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TerrorismoAlemanha

Alemanha bane atividades de associação palestina e do Hamas

Christoph Hasselbach | Andrea Grunau
2 de novembro de 2023

Membros da organização radical Samidoun, que comemorou em Berlim o ataque do Hamas a Israel, assim como apoiadores do grupo de Gaza não poderão se reunir, mostrar símbolos e atuar no território alemão.

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Pessoas com bandeiras da Palestina e com o logo da Samidoun
Membros da organização Samidoun em manifestação em Colônia em abril de 2023Foto: Ying Tang/NurPhoto/picture alliance

A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, anunciou nesta quinta-feira (02/11) a proibição de qualquer atividade vinculada ao Hamas, e baniu também uma rede palestina atuante no país chamada Samidoun que promoveu atos de comemoração do ataque do Hamas contra Israel no dia 7 de outubro.

A proibição de atividades relacionadas ao Hamas na Alemanha já havia sido anunciada pelo chanceler federal Olaf Scholz em 12 de outubro, e torna-se efetiva após a ordem desta quinta-feira do Ministério do Interior. O Hamas é considerado uma organização terrorista pela União Europeia e por Alemanha, Estados Unidos e outros países.

A Samidoun é uma rede palestina que opera na Alemanha sob os nomes Hirak – Palestinian Youth Mobilization Jugendbewegung (Germany) e Hirak e.V. Segundo o Departamento Federal de Proteção da Constituição da Alemanha (BfV), ela é vinculada à organização radical palestina PFLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina), que defende a luta armada contra Israel.

"Quanto ao Hamas, proibi hoje completamente a atividade de uma organização terrorista cujo objetivo é destruir o Estado de Israel", afirmou Faeser em um comunicado. "A Samidoun, como rede internacional sob o pretexto de ser uma 'organização de solidariedade' a prisioneiros em vários países, disseminou propaganda anti-Israel e antijudaica", disse a ministra. "A realização de 'celebrações de júbilo' aqui na Alemanha em resposta aos terríveis ataques terroristas do Hamas contra Israel mostra a visão de mundo antissemita e desumana da Samidoun, de uma forma particularmente repugnante."

Nancy Faeser mostrando duas folhas com as ordens de proibição do Hamas e do Samidoun
A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, com as ordens de proibição do Hamas e da SamidounFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

Scholz também havia expressado repúdio às manifestações de apoio dos partidários do Hamas na Alemanha: "Não aceitamos que os ataques hediondos contra Israel sejam comemorados aqui em nossas ruas", disse. Em Berlim, a Samidoun celebrou o ataque do Hamas a Israel e distribuiu doces.

A proibição anunciada por Faeser significa que não podem ser realizadas reuniões ou atividades das organizações e que suas faixas e símbolos não podem ser usados. Seus bens também podem ser confiscados. Aqueles que descumprirem a ordem estão sujeitos a processo judicial. Faeser também já havia mencionado a possibilidade de examinar "a deportação de criminosos da cena islâmica, se eles não tiverem passaporte alemão".

Apoiadores e simpatizantes

De acordo com estimativas do BfV, há cerca de 450 pessoas vinculadas ao Hamas na Alemanha, muitas delas cidadãos alemães. Não existe uma representação oficial do grupo no país europeu.

Além desses, há mais apoiadores. "Temos que assumir que a cena de apoio [ao Hamas] é de quatro dígitos", diz à DW Guido Steinberg, especialista em Oriente Médio da Fundação de Ciências e Política em Berlim (SWP).

Ainda mais amplo é o grupo de simpatizantes, cujo número é difícil de ser estimado. Steinberg explica que os apoiadores fazem algo concreto pelo Hamas, como propaganda, enquanto os simpatizantes geralmente não aparecem publicamente.

"Essas proibições são um dos instrumentos mais importantes que uma democracia tem para evitar que os fundos fluam para organizações terroristas aqui", diz Hans-Jakob Schindler, do think tank Counter Extremism Project. Mas "é sempre difícil, porque na Alemanha as associações e organizações sem fins lucrativos gozam de certa proteção no que diz respeito às suas atividades, e também as investigações de autoridades importantes, como o Departamento para a Proteção da Constituição, são limitadas quando se trata das finanças."

Essa barreira é ultrapassada, diz, quando há a defesa aberta da violência. "Se você se contiver, isso se torna muito difícil." Os envolvidos geralmente são cuidadosos com o que dizem para não alertar as autoridades.

Hans-Jakob Schindler
Hans-Jakob Schindler, do Counter Extremism Project: Banimentos são importantes, mas têm impacto limitadoFoto: Dr. Hans-Jakob Schindler

Refúgio do Hamas

O Hamas não reconhece o Estado de Israel e, de acordo com suas próprias declarações, quer destruir o país. Várias associações próximas ao movimento já haviam sido banidas há alguns anos.

"Estados ocidentais como a Alemanha são considerados pelo Hamas como um refúgio onde a organização se concentra em coletar doações, recrutar novos apoiadores e divulgar sua propaganda", afirma um relatório de 2022 do BfV.

De acordo com a avaliação do órgão, além da Samidoun, vinculada à PFLP, a rede de palestinos radicais também inclui a associação Comunidade Palestina na Alemanha, que, de acordo com as autoridades, é formada principalmente por apoiadores do Hamas.

Entretanto, a Alemanha desempenha apenas um papel secundário no financiamento do Hamas, diz Schindler: "É preciso considerar que a Alemanha e a Europa não são os principais financiadores do Hamas em todas as campanhas de arrecadação de fundos. Claramente, quando se trata de dinheiro, é o Catar. Sem os fundos do Catar, o Hamas não funcionaria."

Influência iraniana no centro de Hamburgo

O governo alemão também está de olho nos apoiadores internacionais do Hamas. O Hisbolá  libanês já havia sido banido em 2020.

O Centro Islâmico de Hamburgo (IZH), que presumivelmente é controlado pelo Irã, vem sendo há décadas monitorado pelo BfV. Ele é considerado uma extensão do regime iraniano, que parabenizou o Hamas por seu ataque a Israel. "Sem o apoio do Irã nos últimos anos, o Hamas não teria sido capaz de realizar esses ataques sem precedentes em território israelense", disse Scholz.

Fachada do Centro Islâmico de Hamburgo
Centro Islâmico de Hamburgo (IZH) está há décadas sob monitoramento do BfVFoto: Markus Scholz/dpa/picture alliance

As autoridades alemãs já haviam expulsado o vice-diretor do IZH em 2022, alegando que ele apoiava organizações terroristas e financiadores do terrorismo. No entanto, o próprio IZH ainda não foi banido. O pré-requisito para uma proibição, que também resistiria a uma possível revisão judicial, é em geral a prova de que o comportamento agressivo e combativo constitui o caráter formativo da associação.

Conselho Central de Muçulmanos: Apenas minoria é hostil a Israel

Aiman Mazyek, do Conselho Central de Muçulmanos, sediado em Colônia, considera importante enfatizar que apenas uma minoria de muçulmanos sai às ruas com slogans anti-Israel ou antissemitas. Não se deve presumir "que essas imagens, que essas pessoas falam por todos os muçulmanos, pelos muçulmanos alemães, pelas organizações daqui", afirmou.

Será que agora teremos que contar com ataques do Hamas ou de seus simpatizantes também na Alemanha? Para Schindler, "não vejo a Alemanha como o principal alvo dos ataques do Hamas, mas não se pode descartar a possibilidade de que perpetradores individuais motivados e radicalizados se sintam compelidos a fazer algo."

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