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Alemanha em campo brasileiro

11 de março de 2010

O ministro alemão do Exterior pleiteia no Brasil a entrada de seu país no time que vai preparar terreno para a Copa de 2014 e a Rio-2016. O momento é propício ao ataque: do lado brasileiro, há demanda e receptividade.

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Expectativa para Copa do Mundo 2014 é grandeFoto: AP

O debate sobre a participação alemã na Copa do Mundo de Futebol em 2014 já foi intenso no ano passado, quando o então ministro da Economia, Karl-Theodor zu Guttenberg, participou no Brasil do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, em Vitória.

De lá para cá, as Olimpíadas Rio-2016 tornaram a equação ainda mais interessante, e agora é o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, que está no Brasil para garantir que a Alemanha não fique de fora desse jogo. Mas o que se espera dos players alemães em campo brasileiro?

Westerwelle und Amorim
Ministro Celso Amorim (e) ao lado de Guido Westerwelle, em BrasíliaFoto: AP

Dada a experiência da Alemanha na organização de grandes eventos, sobretudo a Copa de 2006, é evidente que o Brasil tem interesse de sobra em partilhar dessa expertise, diz Amaury Temporal. Diretor do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), ele acredita que o país tenha todas as credenciais para participar do esforço necessário a adaptar a infraestrutura brasileira para esses dois grandes eventos. No entanto, "isso não pode ser feito assim, numa viagem, um passeio. É preciso ter uma abordagem sistêmica para que as pessoas se deem conta das oportunidades de negócios, e de como elas podem participar desse processo".

Para garantir que a entrada dos alemães em campo não dependa da iniciativa alemã, a Firjan e a Câmara de Comércio Brasil-Alemanha (AHK) promovem, em 25 e 26 de março, uma missão brasileira na Alemanha. Representantes da prefeitura e do governo do Estado do Rio de Janeiro, bem como da Firjan, farão dois dias de seminário sobre a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o primeiro em Munique e o segundo em Hamburgo. "É preciso que o tráfego na ponte não seja só da Alemanha para cá", frisa ele.

Em 2010, 40 delegações alemãs no Brasil

Amaury Temporal
Amaury Temporal, diretor da FirjanFoto: Firjan

E o tráfego vem sendo intenso: de acordo com Weber Porto, presidente da AHK-São Paulo, além da delegação que acompanha Westerwelle, outras 40 delegações da Alemanha terão vindo ao Brasil até o fim deste ano. Na manhã desta quinta-feira mesmo, Amaury Temporal falou a um grupo de 70 empresários de Baixa Saxônia e da Germany Trade and Invest (Gtai) interessados em investir no Brasil, num evento promovido pela AHK-Rio. "Este é o momento de firmar parcerias", destaca Temporal, lembrando que os contratos para as Olimpíadas só começarão a ser assinados daqui a alguns meses, depois que for instituída a governança para os Jogos de 2016.

O que se espera da Alemanha são principalmente investimentos na área de infraestrutura. Em entrevista à rádio Deutsche Welle, a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, diretora do departamento Europa do Itamaraty, citou os setores mais propícios a parcerias com o país. "Eu destacaria a área de portos, aeroportos, ferrovias, o trem de alta velocidade [...] e também há um interesse muito grande na remodelação de estádios com vista à Copa de 2014", diz ela, que cuida dos relacionamentos bilaterais entre o Brasil e os países europeus.

De fato, no quesito estádios, uma empresa alemã já está com a participação garantida: a GMP, escritório de arquitetura conhecido principalmente por sua expertise no assunto, está elaborando projetos para quatro dos 12 estádios que vão abrigar as partidas em 2014: Manaus, Belo Horizonte (o Mineirão), São Paulo (o Morumbi) e Brasília (o Mané Garrincha). O primeiro será construído do zero, para 44 mil espectadores, enquanto nos últimos três os projetos vão adequar os estádios às rigorosas exigências da Fifa, sempre em parceria com escritórios locais.

Referência para Copa, mas não para Olimpíadas

Fußball-WM 2006 Olympiastadion Berlin
Estádio Olímpico de BerlimFoto: dpa

Ralf Amann, diretor da GMP do Brasil, passou um ano fazendo contatos e apresentando propostas até conseguir firmar as parcerias. "O mercado brasileiro é um pouco protecionista, não foi tão fácil assim. Mas no fim conseguimos graças ao portfólio da GMP", conta, ressaltando que o escritório realizou projetos para três estádios do mundial alemão (Berlim, Frankurt e Colônia) e outros três para o sul-africano (Cidade do Cabo, Durban e Port Elizabeth).

Se por um lado a expertise adquirida na Copa de 2006 garante à Alemanha um belo cartão de visita para parcerias visando 2014, quando se fala nas Olimpíadas, a relação ainda tem que ser cultivada. Isso porque as atenções do comitê organizador da Rio-2016 se voltam primordialmente a outros países. "O comitê está procurando aprender de países que sediaram jogos olímpicos recentemente. Por isso, vai muito para Londres, por exemplo, e esteve agora em Vancouver, durante os Jogos de Inverno. Com a Alemanha, não tem nada muito encaminhado", afirma Saint-Clair Milesi, diretor de comunicações da Rio-2016.

Autoridades alemãs e brasileiras à mesma mesa no Rio

Obras de construção e adaptação em todos os estádios e melhorias em infraestrutura poderão ser financiadas pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), que também vê com bons olhos a participação alemã. Segundo a avaliação do banco, a experiência da Alemanha na organização de grandes eventos pode ser aproveitada pelo Brasil. Com a missão de promover o desenvolvimento interno do país, o BNDES não financia projetos de empresas internacionais que não sejam estabelecidas no Brasil. Considerando-se que 1.200 empresas alemãs têm sede no país, porém, a margem de manobra é bastante ampla.

Segundo a assessoria de imprensa do BNDES, o encontro a ser realizado no Rio nesta sexta-feira pode ser um bom ponto de partida para deslanchar essa cooperação. Trata-se do 1º Simpósio de Desenvolvimento Urbano – Mega Eventos Esportivos e Desenvolvimento Urbano Sustentável, com a discussão toda voltada para a realização da Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, reunindo a delegação de Guido Westerwelle e autoridades governamentais brasileiras. Será o último dia de Westerwelle no Brasil: sua visita começou quarta-feira, quando se encontrou com Celso Amorim em Brasília, e seguiu para São Paulo nesta quinta-feira, onde cumpriu agenda de visita à Siemens, à AHK-SP e à escola alemã Visconde de Porto Seguro.

Autora: Júlia Dias Carneiro
Revisão: Augusto Valente