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Alemanha investiga abusos em abrigo de refugiados

Sabrina Pabst / Anja Fähnle (ca)30 de setembro de 2014

Funcionários de uma empresa de segurança são acusados de maltratar refugiados, em escândalo que gerou debate no país sobre uso da privatização no setor como forma de economizar.

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Foto: Reuters/Wolfgang Rattay

Um homem está sentado ao lado de restos de vômito sobre um colchão. Sob ameaça de agressão, ele é obrigado a se deitar. O vídeo, gravado num celular, dura de 10 a 15 segundos. Outro homem aparece deitado no chão com as mãos atadas atrás das costas. Dois guardas uniformizados estão de pé ao seu lado, e um deles põe o pé sobre seu pescoço.

O homem no chão seria um argelino de 20 anos. O vídeo foi gravado num abrigo de emergência para refugiados em Burbach, no estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália. Lá, quatro guardas teriam maltratado e humilhado refugiados. Junto a dois deles, os investigadores encontraram armas proibidas, como cassetetes.

Investigação

De acordo com a emissora alemã WDR, também na cidade de Essen, guardas teriam maltratado os refugiados durante duas semanas. Lá foram registradas três queixas por agressão corporal.

Gewalt auf Flüchtlinge
Vídeo mostra maltratos a refugiados em BurbachFoto: Polizei NRW/dpa

Desde o último fim de semana, a polícia e o Ministério Público investigam quatro suspeitos e outros incidentes em abrigos de refugiados também em outras cidades.

Além de organizações humanitárias independentes, como Caritas e Malteser, empresas privadas também operam abrigos de refugiados na Renânia do Norte-Vestfália, que são apoiados financeiramente pelos municípios. No caso de Burbach, trata-se da firma European Homecare. Segundo a WDR, a empresa opera seis dos 17 abrigos do estado.

Uma vez que os municípios não cobrem todos os custos, os responsáveis pelos alojamentos tentam operá-los da forma mais barata possível. Para tal, contratam-se empresas terceirizadas, que cuidam, por exemplo, da segurança dos refugiados.

Opção mais barata

O vice-presidente da Federação dos Criminalistas Alemães, Sebastian Fiedler, disse que observa essa tendência na Renânia do Norte-Vestfália há algum tempo. Na área de segurança interna, a privatização continua crescendo sem que se note, afirma. Fiedler argumenta que não é a qualidade do pessoal que está em primeiro plano, mas o salário. Funcionários não qualificados são mais baratos do que profissionais qualificados.

"O problema é que casos individuais não são controlados com precisão. Também não se controlam quais qualificações essas pessoas têm, tampouco o passado que trazem. No caso de Burbach, ficou evidente que havia um passado criminoso relevante", diz.

Sebastian Fiedler Bund Deutscher Kriminalbeamter
Sebastian Fiedler disse ver tendência contínua e insidiosa de privatização do EstadoFoto: Sebastian Fiedler

Segundo informações da WDR, dois dos quatro suspeitos são conhecidos da polícia, entre outros, devido a violações contra a lei de entorpecentes e agressão corporal. Por esse motivo, Fiedler critica veementemente as autoridades responsáveis.

"O mais escandaloso é que isso atinge precisamente aqueles que já têm uma longa história de sofrimento. Eles vieram à Alemanha para procurar proteção e pedir asilo. E justamente aqui, o Estado alemão não é capaz de garantir a segurança. Em vez disso, o governo economiza onde pode e não presta atenção em quem contrata", afirma.

Negócios em expansão

Na verdade, os municípios são os responsáveis pela segurança dos refugiados. Mas, devido à falta de dinheiro, o poder público não pode empregar um número suficiente de funcionários e precisa então recorrer a empresas privadas e de baixo custo.

O procedimento é criticado pelo chefe do Sindicato dos Policiais da Alemanha, Rainer Wendt. Em entrevista à DW, ele destaca que as consequências já podem ser vistas em Burbach e Essen.

"Se essas tarefas são entregues sem controle a empresas privadas, acontece o óbvio: subcontratados são empregados com salários baixos", alerta Wendt. "Bem-vindos ao magro Estado privatizado", concluiu o sindicalista.

Wendt defende que as prefeituras recebam mais dinheiro para poder empregar, também para trabalhos temporários, pessoal em abrigos de refugiados.

Padrões desrespeitados

Segundo repórteres da WDR, o rápido crescimento da European Homecare se deve à economia de pessoal. O fato de a empresa privada de segurança ter só empregado funcionários não qualificados possibilitou o elevado ganho financeiro.

Ehemalige Kaserne für Flüchtlinge in Doberlug-Kirchhain 2014
Antigas casernas militares são usadas como abrigo para refugiados na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/Patrick Pleul

Durante suas pesquisas, os repórteres não encontraram pessoal especializado como psicólogos ou assistentes sociais. No entanto, esta é uma das condições impostas pelo estado da Renânia do Norte-Vestfália para se operar os abrigos.

Em comunicado, a European Homecare afirmou que os elevados padrões não podem ser cumpridos devido ao crescente número de refugiados. E uma porta-voz da empresa garantiu à emissora ZDF que, para se evitar incidentes semelhantes no futuro, novos padrões já foram definidos.

O governo distrital de Arnsberg, responsável pelo abrigo de refugiados em Burbach, estabeleceu agora que somente funcionários com atestado de antecedentes criminais sem registros podem cuidar da proteção dos refugiados. Além disso, foi determinado o pagamento de salário mínimo.