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Além da cortesia

(sv)9 de dezembro de 2002

Visita do presidente israelense à Alemanha vai além da diplomacia de praxe: Moshe Katsav recruta auxílio militar. De caráter simbólico, a missão revela detalhes da tradição de fornecimento de armas de Berlim a Tel Aviv.

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Katsav e Schröder em BerlimFoto: AP

Da última vez em que um presidente de Israel pisou em solo alemão – Ezer Weizman, há sete anos – o discurso ouvido não foi dos mais amáveis. Weizman conclamou todos os judeus alemães a deixarem o país em direção a Israel.

Por essas e outras, o presidente do Conselho Geral dos Judeus na Alemanha, Paul Spiegel, acredita que a visita do atual presidente israelense, Moshe Katsav, ao país seja um "acontecimento histórico", de caráter altamente simbólico.

Katsav abriu sua incursão pela terra que sediou o holocausto da Segunda Guerra Mundial inaugurando uma sinagoga: no bairro Barmen, na cidade de Wuppertal. Sob medidas austeras de segurança, o presidente israelense participou das cerimônias de inauguração do templo judaico no último domingo (8). Em seu discurso, Katsav lembrou que ainda "há vozes de anti-semitismo" ecoando pela Europa, inclusive em território alemão.

Integração –

Sua presença, apesar das ameaças de uma marcha neonazista anunciada para o centro de Berlim, pode marcar mudanças nas relações entre Israel e Alemanha. Há pouco, Spiegel já anunciava suas esperanças de uma verdadeira "ressurreição do judaísmo" no país. A condição sine qua non para isso, segundo o presidente do Conselho dos Judeus, seria a integração dos imigrantes de origem judia vindos do leste europeu, principalmente da Rússia.

Se a organização dirigida por Spiegel contava em sua fundação, em 1950, com apenas 15 mil membros, hoje estes são mais de 93 mil. Isso graças à última década de imigração, facilitada pela abertura da cortina de ferro. Entre os cerca de cem membros das 83 comunidades judaicas alemãs, 75% vêm do leste europeu e mais cerca de 30 mil são esperados para o decorrer dos próximos dois ou três anos.

Confiança na democracia –

O fato de que Berlim já pode ser registrada como a terceira maior comunidade judaica da Europa é uma prova de que "as pessoas adquiriram confiança na democracia alemã", nas palavras de Spiegel. E isso mesmo considerando os ataques xenófobos que sempre voltam a povoar as páginas dos jornais, além dos escândalos políticos que envolveram declarações de teor anti-semita de um ex-presidente estadual do Partido Liberal alemão.

Se para Spiegel as relações entre alemães e judeus "não são normais, mas estão a caminho da normalidade", a visita de Katsav vem selar o propósito que visa amainar as cicatrizes ainda vivas do genocídio da Segunda Guerra Mundial. "Não conheço outros países no mundo que, em tão pouco tempo, fossem capazes de ultrapassar as dificuldades que têm um com o outro. Acredito que isso seja mais um mérito dos judeus que dos alemães, pois, afinal, fomos nós que sofremos sob o extermínio", observa o presidente israelense.

Parceira militar –

Essas boas relações entre os dois povos são, inclusive, calcadas em uma tradição peculiar: o fornecimento de armas. Considerando apenas o governo social-democrata e verde, no poder desde 1998 na Alemanha, dos 70 pedidos oficiais de armamentos feitos por parte de Israel, apenas três foram recusados, segundo informa o semanário Der Spiegel.

Acredita-se em um verdadeiro "florescimento da parceria militar" entre os dois países. De acordo com informações extra-oficiais, o que a Alemanha já forneceu a Israel sob o aval do ministro verde Joschka Fischer é de deixar qualquer de seus correligionários de cabelo em pé.

O pedido de auxílio militar, diga-se de passagem, soa como a principal missão de Katsav em sua visita à Alemanha. Ao lado dos mísseis de defesa Patriot, Tel Aviv recorre a Berlim em busca de blindados de transporte Fuchs. Ao contrário dos Patriot, os Fuchs podem servir não apenas à defesa.

O governo alemão, por sua vez, teme que esses blindados possam vir a rolar sobre territórios palestinos, o que, segundo Katsav, não pode ser de todo descartado. A promessa de que os Fuchs seriam "usados apenas ao redor de Tel Aviv", o presidente israelense disse não poder cumprir.