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Alemanha e Israel longe da normalidade

Andreas Tzortzis (am)2 de fevereiro de 2005

Há 40 anos, 20 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha e Israel estabeleceram relações diplomáticas. O relacionamento, mesmo amigável, não é normal, afirmam especialistas. E isso não vai mudar tão cedo.

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Presidente Köhler (dir.) encontrou-se com o primeiro-ministro israelense, Ariel SharonFoto: AP


O primeiro embaixador da Alemanha em Israel foi, na melhor das hipóteses, uma escolha extravagante.

Antigo major da Wehrmacht (Exército alemão), Rolf Pauls perdera um braço no combate com os Aliados, durante a Segunda Guerra Mundial. Os israelenses, em 1965 ainda desconfiados em relação ao plano de estabelecimento de relações diplomáticas com a Alemanha, ficaram chocados.

Segundo os relatos históricos, o carro de Pauls foi atacado com pedras e garrafas a caminho da cerimônia de credenciamento. Mas Pauls logo provou que dispunha do tato indispensável que a sua tarefa exigia. Quando deixou o cargo em 1967, ele tinha se tornado tão querido dos seus anfitriões em Israel, que o antigo diplomata israelense Avi Primor afirmou que ele "foi recebido com pedras e despedido com rosas".

O presidente alemão Horst Köhler pode estar certo de ter uma recepção bem mais sóbria durante a sua visita de quatro dias a Israel, por ocasião do 40º aniversário das relações teuto-israelenses. Ao lado dos seus encontros com o primeiro-ministro Ariel Sharon e com o presidente Moshe Katzav, Köhler faz um discurso na Knesset, o Parlamento israelense, nesta quarta-feira (02/02). Ele é o segundo político alemão a fazê-lo, depois do seu antecessor no cargo, presidente Johannes Rau (foto abaixo), cinco anos atrás.

Johannes Rau in Aschdad
Johannes Rau em visita a Israel, no ano de 2003Foto: AP

O pronunciamento foi objeto de debate acirrado em Israel, com alguns parlamentares contestando a permissão para que Köhler discursasse em alemão. Mesmo que os ânimos se tenham acalmado posteriormente, o incidente demonstra o quanto o relacionamento entre os dois países continua sendo difícil.

Normalidade necessita de tempo

"O fato de estarmos discutindo hoje se as relações são normais como as nossas relações com a Dinamarca ou a Itália é um sinal de que elas não o são", afirma Friedemann Büttner, professor de Estudos do Oriente Médio na Universidade Livre de Berlim.

O papel da Alemanha como país agressor na Segunda Guerra Mundial é algo prevalecente com muitos inimigos declarados do passado. Büttner cita como exemplo as relações bilaterais com a França. Ainda que as relações diplomáticas tivessem sido retomadas há mais de 40 anos, somente no ano passado é que o chanceler federal alemão tomou parte na cerimônia comemorativa do Dia D na Normandia.

"Não posso imaginar uma situação parecida com Israel", afirmou Büttner numa entrevista. "Isso necessita de tempo."

Abordagem equilibrada

Não se pode dizer que não houve progressos num nível político e econômico. Depois dos EUA, a Alemanha é o mais importante parceiro comercial de Israel. Empresas alemãs como a SAP e a Siemens estão bem representadas no país do Oriente Médio, e uma joint venture de mineração entre a Volkswagen e a Dead Sea Works é considerada o ponto de partida para novas parcerias teuto-israelenses, segundo o Ministério alemão das Relações Exteriores.

Fischer in Israel
O ministro alemão Joschka Fischer destacou-se como mediador no conflito entre Israel e a Autoridade PalestinaFoto: AP

A partir do final da década de 90, a Alemanha – e principalmente seu ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer – demonstrou um interesse especial na mediação do conflito entre Israel e a Autoridade Palestina. Mesmo que os EUA continuem sendo o principal parceiro de Israel no processo de paz, a abordagem equilibrada do problema por Fischer conquistou-lhe o apoio "de todos os partidos políticos", afirma Büttner.

Acontecimentos recentes na Alemanha demonstram que o problema persiste. O êxito da extrema direita, do Partido Nacional Democrata (NPD) anti-semita, que conseguiu eleger deputados à Assembléia Legislativa da Saxônia no outono europeu passado, disparou os sinais de alarme em Israel.

Treino de sensibilidade

"É um fato que não podemos ignorar", afirmou Paul Spiegel, presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, em entrevista a uma emissora de rádio. "É um fato com o qual somos confrontados e que gera um certo mal-estar em Israel."

Spiegel lançou uma campanha por melhores caminhos para ensinar aos escolares alemães sobre o Holocausto, buscando melhorar a sua sensibilidade quanto à questão. Mas seus esforços esbarram em ouvidos de mercador, afirma ele.

"Não consegui nenhuma reação até agora."

A compreensão cultural é talvez o mais importante instrumento que os políticos têm para dispersar as concepções errôneas dos israelenses em relação à Alemanha, afirma Martin Beck, especialista do Instituto Alemão de Estudos do Oriente Médio, em Hamburgo.

"O relacionamento cultural entre a Alemanha e Israel é talvez mais desenvolvido que o de qualquer outro país europeu com Israel", afirmou Beck numa entrevista. "Isso é muito importante. Um intercâmbio em todos os níveis, não apenas no nível político, é crucial para dissipar a desconfiança dos israelenses e demonstrar-lhes que a Alemanha de hoje nada mais tem a ver com a Alemanha do nacional-socialismo".