casa e uma década de chefia francesa, Babelsberg tem que assumir que vai mal das pernas. O mito dos tempos de Fritz Lang não é mais suficiente para sustentar um espaço monstruoso, talvez desnecessário para a atual demanda da produção cinematográfica alemã. Os estúdios, apesar da modernização, continuam atraindo mais pelo charme de museu que pela utilidade prática.