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Após tragédia, Mariana busca novo rumo na COP21

Nádia Pontes, de Paris3 de dezembro de 2015

Em Paris, prefeito da cidade mineira articula cooperação com região francesa que abandonou a mineração e se transformou num polo de energias renováveis. "Precisamos diversificar nossa economia", afirma o político.

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Foto: Reuters/R. Moraes

Faz 25 anos que a última mina de carvão foi fechada na região de Nord-Pas de Calais, no norte da França. Depois de quase 200 anos de exploração, a extração do combustível ficou muito cara e, uma a uma, as empresas foram encerrando as atividades – apesar de a reserva não ter se esgotado.

"Tivemos que lidar com o desemprego da noite para o dia; a nossa água estava contaminada, e o solo e o ar, poluídos. Tivemos que buscar soluções", conta Geneviève Sevrin, diretora de Relações Internacionais do conselho de Nord-Pas de Calais, sobre a herança negativa da mineração.

Em busca de exemplos que alavancaram a reinvenção dessa região francesa, o prefeito de Mariana, em Minas Gerais, desembarcou nesta quinta-feira (03/12) em Paris, que sedia a Conferência do Clima (COP21).

"Precisamos diversificar a economia em Mariana e diminuir a nossa dependência da mineração. E os franceses têm uma longa história nisso", disse o prefeito Duarte Júnior à DW Brasil.

Quase um mês após a enxurrada de lama que inundou distritos da cidade mineira, provocada pelo rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco, a economia local começa a sentir os efeitos mais drásticos. Pelo menos 70 moradores que trabalham em firmas do setor foram demitidos. "Os funcionários da Samarco estão com emprego garantido até 31 de dezembro", disse Júnior sobre o acordo em vigor.

Dos 752 moradores que ficaram desabrigados, 477 ainda aguardam em hotéis a mudança para uma casa temporária, que deve ser custeada pela Samarco. A inundação causada pelos rejeitos da barragem deixou ao menos 13 mortos.

Em busca de cooperação

Em Nord-Pas de Calais, o meio ambiente, que foi consumido no passado de exploração carvoeira, virou o principal negócio da cidade. A região aposta alto no desenvolvimento de tecnologias voltadas para a energia renovável e agora quer protagonizar, em parceria com o economista norte-americano Jeremy Rifkin, a chamada Terceira Revolução Industrial, com foco tecno-cientifico.

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Duarte Júnior, prefeito de Mariana, ao lado de Geneviève Sevrin, diretora de Relações Internacionais do conselho de Nord-Pas de CalaisFoto: DW/N. Pontes

Desde que enfrentou o fechamento das minas, a região francesa ganhou 600 empresas na área ambiental, que empregam 17 mil pessoas. "Acreditamos que estamos no caminho certo, esse é o futuro", comenta Sevrin.

O prefeito de Mariana confessa que nunca havia pensado em incentivar a instalação de empresas que trabalham com energias renováveis. "Agora eu vejo que temos potencial para fabricar até placas solares", disse. "Nós temos ainda reservas para mais uns 40, ou 50 anos de exploração de minério. Mas não podemos esperar mais, temos que mudar o rumo já."

Mudança de paradigma

"Mariana foi como uma chamada de alerta, no sentido de a gente fazer uma grande revisão dos paradigmas que regulamentam a mineração no estado", afirmou Diogo Soares de Melo Franco, presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente.

A mineração é responsável por cerca de 40% da renda de Minas Gerais, com a extração principalmente de minério de ferro, ouro e manganês. "Muitas das grandes minas do estado são bastante antigas. Existem barragens, por exemplo, dos anos de 1960 e 1970, construídas numa época em que a tecnologia não era tão positiva como hoje", disse.

Segundo Franco, o governo começa a rever as regras de licenciamento ambiental e o acompanhamento da licença, assim como as tecnologias envolvidas no processo. A parceria com a França pode ajudar as cidades que dependem da mineração a passar por uma adaptação tecnológica e a fazer uma exploração mais condizente com a preservação ambiental e mais segura para as populações, acredita.

Parceria

O estado de Minas Gerais e Nord-Pas de Calais mantêm, desde 2009, uma cooperação nas áreas de cultura e meio ambiente. O Plano de Energia e Mudanças Climáticas do estado mineiro foi feito com apoio dos franceses. O plano é um guia para que Minas Gerais alcance a meta de reduzir 25% das emissões de gases estufa até 2030.

A parceria também gerou o Índice Mineiro de Vulnerabilidade Climática, lançado às vésperas da COP21. Nesse mapa, Mariana aparece com uma "vulnerabilidade moderada". Os casos mais críticos estão no norte do estado, na região do médio e baixo Jequitinhonha.

Para Duarte Júnior, prefeito de Mariana, a COP21 é o ambiente ideal para começar uma mudança no perfil da cidade. "Ainda estamos sob o choque dessa tragédia horrível. Mas aqui estão as melhores ideias e iniciativas para nos ajudar a construir um futuro diferente."