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Alemanha quer mediar Mercosul-UE

Simone de Mello, de Berlim27 de janeiro de 2003

Em encontro com Lula, coordenador do Grupo de Trabalho do Bundestag sobre a América Latina mostrou-se preocupado com o risco de o Brasil priorizar as relações com a Alca, em detrimento da UE.

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Agricultores europeus, na linha de frente da resistência ao acordo com o MercosulFoto: AP

Quanto às relações bilaterais, não há problema entre o Brasil e a Alemanha, constatou o deputado alemão Lothar Mark (SPD), coordenador do grupo de parlamentares dedicados à América Latina, após uma conversa com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Berlim. No entanto, ao que parece, Berlim e Brasília ainda terão que encontrar uma forma de instrumentalizar estas boas relações para promover avanços nas negociações entre as alianças regionais, ou seja, entre Mercosul e União Européia.

Alca igualitária depende da UE

Em entrevista à DW-WORLD, o político social-democrata, coordenador do Grupo Parlamentar de Trabalho sobre a América Latina, reagiu com apreensão à recente avaliação do ministro do Exterior Celso Amorim, que considera as negociações do Mercosul com a UE mais complexas do que com a Alca. No encontro desta segunda-feira (27) com Lula, Mark tentou destacar a importância da União Européia como contraponto das negociações entre Mercosul e Alca:

"Concordamos que a posição do Brasil deva ser reforçada, a fim de que as negociações com os EUA sejam de igual para igual. O Brasil é o único país capaz de defender os interesses da América Latina no bloco." Para Mark, a alternativa de aproximação com a UE "serviria de respaldo para o Brasil poder fazer resistência no processo de negociação sobre Área de Livre Comércio das Américas".

No entanto, esta aproximação depende de um antigo dilema, o protecionismo agrícola europeu. "Não faz sentido as relações entre os dois blocos econômicos estagnarem só por causa do setor agrícola", constata Mark, acrescentando que a Alemanha pode exercer uma pressão maior sobre os outros países europeus que defendem uma política protecionista, como França, Espanha, Itália, entre outros.

"Precisamos deixar claro que corremos o risco de perder a América Latina como parceira econômica, não só no setor agrícola, mas também no industrial". É com este argumento que Berlim pretende conseguir concessões dentro da UE.

"Fome Zero" sem ressonância imediata

Quanto ao apoio da Alemanha à idéia de criação de um fundo internacional de combate à fome, lançada por Lula no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Lothar Mark não mencionou nenhuma alternativa paralela à atual política de ajuda ao desenvolvimento. Neste sentido, permanece a antiga meta de elevar as verbas de ajuda ao desenvolvimento para 0,7% do PIB alemão a médio prazo.

Em resumo, o interlocutor da América Latina no Bundestag não anunciou alteração alguma na política bilateral já existente com o governo anterior de Fernando Henrique Cardoso. Até mesmo o desequilíbrio da balança comercial entre Brasil e Alemanha depende de decisões da União Européia, assinalou Mark.

O único papel que a Alemanha pretende assumir de forma mais decidida é o de mediadora dentro da UE, predispondo-se também a servir de ponte para os países do Leste Europeu a ingressarem na comunidade em 2004. Das questões políticas mais urgentes, a única absolutamente consensual entre Brasília e Berlim é o "não" a uma guerra contra o Iraque, que não carece de discussão.