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Heranca judaica

10 de novembro de 2011

Há mil anos os judeus já viviam em Speyer, um dos principais centros judaicos da Idade Média. No progrom de 1938, a sinagoga local foi destruída pelos nazistas. Agora a cidade ganhou um novo templo.

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A sinagoga de Speyer ainda durante a fase de construçãoFoto: picture alliance/dpa

"Estamos de novo aqui e não queremos nos esconder de ninguém", diz Daniel Nemirovski. O diretor administrativo da Comunidade Judaica da Renânia-Palatinado, responsável pelos 650 judeus que vivem em Speyer e arredores, aponta para a nova sinagoga da cidade. Ela fica próxima à estação ferroviária central, onde até 1991 ficava a fundação católica São Guido.

Depois que esta fechou suas portas, o mesmo acabou acontecendo com a igreja ao lado. Naquele mesmo ano, judeus recém-chegados a Speyer fundavam sua associação cultural. Para eles, o arquiteto Alfred Jacoby, especialista em sinagogas, transformou a igreja abandonada num templo judaico. Jacoby achou "especialmente interessante" implantar a cultura judaica no local. "Meu projeto cria uma relação com a história cristã de Speyer", diz ele.

Na noite desta quarta-feira (09/11), a nova sinagoga de Speyer foi inaugurada com a presença do presidente alemão, Christian Wulff. A data escolhida lembra a noite do progrom de 1938, quando sinagogas foram incendiadas por adeptos do nazismo em toda a Alemanha. Também o templo de Speyer foi destruído naquela noite.

A cidade de Speyer tem importância histórica para os judeus europeus, que já viviam no local há mais de mil anos. Nos séculos 11 e 13, eles foram os grandes responsáveis pelo crescimento da cidade, chamada então de Jerusalém do Reno e que foi também um importante centro de ensino religioso judaico.

Caminho "kosher"

A localização da nova sinagoga colocou a comunidade judaica frente a um problema teológico. "Supunhamos que aqui havia antigas sepulturas", explica Nemirovski. "Antigamente era comum entre os cristãos enterrar seus mortos diretamente ao lado da igreja", diz o rabino Zeev-Wolf Rubins, responsável pela comunidade religiosa de Speyer.

"Eu me preocupei com os kohanim", diz ele. Esses sacerdotes realizam serviços especiais nas sinagogas e devem se manter puros e distantes dos mortos. Por isso não podem entrar em cemitérios, nem mesmo judaicos. Eles próprios são enterrados em campos especiais.

Synagogen in Deutschland Speyer
Sala de orações em obrasFoto: picture alliance/dpa

Depois de cuidadosas avaliações, o caminho que leva à sinagoga foi declarado como sendo kosher, já que as sepulturas foram localizadas e removidas.

Dificuldades da vida comunitária

Antes da inauguração da sinagoga, os judeus de Speyer vinham usando um prédio de escritórios da cidade, que pertence à comunidade, como local de orações.

"Encontrávamo-nos lá duas vezes ao mês, às sextas-feiras à noite e aos sábados. Em dois sábados as orações eram feitas em Ludwigshafen", relata o vice-diretor Georgij Aschkenasi. Segundo ele, poucos entre os 80 membros da comunidade comparecem aos rituais religiosos. "Muitos homens entre nós estão idosos e doentes. O rabino Rubins os visita toda quinta-feira e em alguns feriados judaicos", conta Aschkenasi.

Ele espera que, com a nova sinagoga, seja possível um "minian", ou seja, dez homens judeus, maiores, para um culto religioso ortodoxo.

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Entrada para o banho judaico, em ruínas de antiga sinagogaFoto: picture alliance/dpa

Briga pela "casa da paz“

Também a associação Comunidade Judaica de Speyer gostaria de celebrar seus cultos religiosos na nova sinagoga. A presidente Juliana Korovai lembra que já em 1998 a associação pretendia levar adiante um projeto semelhante de construção de uma sinagoga.

"Esperamos muito que esta sinagoga fique aberta para nós. Temos diferenças em questões religiosas. Não consideramos a comunidade como sendo suficientemente religiosa", observa ela. Peter Waldmann, diretor estadual da Comunidade Judaica da Renânia-Palatinado, fala, ao contrário, da "Comunidade Abstrata de Korovai", que ele "nunca pôde visitar".

O diretor administrativo Nemirovski acentua, contudo, que a sinagoga está aberta para todos os judeus que queiram orar – e a todos que queiram participar de atividades comunitárias, também aos não-judeus.

Como símbolo da reconciliação, o novo templo judaico deverá receber o nome de Beith Shalom. As palavras em hebraico significam algo como "casa da paz". Entretanto, Nemirovski não pretende disponibilizar à associação de Korovai espaços próprios na nova sinagoga.

Patrimônio cultural da humanidade

A cidade de Speyer empenha-se, há anos, pela preservação dos rastros extraordinários da história judaica. O Museu Judaico, inaugurado em 2010, tornou-se, ao lado do "Cemitério Judaico" medieval, uma atração turística.

A prefeitura contribuiu com um terço dos custos de construção da nova sinagoga, orçada em 3,5 milhões de euros. A comunidade judaica, que irá mudar sua sede administrativa para o novo prédio, e o estado da Renânia-Palatinado, contribuíram com os dois outros terços.

Entretanto, não é apenas esta nova sinagoga que traz esperança aos judeus de Speyer em relação ao futuro. Ali está também uma história judaica especial, que se reflete nas ruínas da antiga sinagoga, destruída pelos nazistas em 1938. Ali está também a mikvá, o ritual do banho judaico, completamente preservado, que em breve deverá recuperar sua função original. Ambos foram construídos no século 12.

Synagoge Speyer Religion Judentum Jüdische Gemeinde Gedenktafel Flash-Galerie
Placa em memória dos judeus mortos no Holocausto na sinagoga de SpeyerFoto: Creative Commons/James Steakley

No segundo semestre de 2012, Speyer, Mainz e Worms, que eram os centros judaicos mais importantes na Alemanha durante a Idade Média, irão se candidatar, com sua herança judaica, a patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. Isso faz com que todos os moradores de Speyer se sintam um pouco orgulhosos. Eles esperam que essa iniciativa não seja prejudicada por uma briga interna dentro da comunidade judaica.

Autor: Igal Avidan (sv)
Revisão: Alexandre Schossler