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Altötting, o coração católico da Baviera

(gh)9 de setembro de 2006

Culto e comércio religioso convivem em Altötting, uma pérola da arquitetura barroca, que recebe mais de um milhão de peregrinos por ano. Bento 16 é o terceiro papa a visitar a cidade.

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Altötting: ao fundo, os Alpes bávarosFoto: H.Heine/Verkehrsbüro Altötting

Noventa quilômetros a leste de Munique, não muito distante dos lagos e picos alpinos que formam o clichê alviceleste da Baviera, numa região salpicada de mosteiros, castelos e fortalezas, bate o coração do Estado mais católico da Alemanha. É em Altötting, uma cidade barroca de pouco mais de 12 mil habitantes, considerada um dos principais centros de peregrinação da Europa.

Quem quiser entender a onipresença do fator religioso em Altötting tem de descobrir as raízes históricas da cidade. O início do povoamento da região remonta ao período entre 1250 a 750 antes de Cristo. Arqueólogos supõem que a atual praça central (Kapellplaz) ao longo dos séculos sempre foi um local de culto.

Provavelmente, os primeiros rituais partiram dos celtas, que extraíam sal nas vizinhas Hallein e Reichenhall. Depois vieram os romanos, que em 748 incluíram Ötting (em latim, Autingas) na rota que ligava Salzburgo (hoje Áustria) a Passau.

Autingas teve seu apogeu entre 865 e 880, quando o rei Karlmann, um bisneto de Carlos Magno, fixou residência no local para reinar sobre a Baviera e Itália. Somente em 1224, com a fundação de Neuötting, um centro comercial à beira do Rio Inn, o antigo povoado passou a se chamar Altötting.

Milagre ou mito?

Trachtenzug auf dem Kapellplatz in Altötting H.Heine/Verkehrsbüro
Desfile com trajes típicos da Baviera diante da GnadenkapelleFoto: H.Heine/Verkehrsbüro Altötting

A fama internacional de Altötting como santuário mariano tem origem no século 15. Conta a lenda que em 1489 ocorreu o seguinte milagre: um menino de três anos caiu no Rio Mörnbach e se afogou. Após o resgate, a mãe desesperada deitou o cadáver sobre o altar na capela dedicada a Santa Maria e, junto com outros féis, começou a rezar pela salvação do filho. Pouco depois, o menino voltou a viver. Mais tarde, ele teria sido ordenado padre.

Desde então, tornou-se costume visitar a capela para pedir ajuda a Santa Maria, uma devoção que atrai mais de um milhão de católicos por ano à cidade, 200 mil só na semana de Pentecostes. As paredes da Gnadenkapelle (Capela da Misericórdia), onde se encontra uma escultura em madeira de tília representando uma Nossa Senhora negra com um menino no colo, estão cobertas por quadros em que os fiéis agradecem por pedidos supostamente atendidos.

Ao sul da Gnadenkapelle, encontra-se a Igreja de São Felipe e São Tiago, construída em estilo gótico entre 1499 e 1511, para acolher o crescente número de romeiros. No começo do século passado (1910–1912), foi erguida a Basílica de Santa Ana, um templo neobarroco com capacidade para oito mil pessoas. O conjunto de edifícios religiosos é completado pela Igreja de Santa Madalena e pelo Mosteiro de São Conrado.

Comércio religioso

Os milagres desta "cidade voltada para o além" parecem estar no ar e na água retirada do poço de São Conrado e guardada em garrafinhas, porque os peregrinos acreditam que ela cura diversas doenças. Exatamente como eles crêem que Nossa Senhora já salvou crianças à beira da morte, ajudou um agricultor atropelado pelo trator ou apagou um incêndio no armazém.

Também o atual papa foi visitante assíduo de Altötting desde sua infância. Até hoje ele se empolga ao falar da "Madona negra", das igrejas e lojas de suvenires, com seu kitsch cristão, que inclui desde crucifixos de plástico, cartões-postais, velas até mel produzido pelo mosteiro.

Lichterprozession in Altötting Copy: H.Heine/Verkehrsbüro Altötting
Procissão religiosa rumo ao santuário de MariaFoto: H.Heine/Verkehrsbüro Altötting

O centro de atendimento aos peregrinos combina comércio com show e relações públicas cristãs para satisfazer a centenária piedade das massas. Altötting parece estar muito próxima do que críticos chamam de "Baviera imaginária" de Bento 16: católica, barroca, de uma religiosidade simples, com procissões luminosas semelhantes às que o pequeno Joseph Ratzinger seguiu em sua cidade natal Martkl.

Visitas de papas e corações de reis

Por isso, a visita a Altötting, na próxima segunda-feira (11/09), é considerada o ponto alto da viagem de Bento 16 à Baviera, de 9 a 14 de setembro. Dois de seus antecessores também passaram por lá: Pio 6º, em 1782, e João Paulo 2º, em 1980. Joseph Ratzinger recebeu este ano o título de "cidadão honorário" da cidade.

Altötting também tem sido um ponto de encontro dos poderosos de plantão, que não vinham só para rezar. Ali foram fechados acordos políticos, como uma aliança formada em 1681 para conter o avanço turco na Europa.

Prova dessa devoção da nobreza são os corações dos reis da casa Wittelsbach, conservados em urnas de prata enfileiradas ao redor da "Madona negra" na Gnadenkapelle. Ainda em vida, eles haviam prometido que permaneceriam para sempre postados como vigias e oradores diante de Nossa Senhora.

Na capela estão enterrados os corações de dez soberanos bávaros, três outros príncipes, 11 princesas e cinco bispos. Diz-se que foi daí que nasceu o slogan "Altötting, o coração da Baviera".