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Alemães compram imprensa do Leste

(am)4 de janeiro de 2004

Empresas estrangeiras adquiriram o controle sobre 85% do mercado editorial dos países do Leste Europeu. Entre os principais investidores estão editoras da Alemanha, com mais de 60% de participação no mercado.

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Investimento ou investida da imprensa alemã?Foto: AP

Durante cerca de meio século, a publicação de jornais e revistas foi um privilégio e uma atividade exclusiva dos órgãos estatais nos países comunistas da Europa Oriental. Na chamada "cortina de ferro", essa questão estava estreitamente ligada à propaganda ideológica e à segurança nacional. Com o fim da Guerra Fria e dos regimes comunistas, abriu-se um vácuo no mercado editorial da região, com a inusitada possibilidade de investimentos estrangeiros.

O Leste Europeu converteu-se há muito numa das regiões de maior atratividade para investimentos alemães em todos os setores. Isto ficou ainda mais patente depois que se decidiu ampliar a União Européia com a adesão de dez novos países, muitos dos quais fronteiriços ou próximos à Alemanha.

Domínio alemão

Na área da imprensa, contudo, os investimentos alemães foram muito além do que se poderia considerar normal. Vozes críticas já começam a alertar para o monopólio germânico no mercado de jornais e revistas da Europa Oriental. Editoras alemãs detêm entretanto mais de 60% da imprensa de países como a Polônia, a Hungria ou a República Tcheca.

E em outros países do Leste Europeu a participação alemã no mercado editorial é menor, mas também significativa. Por exemplo, na Eslováquia: 30 jornais pertencem a empresas alemãs. Igualmente grande é a presença de investimentos alemães na imprensa das três repúblicas bálticas: Lituânia, Letônia e Estônia.

As duas empresas alemãs que abocanharam a maior parte do bolo na Europa Oriental foram o grupo WAZ de Essen e o Verlagsgruppe Passau, da Baviera. Mas também outras companhias alemãs estão representadas de forma destacada no mercado da região: por exemplo, as potentes editoras Springer, Gruner&Jahr e Bauer ou a Rheinisch-Bergische Verlagsgesellschaft, uma empresa regional de Düsseldorf.

Situação tcheca

A situação da República Tcheca é a que melhor serve para ilustrar o processo pelo qual está passando a imprensa do Leste Europeu. Na capital Praga, o jornal Pravo – que antes era publicado como órgão oficial do Partido Comunista com o nome de Rude Pravo – é o único que continua em mãos de proprietários tchecos. Ele domina 20% do mercado. Os restantes 80% estão em mãos de editores alemães, suíços e finlandeses.

O Verlagsgruppe Passau adquiriu a maior editora tcheca, a Vltava Labe-Press (VLP), e publica atualmente 11 jornais regionais e 13 revistas semanais no país. Em Passau, um porta-voz do grupo respondeu de maneira evasiva à pergunta sobre a influência alemã no conteúdo dos jornais tchecos: segundo ele, os alemães não podem escrever um jornal em tcheco.

Oposição vinda de fora

Regionalzeitungen aus Deutschland
Jornais alemães na bancaFoto: Bilderbox

Ao lado do Verlagsgruppe Passau, a Rheinisch-Bergische Verlagsgesellschaft também participa da VLP, com 20% das ações. E possui, além disso, uma editora tcheca própria, com o nome de Mafra, a qual é proprietária do jornal MF dnes, considerado um dos mais sérios do país e que tem uma tiragem diária de 350 mil exemplares.

O diário é conhecido pela sua posição crítica em relação ao governo de Praga e pela sua posição parcial nos temas relacionados com os alemães da região dos Sudetos. Isso gera preocupação ao governo tcheco que vê o perigo de um monopólio alemão no mercado editorial, com uma influência direta sobre o conteúdo dos jornais e revistas.

O truque da distribuição

O temor não é infundado. Pois à parte das editoras, as empresas alemãs investiram também no setor da distribuição de produtos impressos na República Tcheca. E utilizam tal mecanismo para criar barreiras aos concorrentes incômodos. Foi o caso, por exemplo, do jornal independente Impuls, sem participação de capital estrangeiro.

Ele só conseguiu sobreviver cinco meses, depois que a distribuidora PNS – pertencente em grande parte à editora VLP – deu um ultimato aos donos de bancas. Eles teriam de optar em vender apenas o Impuls (que tinha a sua própria distribuidora MPK) ou os demais periódicos, na sua maior parte distribuídos pela PNS.

Polônia e Hungria

Embora ainda não tenha atingido o mesmo nível da República Tcheca, a dominância alemã nos mercados editoriais da Polônia e da Hungria também já é fato consumado. Na Polônia, a presença principal é da Springer, da Gruner&Jahr e da Bauer. Mas também o Verlagsgruppe Passau tem participações no mercado editorial polonês. E, além dos jornais e revistas, também a maioria das agências de publicidade da Polônia estão em mãos do capital alemão.

Na Hungria, o principal investidor alemão é o grupo WAZ, que comprou inicialmente jornais regionais no sul e no oeste do país. Esse investimento vem sendo complementado pouco a pouco com outras aquisições: vários jornais e revistas em Budapeste e em outras regiões do país. Hoje, o WAZ também já domina inteiramente a faixa dos jornais de distribuição gratuita na Hungria.

A estratégia não pára aí. Recentemente, o WAZ decidiu ampliar seus investimentos e a sua área de influência no Leste Europeu, comprando o diário Politika, considerado o principal e mais influente jornal da Sérvia e de Montenegro.