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Anti-semitismo na democracia cristã

(ns)3 de novembro de 2003

O deputado da União Democrata Cristã (CDU) Martin Hohmann considerou os judeus "um povo de criminosos", desencadeando inúmeros protestos, que poderão custar-lhe até seu mandato.

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Hohmann, protagonista do novo escândalo anti-semitaFoto: DPA

O Conselho Central dos Judeus exigiu a expulsão de Hohmann da bancada democrata-cristã e anunciou que irá abrir uma queixa-crime contra o deputado. O fato de Hohmann ter relativizado suas declarações não significa que se possa levar a sério suas desculpas. A organização que representa a comunidade judaica na Alemanha considera inadmissível que Hohmann continue sendo membro da fundação encarregada da indenização aos que prestaram trabalhos forçados durante o nazismo.

Bolchevistas e judeus

Foram principalmente bolchevistas de origem judia que cometeram os crimes na revolução russa de 1917, disse Martin Hohmann num discurso em sua cidade natal. "Havia um grande número de judeus tanto na liderança como nos comandos de fuzilamento. Por isso, poder-se-ia caracterizar os judeus, com certa legitimidade, de um povo de criminosos. Isso pode parecer estarrecedor. Mas seguiria a mesma lógica de quando se caracteriza os alemães de um povo de criminosos."

Segundo o deputado, a imprensa destacou apenas essa parte. Mas em seu discurso, ele conclui que os crimes dos bolchevistas e dos nacional-socialistas tinham como elemento comum a anti-religiosidade e o ateísmo. "Por isso, nem 'os alemães', nem 'os judeus' são um povo de criminosos. Com toda razão pode-se dizer que as ideologias ateístas foram o povo criminoso do último e sangrento século."

Desculpas não anulam delito

Hohmann, que é major da reserva e já se destacou por suas tiradas moralistas contra os homossexuais, no início defendeu-se, mas acabou se desculpando ante as pressões, principalmente do governador Roland Koch. "Não era minha intenção negar o fenômeno único que foi o Holocausto. Não era a minha intenção chamar os judeus de povo de criminosos. Se por ventura essa foi a impressão causada, eu me desculpo expressamente e lamento ter ferido sentimentos."

Usar o Holocausto numa comparação sem cabimento é o mesmo que minimizar o genocídio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. E constituiu crime na Alemanha, o que Hohmann bem sabe, pois é advogado. Para Volker Beck, porta-voz da bancada verde no Parlamento, a CDU deveria expulsar Hohmann. O deputado deveria se desculpar por todo o conteúdo do seu discurso. Dizer que "bolcheviques" e judeus são a mesma coisa era um dos estereótipos típicos da propaganda nazista.

Velhos estereótipos nazistas

Da mesma opinião é Wolfgang Benz, diretor do Centro de Pesquisas sobre Anti-semitismo da Universidade Técnica de Berlim. Perguntado se tem cabimento o escândalo causado pelas declarações de Martin Hohmann, respondeu em entrevista à Deutsche Welle: "Sim, é apropriado, pois o que o Sr. Hohmann fez é novo e um caso único na história do pós-guerra na Alemanha. Ele fez um discurso elaborado, em que passou meia hora ou 45 minutos expondo os velhos estereótipos, até formar uma imagem denegrida dos judeus. Não dá simplesmente para se desculpar ou deixar o dito por não dito. Não foi uma escorregadela, como em outros escândalos anti-semitas, isso é puro anti-semitismo" - avaliou.

CDU adverte mas não expulsa

Houve críticas até por parte de parlamentares da União Democrata Cristã, que exigiram um processo partidário interno. Mas, pelo visto, a CDU não vai expulsar o deputado. Sua presidente, Angela Merkel, condenou as declarações do deputado, que considerou "insuportáveis" e incompatíveis com os princípios da democracia-cristã. Após reunir-se com o diretório nacional e presidência do partido, ela informou, nesta segunda-feira (03/11) que a CDU advertiu o deputado e que Hohmann aceitou a admoestação.

O partido ainda está discutindo se o deputado deve depor sua função de relator da Comissão de Política Interna do Parlamento. A próxima reunião da comissão é na quarta-feira (05/11). Independentemente da queixa que o Conselho Central dos Judeus venha a apresentar, um cidadão de Bonn já entrou com queixa contra Martin Hohmann.