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Alemanha registra quarto surto de covid-19 em frigoríficos

18 de maio de 2020

Mais de 90 funcionários de abatedouro no estado da Baixa Saxônia testaram positivo para o novo coronavírus. Pandemia expõe péssimas condições de trabalho e de alojamento nestes locais.

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Porcos pendurados em frigorífico na Alemanha
Centenas de trabalhadores testaram positivo para coronavírus em frigoríficos alemãesFoto: picture-alliance/dpa/M. Assanimoghaddam

Outro grande surto de coronavírus foi identificado num abatedouro alemão nesta segunda-feira (18/05). Esse é o quarto caso semelhante registrado em instalações de processamento de carne na Alemanha em apenas duas semanas.

Desta vez, ao menos 92 trabalhadores de um matadouro em Dissen, na Baixa Saxônia, testaram positivo para covid-19, anunciou a prefeitura de Osnabrück. Os infectados e os membros de suas famílias foram colocados em quarentena e a produção foi interrompida.

O "gabinete de crise do coronavírus" do governo alemão planeja discutir mudanças nos regulamentos de segurança no trabalho, com especial atenção aos abatedouros. Surgiram preocupações em relação às condições de trabalho e de vida em frigoríficos, nos quais grande parte dos trabalhadores é temporária e vem de países do Leste Europeu, o que possibilita a carne barata vendida na Alemanha.

No entanto, a reunião planejada para esta segunda-feira sobre as condições de trabalho nas instalações de processamento de carne do país foi adiada para a próxima quarta-feira.

Segundo a imprensa, o ministro alemão do Trabalho, Hubertus Heil, pretende banir amplamente esse tipo de contrato trabalhista em matadouros e deseja alterar a lei de segurança no trabalho. Isso tornaria mais difícil a atuação de terceirizadas que fornecem mão de obra de países da União Europeia com salários baixos e em condições adversas de trabalho.

Apesar das práticas de trabalho precárias e das péssimas condições de moradia dos trabalhadores estrangeiros ‒ vindos principalmente da Polônia, Romênia e Bulgária ‒ serem conhecidas há anos, até esses surtos, quase nada foi feito para mudar essa situação.

Nas últimas duas semanas, frigoríficos nos estados de Schleswig-Holstein e Renânia do Norte-Vestfália também tiveram que fechar depois que centenas de trabalhadores testaram positivo para o coronavírus.

Trabalhadores saudáveis se queixaram de que estão sendo forçados a ficar em quarentena em seus espaços de moradia degradados, sem orientação de seus superiores sobre quando terão permissão para sair ou se serão pagos durante esse período.

Muitos dos trabalhadores estrangeiros são colocados "em alojamentos coletivos lotados e cheios de mofo, e em locais caindo aos pedaços", não há como manter as regras de distanciamento, denunciou o padre Peter Kossen ao protestar em frente a um matadouro no município de Coesfeld, onde ocorreu um dos surtos na Renânia do Norte-Vestfália. O mesmo se aplica aos "ônibus superlotados em que os empregados são transportados até a fábrica de carne", disse.

Ninguém se sente realmente responsável pela proteção dos trabalhadores estrangeiros, acusa Anne-Monika Spallek, porta-voz do Partido Verde em Coesfeld. A problemática é "empurrada de um lado para o outros entre as comunidades, o município e o estado da Renânia do Norte-Vestfália."

Spallek critica os matadouros que jogam para as empresas intermediadoras de mão de obra a responsabilidade de alojar os estrangeiros, e duvida que estas sempre sigam as determinações legais, incluindo as medidas de desinfecção para acomodações conjuntas.

O decreto relativo ao assunto prevê dormitórios individuais, e que os infectados sejam isolados o mais cedo possível. Empregados de quarentena têm que ser abastecidos com alimentos e outros gêneros de primeira necessidade, explica a política verde.

Na Renânia do Norte-Vestfália, um total de cerca de 20 mil funcionários foram testados para o Sars-CoV-2, patógeno da covid-19, em todos os 85 matadouros ‒ até agora, 370 testes foram positivos e quase 9 mil negativos. O Sindicato de Estabelecimentos de Restauração (NGG) na Alemanha instou a uma "reforma fundamental" da indústria de carne.

O NGG afirma que as empresas não devem mais "entregar o abate a duvidosas empresas de baixo custo e, portanto, terceirizar a responsabilidade", disse o vice-presidente do sindicato, Freddy Adjan, aos jornais do grupo de mídia Funke, apontando que essas firmas "colocam inescrupulosamente em risco a saúde de dezenas de milhares de pessoas."

Os surtos de covid-19 em frigoríficos não são exclusivos da Alemanha. Na semana passada, o Rio Grande do Sul também registrou casos em pelo menos 12 estabelecimentos deste tipo. Foram contabilizadas quase 250 infecções confirmadas entre funcionários e cerca de 20 mil trabalhadores expostos, segundo a Secretaria de Saúde do estado.

Nos Estados Unidos, um surto levou ao fechamento em abril de uma unidade do frigorífico brasileiro JBS em Greeley, no Colorado, onde ao menos um funcionário morreu por covid-19. Instalações de processamento de carne de outras empresas, como a Tyson e Cargill, também foram fechadas em outras regiões dos EUA.

CA/afp/dpa/rtr/dw/ots

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