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Alvo de homenagem e acusação

ef24 de outubro de 2003

Homenagem a Sérgio Vieira de Mello e Kofi Annan, com o Prêmio Zacharov para a ONU, coincide com divulgação de relatório que acusa a organização de ter arriscado, levianamente, a vida de seus funcionários no Iraque.

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Kofi Annan entre o presidente Lula (esq) e a viúva Gilda Mello, no velório de Sérgio Vieira de MelloFoto: AP

A Organização das Nações Unidas e seu secretário-geral são os detentores do renomado Prêmio Zacharov de 2003, em sinal de respeito pela ação de seus funcionários em defesa da paz, como anunciou o Parlamento Europeu em Estrasburgo. O impulso decisivo para a homenagem foi o atentado a bomba em 19 de agosto contra o quartel-general da ONU em Bagdá, em que morreram o encarregado especial da organização no Iraque, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, e outros 19 funcionários.

Com o Prêmio dotado de 50 mil euros, que Kofi Annan receberá em 29 de janeiro, os deputados da União Européia homenageiam e incentivam a ação das Nações Unidas em defesa dos direitos humanos e contra a repressão em todo o mundo. Sua finalidade específica é também destacar a autoridade da ONU, depois que foi questionada em função da guerra dos Estados Unidos e Grã-Bretanha no Iraque sem um mandato seu. Visa, igualmente, chamar atenção para a importância das Nações Unidas na reestruturação política e reconstrução do país.

Outras duas figuras que se tornaram mundialmente conhecidas por causa do conflito no Iraque, Hans Blix e Mohamed el Baradei, também foram indicados para receber o Prêmio. Blix presidiu a comissão de inspeção da ONU que investigou no Iraque a suspeita de armas atômicas, biológicas e químicas de destruição em massa, levantada principalmente pelos EUA. Baradei é presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, que participou das mesmas inspeções.

O nome do Prêmio Sacharov é uma homenagem ao dissidente soviético mais famoso, pesquisador atômico e Prêmio Nobel da Paz de 1975, Andrei Sacharov, falecido em 1989. Em 2002, o outorgado foi o ativista cubano dos direitos humanos Osvaldo Paya.

Vidas em jogo

– Depois do atentado devastador contra a representação da ONU em Bagdá, Annan mandou fazer uma investigação detalhada dos riscos a que estão expostos os seus funcionários. Agora,
Vieira de Mello gestorben
Sérgio Vieira de MelloFoto: AP
uma comissão independente chefiada pelo ex-presidente da Finlândia, Martti Ahtisaari, apresentou seus resultados inquietantes. Ele escreveu no relatório conclusivo que os responsáveis teriam colocado a vida de centenas de funcionários no Iraque em jogo com uma leviandade irresponsável.

A comissão criticou que, apesar de advertências evidentes, foram desconsideradas regras elementares de segurança. Poucos dias antes da detonação de um caminhão carregado de explosivos, a equipe de segurança da ONU em Bagdá teria sido informada sobre a iminência de um atentado perto do seu complexo de prédios.

O erro mais trágico, segundo a comissão de Ahtisaari, foi a desmontagem das barreiras de segurança que tropas americanas haviam levantado diante do escritório do encarregado especial da ONU, Sérgio Vieira de Mello. Isto contradiz os regulamentos da organização, mas o próprio Vieira de Mello teria feito questão da retirada das barreiras, como símbolo de seu distanciamento das forças de ocupação americanas. Por isso mesmo, o caminhão-bomba conseguiu estacionar debaixo da janela de Vieira de Mello.

Depois do atentado, Kofi Annan dissera que as tropas dos EUA haviam avaliado de maneira errada as condições de segurança em Bagdá, mas voltou atrás depois de saber que as ofertas americanas de mais proteção para as instalações da ONU haviam sido rejeitadas de forma categórica. O relatório incômodo da comissão recomenda um exame de todo o sistema de segurança da ONU e adverte que seus funcionários correm perigo de vida em outras regiões em crise.