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Resíduos nucleares

5 de novembro de 2010

Transporte de lixo atômico entre usina francesa de La Hague e depósito provisório em Gorleben, na Alemanha, é feito desde os anos 1990. Apenas 10% do material processado pode ser reusado, o resto é estocado na Alemanha.

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Resíduos atômicos: transporte polêmicoFoto: picture-alliance/dpa

Nesta sexta-feira (05/11), 11 contêineres com lixo altamente radioativo estão sendo transportados da Normandia, no norte da França, para a pequena cidade de Dannenberg, na Alemanha, em um percurso de aproximadamente mil quilômetros.

Trata-se do 12º transporte de material radioativo que retorna à Alemanha após ser reprocessado no exterior. Ativistas do movimento antinuclear estão articulando protestos e bloqueios no percurso e seguindo uma tradição desde que o lixo atômico é enviado da usina francesa de processamento para o depósito provisório de Gorleben.

Ambição francesa de potência nuclear

O uso da energia nuclear na França teve seu início durante o governo de Charles de Gaulle, que defendia a transformação do país em uma potência nuclear e dizia que quem quisesse construir a bomba atômica teria que dispor da tecnologia necessária para tal. "A potência nuclear está diretamente ligada à energia atômica, que fornece o fundamento para nossa conduta futura", dizia o então presidente francês.

No início dos anos 1960, a ideia dominante era a de conseguir plutônio suficiente para a construção da bomba atômica e para um uso eficiente das usinas nucleares. Neste contexto, foi criada em 1966, na francesa La Hague, no Canal da Mancha, uma usina de processamento nuclear.

Polêmica desde o início

Já na época o projeto foi polêmico. Quando, em 1981, o socialista François Mitterrand assumiu a presidência da França, o então ministro da Pesquisa, Jean-Pierre Chevènement, afirmava: "O reprocessamento é algo muito notável. Quando o material for reprocessado, enviaremos o mesmo de volta a quem nos enviou. La Hague é tecnologia e não lata de lixo".

Castor-Transport erreicht Dannenberg
Transporte até Alemanha acontece por via ferroviáriaFoto: AP

O reprocessamento de resíduos nucleares pelos franceses despertou o interesse dos países vizinhos, sobretudo os alemães, que depois do fim da planejada usina de reprocessamento em Wackersdorf, no estado da Baviera, não sabiam o que fazer com seu lixo nuclear.

Os franceses disponibilizaram então para os vizinhos uma nova instalação na Normandia. Em 1990, a usina iniciava suas atividades e a Alemanha se tornava sua cliente mais importante.

Resíduos são radioativos

Até o início da política de abandono gradual do uso da energia nuclear no país, há cinco anos, os alemães mandavam regularmente seu lixo atômico para ser reprocessado em La Hague.

"Uma parte dos resíduos atômicos é 'reprocessada' na França, como se costuma definir esta atividade. Nosso conglomerado nuclear Areva diria até 'reciclada'. Mas, de fato, não se trata nada mais do que da transformação dos combustíveis nucleares em produtos que podem ser reusados. Esses resíduos são, contudo, radioativos. Ou seja, não se resolve problema nenhum dessa forma, pois, no fim da cadeia, nos deparamos do mesmo jeito com os resíduos", salienta Yannick Rousselet, especialista em energia nuclear do Greenpeace na França.

De fato, após o complexo procedimento químico e físico na usina, apenas 10% de todo o material pode voltar a ser usado em uma usina. E 90% do mesmo são mero lixo, mas extremamente radioativo.

Os resíduos perigosos são derretidos a uma temperatura de mais de mil graus Celsius. Nesse processo, surgem as chamadas coquilhas de vidro, que são armazenadas em contêineres especiais para serem enviadas de volta para o país de origem.

Um dos últimos transportes

Nesta sexta-feira, estão sendo transportados 11 contêineres de La Hague para a Alemanha. Em 2011, deverá ser efetuado o último transporte do gênero, de acordo com os planos atuais.

Depois disso, a Alemanha terá que pegar de volta os resíduos atômicos enviados à britânica Sellafield. A partir de 2017, todo o lixo atômico alemão deverá ter retornado ao país, não importando se até lá o país terá um depósito definitivo para os resíduos ou não.

Autor: Christoph Wöss (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer