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América Latina melhorou o humor de Gerhard Schröder

Assis Mendonça16 de fevereiro de 2002

A viagem do chanceler Schröder à América Latina foi acompanhada com interesse pela imprensa alemã e com escárnio pelos seus adversários políticos.

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O chanceler Gerhard Schröder (esq.), com o presidente mexicano Vicente FoxFoto: AP

Para Edmund Stoiber, governador bávaro e candidato oposicionista a chanceler, o chefe do governo alemão teria viajado ao México, ao Brasil e à Argentina para fugir às turbulências provocadas pela iminente advertência da União Européia contra o elevado déficit orçamentário alemão, prestes a alcançar os limites fixados no Pacto de Estabilidade do euro.

De fato, afirmam jornalistas que acompanharam o chanceler no seu vôo entre Berlim e a Cidade do México, Gerhard Schröder permaneceu toda a viagem trancado na chamada "cabine do chanceler", deixando de cumprimentar pessoalmente seus hóspedes e rompendo assim com um rito tradicional das viagens oficiais. O mau humor do chanceler só melhoraria, segundo integrantes da comitiva, no segundo dia da visita à Cidade do México, depois que Gerhard Schröder recebeu a notícia de que a UE não emitiria o "cartão amarelo" para as finanças públicas alemãs.

Descontração

A partir daí, o chanceler federal alemão começou a tranqüilizar-se e a gozar de fato a hospitalidade latino-americana. Segundo a correspondente da agência alemã DDP, Monika Hinner, Schröder teria se sentido em casa em São Paulo, onde descobriu afinidades com a Baixa Saxônia, Estado alemão do qual foi governador. Descontraído, retribuiu o escárnio do seu desafiante Edmund Stoiber, ironizando a atuação do adversário diante das câmaras de televisão.

Para Thomas Rietig, correspondente da AP, Gerhard Schröder considerou a América Latina, com as suas enormes contradições sociais, como palco ideal para descobrir os componentes sociais da globalização e da luta antiterror. Em meio às "tagarelices diplomáticas usuais", a viagem foi marcada por um conceito ampliado de política externa, voltado para a superação da pobreza mundial, escreveu Rietig em tom irônico.

Promessa ousada

Um balanço fundado da viagem de Gerhard Schröder à América Latina foi publicado pelo diário Die Welt, na forma de um editorial assinado por Hildegard Stausberg, conhecida jornalista alemã, especialista em questões latino-americanas. Sob o moto "A Europa não cuida com suficiente intensidade da América Latina, sua imagem cultural", a articulista descreveu, entre outras coisas, as perspectivas positivas da economia mexicana, que entusiasma as empresas alemãs pelas suas portas abertas para o mercado estadunidense. E citou o fato de que, na Cidade do México, Gerhard Schröder teve de registrar também o outro lado da moeda: desde a integração do país na NAFTA, em meados da década de 90, os europeus perderam fatias importantes do mercado mexicano. "A Europa terá de lutar, se não quiser perder mais terreno", afirma Hildegard Stausberg.

No Brasil, contudo, a situação é distinta, diz a jornalista. Embora negociando o livre comércio em três frentes – com a Organização Mundial do Comércio, com os demais países americanos para a formação da Alca, assim como com a União Européia, em busca do acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul –, a preferência do Brasil é claramente pelo estreitamento das relações com a Europa. Stausberg: "Schröder entendeu isto e ousou prever o fechamento desse acordo até o ano 2003. Para tal, entretanto, ele terá de enfrentar sistematicamente – mais do que até agora – os franceses, que são os salvaguardas do protecionismo agrário europeu."