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Executivos ganham demais

10 de dezembro de 2007

Presidente Horst Köhler e chanceler Angela Merkel criticam os valores pagos aos executivos alemães e dizem que eles são percebidos como injustos pela população. Governo não planeja impor limites legais.

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O executivo Wendelin Wiedeking, da Porsche, recebe 60 milhões de euros por anoFoto: AP

Em mais um capítulo de um debate que já dura quase duas semanas, o governo alemão anunciou nesta segunda-feira (10/12) que não planeja impor restrições legais aos altos salários dos executivos alemães. Segundo o vice-porta-voz do governo, Thomas Steg, o valor dos salários é um tema para as empresas e os seus conselhos de administração.

Steg afirmou que as declarações da chanceler federal Angela Merkel, que criticou os altos valores pagos a executivos, tinham por objetivo fomentar o debate sobre o assunto.

Ainda assim, o SPD (um dos partidos que compõem a grande coalizão que governa a Alemanha) instituiu nesta segunda-feira um grupo de trabalho para avaliar se, no caso das indenizações pagas a executivos por rompimento de contrato, é possível limitar o valor que pode ser abatido do imposto devido pelas empresas. Hoje, as empresas podem descontar as indenizações dos seus impostos.

"Não queremos limitar por lei o valor dos salários, nem mesmo dos executivos. Mas as regras devem fazer sentido", afirmou o presidente do SPD, Kurt Beck. Para ele, o pagamento de indenizações milionárias a executivos por rompimento de contrato fere o sentimento de justiça de muitas pessoas.

Especialistas também vêem com ceticismo a possibilidade de limitar salários por lei. Para o economista Georg Schreyögg, da Universidade Livre de Berlim, tal limitação é contrária ao Princípio da Liberdade de Contrato vigente na Alemanha e que, na avaliação do especialista, é um dos pilares da economia de mercado.

Mas uma sondagem publicada pelo jornal Bild am Sonntag mostrou que 65% dos entrevistados são a favor de um limite legal para os salários dos executivos.

Críticas de Köhler

Horst Köhler hält seine Berliner Rede
Horst Köhler: sentimento de injustiça na populaçãoFoto: AP

O debate em torno dos salários dos executivos começou no final de novembro, após o presidente Horst Köhler criticar os valores pagos ao comando das grandes empresas alemãs. "Entre a população há a compreensível sensação de que algo está errado quando os salários de uns aumentam e dos outros permanecem estagnados", afirmou o presidente em entrevista ao diário Handelsblatt. Ele disse perceber um distanciamento entre empresas e sociedade.

Köhler afirmou que a Alemanha precisa de "liderança moral por parte de empresários íntegros" e exigiu uma "cultura da moderação e do exemplo no nível de liderança das nossas empresas". Para ele, os líderes da economia alemã devem entender que seu comportamento tem conseqüências na estabilidade da sociedade.

Poucos dias depois, Merkel fez coro às palavras do presidente. "Quando o fracasso dos altos dirigentes é recompensado com indenizações fantásticas, isso enterra a confiança na justiça social do nosso país", disse em discurso durante a convenção da CDU em Hannover. "Por que encher de dinheiro alguém que fracassou totalmente?"

O presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana na Alemanha (EKD), bispo Wolfgang Huber, também fez críticas aos altos salários dos executivos. "Quando o salário de uma pessoa é suficiente para financiar mais de cem postos de trabalho e ao mesmo tempo postos de trabalho são eliminados para cortar gastos, isso liqüida com toda noção de justiça", afirmou ao jornal Bild am Sonntag.

Executivos se explicam

Alguns executivos defenderam publicamente seus salários. O presidente da Continental, Manfred Wennemer, disse ao Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung que seus vencimentos de 4 milhões de euros anuais são coerentes com a boa situação da empresa. Mas Wennemer disse entender as críticas a alguns empresários. "Alguns valores também me deixam em dúvida."

Deutschland Wirtschaft Siemens Klaus Kleinfeld geht
Indenização a Klaus Kleinfeld criou polêmicaFoto: AP

O presidente da Deutsche Telekom, René Obermann, que receberia 2,6 milhões de euros por ano segundo especulações da imprensa alemã, também disse que seu salário está de acordo com as suas grandes responsabilidades e com a sua jornada de 90 horas semanais.

"Esse é um tema importante", afirmou o presidente da Siemens, Peter Löscher, que recebe pelo menos 4,4 milhões de euros por ano. Löscher substituiu Klaus Kleinfeld no comando do conglomerado alemão. A saída de Kleinfeld causou polêmica porque ele recebeu 6 milhões de euros ao deixar a empresa para prestar consultoria e pela assinatura de uma cláusula que o impede de ir trabalhar para a concorrência.

"Isso é uma omissão do conselho de administração", criticou a advogada Daniela Bergdolt, da Associação Alemã de Proteção aos Acionistas (DSW). Segundo ela, é incompreensível que a chamada cláusula de concorrência não estivesse no contrato original assinado por Kleinfeld. Já a Siemens argumentou que a cláusula existia, mas valia apenas em casos de rompimento de contrato e não se ele simplesmente vencesse.

Segundo a DSW, os presidentes das 30 companhias que compõem o índice DAX, da Bolsa de Frankfurt, receberam em média 3,417 milhões de euros em 2006. O melhor salário entre as empresas do DAX é o do presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, cujos vencimentos anuais somaram 13,2 milhões de euros em 2006.

Mas o maior salário de um executivo alemão seria o de Wendelin Wiedeking, da Porsche, que recebe 60 milhões de euros por ano. Wendeling também defendeu seus vencimentos. Ele argumentou que, em 13 anos, o valor da empresa passou de 300 milhões de euros para 25 bilhões de euros. E os trabalhadores também receberam sua parte: 13,7 salários anuais e um bônus extra de 5,2 mil euros. (as)