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No rastro do progresso

15 de abril de 2011

Os dois países tentam ampliar suas posições estratégicas no Brasil. De um lado está a tradição brasileira de parcerias com os alemães. Do outro, o capital que os chineses têm à disposição.

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Dilma Rousseff e Hu Jintao: acordos à vistaFoto: AP

Por trás dos cumprimentos amigáveis e visitas oficiais, gigantes da indústria alemã e chinesa tentam se articular para não perder posição no mercado brasileiro. Nesta semana, a atenção do governo brasileiro é toda dedicada aos chineses. A presidente Dilma Rousseff está no país e quer que a China retribua a atenção em dólares – a presidente espera que os parceiros orientais gastem mais com produtos brasileiros industrializados.

Essa aproximação deixa os europeus preocupados. Diferentemente dos chineses, a indústria alemã não leva sua própria força de trabalho a um país, executa a obra e vai embora, argumenta a iniciativa privada alemã em seu favor. Também a qualidade dos serviços que vêm da China levanta suspeita para os alemães.

"Queremos levar ao Brasil mais capacidade, dividir o nosso know-how", argumenta Peter Hanf, membro da diretoria da Max Bögl, empresa que quer participar da construção do trem de alta velocidade brasileiro. A companhia aguarda com ansiedade a chance de efetivar seu primeiro investimento em terras brasileiras.

Os números podem ser uma indicação da solidez das relações Brasil-Alemanha e Brasil-China. Atualmente, 1.200 empresas alemãs atuam no Brasil, enquanto as chinesas somam 40. Por outro lado, há 175 companhias brasileiras em atividade no país asiático – na Alemanha, elas não passam de 20, segundo as respectivas câmaras de indústria e comércio.

Uma corrida ao tesouro

Brasília ainda não havia recebido tantas delegações internacionais com interesses econômicos em tão pouco tempo. No último mês, delegações chinesas visitaram diversas cidades brasileiras em busca de parcerias em diversas áreas, que vão da agricultura à cooperação científica e tecnológica.

Em seguida, um grupo de representantes da elite da indústria alemã chegou ao Brasil, encontrou-se com ministros brasileiros e com Dilma. Dinamarca, Noruega, Costa Rica, Reino Unido também enviaram ministros ao Brasil – e esses são apenas alguns exemplos. A capital federal virou a porta de entrada para os governos que querem participar do crescimento brasileiro.

"Não diria que todo mundo vem comer um pedaço do bolo. Acho que todo mundo procura mercado. O Brasil é um país que tem mostrado um crescimento importante e uma abertura para o capital internacional. Então é normal que os países que veem o desempenho econômico brasileiro queiram participar", pondera Alessandro Teixeira, secretário executivo do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Para Teixeira, os alemães largaram na frente. Ele diz preferir a tecnologia alemã à chinesa e lembra que a Alemanha é tradicionalmente um grande investidor, presente no cenário industrial há décadas – de fato, a Câmara de Comércio Brasil-Alemanha se aproxima do centésimo aniversário.

Com a urgência da implantação de melhorias na infraestrutura brasileira, o ministério está aberto para negociações. "O governo brasileiro vê com muito bons olhos a parceria com as indústrias alemãs. Já temos parcerias na área de grandes eventos, por exemplo: a cobertura dos estádios e as cadeiras serão feitas por empresas brasileiras e alemãs", cita um dos negócios já acertados.

Peter Ramsauer und Antonio Patriota
Peter Ramsauer, ministro alemão dos Transportes. e Antonio PatriotaFoto: Glaucimara Silva

Dinheiro de sobra

A indústria nacional, por sua parte, tenta convencer o governo brasileiro de que a China, que tem dinheiro sobrando, tem todo o potencial para investir no setor de infraestrutura e formar uma forte parceria com o setor privado do Brasil.

"Por outro lado, acho que podemos ter indústrias chinesas do setor de produção de manufaturados investindo no Brasil dentro do nosso ambiente de negócio, tanto voltadas para o mercado interno quanto externo. Não queremos apenas importar produtos manufaturados da China com preços que não são competitivos com a indústria mundial", defende o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.

Apesar de reconhecer a contenda velada que se passa nos bastidores, o presidente da CNI manda um recado: há espaço para todos no rastro do progresso econômico brasileiro. A entidade calcula que o Brasil precise investir mais de 150 bilhões por ano em infraestrutura, sem falar nos investimentos da Petrobras.

Para que os projetos sejam efetivados, no entanto, é preciso disponibilizar investimentos de longo prazo. "Para isso, é preciso atrair capital estrangeiro, tecnologia estrangeira e parceiros estrangeiros. O que temos que cuidar é para que as empresas brasileiras estejam aptas e capazes de participar desses grandes investimentos, seja sozinhas, seja como parceiras ou consorciadas", considera Andrade.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer