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América Latina mira eleição nos EUA à espera de reaproximação

5 de novembro de 2012

Já faz alguns anos que os países latino-americanos estão fora da agenda de prioridades dos Estados Unidos. Obama e Romney não demonstram interesse em mudar essa situação.

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Foto: AP

Quando a presidente Dilma Rousseff desembarcou em Washington em abril passado, ouviu do presidente dos EUA, Barack Obama, uma boa notícia para os brasileiros radicados no país: a cachaça seria reconhecida como produto tipicamente brasileiro, facilitando a importação do principal ingrediente da caipirinha.

À parte a promessa de levar adiante alguns projetos diplomáticos e de afrouxar os procedimentos consulares para turistas brasileiros, a liberalização das barreiras para a importação de cachaça foi o principal resultado do encontro entre os presidentes das duas maiores nações americanas.

Essa situação é sintomática da atual relação entre muitos países latino-americanos e Washington. Por um lado, os Estados Unidos estão visivelmente inseguros diante da autoconfiança e do crescimento econômico dos vizinhos do sul.

Por outro, os latino-americanos, que passaram quase sem abalos pela crise financeira global, estão menos dependentes dos Estados Unidos do que na década passada. Agora, já não esperam que cheguem de Washington grandes ideias ou soluções para os problemas do continente.

Segundo um relatório do centro de estudos americano Inter-American Dialogue, a relação entre as duas partes está cada vez mais distante, e houve um retrocesso na qualidade e na intensidade desse vínculo.

"Quando se trata de seus interesses, a maioria dos países da região vê os Estados Unidos como cada vez menos relevantes. Na visão deles, os Estados Unidos estão menos preparados para desenvolver e pôr em prática estratégias – sobretudo nos assuntos que mais concernem aos latino-americanos", diz o relatório.

Cada vez mais distantes

Principalmente nos temas mais importantes para os latino-americanos – como imigração, combate ao tráfico de drogas e a política para Cuba –, as duas partes estão cada vez mais distantes.

"A incapacidade de Washington de reformar o seu fracassado sistema imigratório é motivo permanente de atrito entre os Estados Unidos e quase todos os outros países americanos”, afirma o estudo do Inter-American Dialogue.

Durante recente visita ao México, a própria secretária de Estado americana, Hillary Clinton, reconheceu que as políticas de imigração dos Estados Unidos são falhas. Além disso, não há um único líder latino-americano que esteja disposto a apoiar o embargo econômico a Cuba, em vigor há mais de cinco décadas.

Apesar disso, não se pode dizer que os países latino-americanos tenham perdido o interesse nas relações com os Estados Unidos. Pelo contrário. Recentemente, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, acusou o governo americano de ter perdido o foco e deixado de lado a região em prol de outros interesses.

"Se os EUA se derem conta de que seus interesses estratégicos de longo prazo não estão no Afeganistão ou no Paquistão, mas na América Latina, teremos grandes resultados", declarou Santos.

Na campanha, faltam propostas

Mas nem Obama nem seu desafiante, o republicano Mitt Romney, parecem ter uma resposta ou uma alternativa para os problemas regionais. Nas primárias republicanas, o endurecimento das leis de imigração foi tema constante de discussão – e isso apesar de o fluxo migratório a partir do México, de onde saem 30% dos estrangeiros radicados nos Estados Unidos, estar perdendo força nos últimos anos.

Também em relação às drogas não há qualquer movimentação do lado americano – durante a campanha, nem Romney nem Obama se aventuraram a abordar a questão da descriminalização. O assunto, no entanto, está cada vez mais em pauta entre os presidentes latino-americanos.

“Se houver consenso, eu poderia debater a legalização da maconha e poderia levar em consideração também a legalização da cocaína", disse Santos em abril, na cúpula da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Uma maior cooperação beneficiaria os dois lados. Para os Estados Unidos, a América Latina é um mercado imenso, repleto de possibilidades de investimento e com grandes fontes de energia e matéria-prima. E a América Latina precisa, apesar de todo o crescimento, do conhecimento e da tecnologia dos americanos. Para essa aproximação, no entanto, será necessário mais do que facilitar a importação da cachaça.

Autor: Marc Koch, de Buenos Aires
Revisão: Alexandre Schossler