1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Alemães e russos não encontram língua comum

(rr)10 de setembro de 2004

Cerca de 150 representantes alemães e russos dos setores de política, economia, mídia e ciência encontram-se pela 4ª vez em Hamburgo para o Diálogo de Petersburgo. Mas a tragédia na Ossétia do Norte roubou a cena.

https://p.dw.com/p/5YYG
O ex-presidente russo Michail Gorbachev pediu seriedadeFoto: AP

Chegou ao fim nesta sexta-feira (10/09) a quarta edição do Diálogo de Petersburgo, um fórum teuto-russo promovido pelos presidentes Gerhard Schröder e Vladimir Putin, que reuniu cerca de 150 representantes dos setores de política, economia, mídia e ciência dos dois países em Hamburgo.

O evento, iniciado há quatro anos para incentivar a aproximação entre a Rússia e a Alemanha, sofreu com o impacto da tragédia na Ossétia do Norte, a delicada situação no Cáucaso e a luta contra o terrorismo. Face à situação, os próprios anfitriões cancelaram a presença no encontro. E a tradicional conversa paralela entre os chefes de governo teve de ser adiada. Schröder e Putin divulgaram, em vez disso, uma declaração escrita, na qual condenam publicamente o terrorismo internacional e anunciam uma maior cooperação para sua erradicação.

Russos criticam imprensa européia

Petersburger Dialog Logo
Logotipo do evento

Sem a presença de Schröder e Putin, o evento perdeu em significado, importância e efeito. Segundo Klaus Mangold, um dos organizadores, avaliou-se inclusive seu cancelamento. Os participantes perderam a chance de discutir problemas bilaterais livre e abertamente. Alemães e russos não encontraram uma língua comum. Em vez disso, trocaram críticas e justificações em uma atmosfera de nervosismo e consolação.

Muitos dos participantes russos estão – como o presidente Putin – enfurecidos com o mundo ocidental. Críticas à política russa são interpretadas como agressão e não faltaram acusações à mídia européia, inclusive à alemã, de animosidade em relação à Rússia, negligência no trato do terrorismo e falta de compaixão pelas vítimas. Provas para tantas acusações não houve.

Petersburger Dialog Hamburg Leonid Roschal
O pediatra Leonid Roschal, mediador durante o seqüestro de BeslanFoto: AP

Segundo o pediatra Leonid Roschall, que tentou estabelecer comunicação com os terroristas durante o seqüestro em Beslan, muita mentira foi dita pela imprensa européia. Para ele, "o que aconteceu na Ossétia do Norte não tem nada a ver com a Tchechênia. Eu vi isso de dentro. Foi uma tentativa de transformar o norte do Cáucaso em um caldeirão de conflitos".

Gorbatchov pede seriedade

O ex-presidente russo e co-organizador do fórum, Mikhail Gorbatchov, pediu ao governo russo que trate séria e abertamente os acontecimentos em Beslan. "Eles [o povo russo] esperam medidas reais que levem a uma solução política do conflito na Tchechênia e que permitam seus habitantes levar uma vida normal. Para isso, é essencial que seja feita uma análise dos motivos e das conseqüências dos acontecimentos, com participação do parlamento e da sociedade. Os russos esperam por isso".

A organização Repórteres sem fronteiras criticou a ausente liberdade de imprensa na Rússia. O criador da Fundação de Defesa da Glasnost, Alexej Simionow, acusou a mídia russa de não ter reportado os acontecimentos de forma objetiva. Hoje, cinco dos seis canais de televisão são estatais e o sexto pertence ao governo de Moscou. "Segundo uma pesquisa da estação de rádio Eco Moscou, 92% dos ouvintes acreditam que a televisão mente ou esconde grande parte da verdade", alertou Simionow.

Nem mesmo o anúncio russo de que irá combater o terrorismo no exterior por meio de ataques preventivos recebeu a devida atenção – decisão que mostra a indisposição de Putin de encontrar uma solução política para o conflito na Tchechênia.

Prestígio do fórum é incerto

Putin und Schröder in Weimar
Vladimir Putin (e) e Gerhard Schröder cancelaram a presençaFoto: AP

No futuro, o Diálogo de Petersburgo terá que provar sua importância. Será que ele é apenas um ornamento à parte das negociações oficiais? Ou apenas marketing para a política de Schröder em relação à Rússia? Ou será realmente um fórum crítico, no qual diferenças podem ser discutidas e contribuições à sociedade civil russa podem ser feitas?

Neste último caso, temas como o caráter autoritário da política de Putin, a praticamente ausente liberdade de imprensa e a diminuição cada vez maior na Rússia de características essenciais a um Estado de direito não poderiam ter faltado. A posição do governo russo está clara: Moscou enviou a Hamburgo quase exclusivamente representantes do governo.