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Alemão de luxo para quem vive no exterior

Manfred Götzke / av6 de janeiro de 2005

Papai foi transferido para o exterior e vai levar a família. Como garantir que os filhos continuem estudando em alemão? Nenhum problema, graças aos dois mil professores alemães ativos em todo o mundo.

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Aprendendo na língua de GoetheFoto: Bilderbox

Duas pirâmides de vidro despontam por entre as copas das árvores, caminhos tortuosos e gramados impecáveis atravessam parques e bosques. Em meio ao verde, uma série de bangalôs com telhados de vidro. Aqui trabalha Hans Wagner, professor de alemão; pelos padrões de seu país, numa escola incrivelmente luxuosa.

Mas o cenário não é a Alemanha, e sim São Paulo, a cidade mais rica do Terceiro Mundo, onde templos das altas finanças e apartamentos de luxo se misturam com as mais miseráveis favelas. Wagner leciona há 15 anos na Escola Alemã Humboldt. Terminada a faculdade, não conseguia emprego na Alemanha. Como conhecera a metrópole paulista, durante um ano de serviço social voluntário, achou boa idéia ir ensinar lá, por uns três ou quatro anos.

Voltar ou não voltar

"Agora não sei se volto para a Alemanha", confessa Wagner, "O sol, o mar, a vida é simplesmente ótima aqui". Além disso, conheceu sua esposa em São Paulo. E ensinar numa escola particular é mais agradável do que no país natal: "Aqui há uma homogeneidade social maior do que na Alemanha. Os alunos estão mais dispostos a aprender e os pais ainda têm bastante influência sobre os filhos."

Dos 280 alunos da Humboldt a maior parte são netos de alemães milionários. Mesmo vivendo permanentemente no Brasil, espera-se que aprendam a língua de seus ancestrais. Além disso, há os "filhos de experts", cujos pais são cientistas e economistas enviados ao Brasil por companhias internacionais. Somente uma clientela desse nível econômico pode arcar com a mensalidade de 300 euros.

Dois caminhos

Na Alemanha, o Departamento Federal de Administração é encarregado das escolas estrangeiras. Os recursos vêm do Ministério das Relações Exteriores, que financia 117 escolas particulares em todo o mundo, que adotam o alemão como idioma de instrução. Sua meta é oferecer ensino às crianças alemãs que vivem no exterior, assim como fomentar a língua e a cultura germânicas. Fora da Europa, a maioria dessas instituições de ensino situa-se na América do Sul. Atualmente, cerca de dois mil professores alemães trabalham em outros países.

Há dois caminhos para os que desejam lecionar no estrangeiro. Quem se apresenta diretamente à escola, recebe o mesmo salário que um docente local, o que nem sempre basta para sustentar uma família. Porém, a maioria dos que já têm experiência candidata-se através do Departamento Federal de Administração, recebendo o dobro do salário de um funcionário público.

Segundo Hans Wagner, "para muitos professores, o dinheiro é motivo bastante para viverem no estrangeiro por alguns anos. Eles poupam aqui, e após cinco anos juntaram o suficiente para um bom começo, ao retornar à Alemanha". Outros querem escapar de relacionamentos fracassados, ou procuram simplesmente aventura, uma mudança completa de ares.

Seleção rigorosa

Este foi o motivo que levou, por exemplo, Ingo Müller a candidatar-se a um posto de ensino no exterior: "Gostaria muito de saber como é viver, e não simplesmente passar férias, num outro país. Ser professor não é um dos trabalhos mais espetaculares, mas no exterior já fica mais interessante".

Conseguir um emprego em outro continente não é a coisa mais fácil do mundo. Primeiro, os candidatos têm que passar por um centro de avaliação – um assessment center, quase como se concorressem a um cargo de gerente. Os docentes são submetidos a testes psicológicos durante todo um dia, para constatar se conseguem lidar rapidamente com situações novas.

"Eles testam se você consegue ensinar bem, num ambiente totalmente novo e diante de dificuldades lingüísticas e do estresse da mudança", explica Müller. A dificuldade varia também com a destinação: São Paulo ou Buenos Aires são mais disputados do que Djeda, na Arábia Saudita; Madri é escolhida com mais freqüência do que Bucareste. Os docentes não precisam saber o idioma local, já que as aulas são ministradas em alemão.

Após 15 anos em São Paulo, Hans Wagner domina perfeitamente o português. Porém, um tempo tão longo no exterior é uma exceção. A maioria dos professores recebe um contrato de três anos numa escola estrangeira, depois volta à sua instituição original, na Alemanha. O evento que transformou a vida de Wagner é, para a maioria dos docentes, nada mais do que uma viagem especialmente longa.