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Alemães orientais ocupam poucas posições de liderança

22 de março de 2012

Pela primeira vez dois alemães oriundos do lado oriental ocupam os postos mais elevados da República. Mas eles representam uma exceção entre as lideranças da Alemanha.

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Foto: dapd

O que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem em comum com a chanceler federal alemã, Angela Merkel? Os dois pertencem a uma minoria social. O homem mais poderoso do mundo tornou-se o primeiro presidente negro de um país marcado pela supremacia política branca. A mulher mais poderosa da Europa é a primeira chefe de governo vinda do lado oriental num país cuja política é dominada pelo lado ocidental.

E assim como pouco mudou na relação entre brancos e negros nos Estados Unidos desde a eleição de Obama, em 2008, pouco mudou na relação entre alemães ocidentais e orientais desde que Merkel ascendeu ao poder, em 2005.

E não vai ser a eleição de Joachim Gauck, um antigo ativista de direitos civis do Leste Alemão, que vai mudar algo nessa situação. Uma coisa é o fato de dois alemães do Leste ocuparem os mais elevados cargos políticos do país; outra, bem diferente, é a realidade cotidiana das pessoas que vivem na região da antiga Alemanha Oriental e a percepção que elas têm de que haja avanços na equiparação entre os dois lados.

Uma olhada nas estatísticas e pesquisas de opinião mostra com clareza que tanto a situação real como a percepção que as pessoas têm dela muda bem devagar. O índice de desemprego no Leste é de 12%, quase o dobro do oeste, com 6,9%. Uma diferença estabilizada desde o início dos anos 1990.

Cidadãos de segunda classe

Também a diferença salarial entre os dois lados continua enorme, passadas mais de duas décadas da reunificação alemã. Quem trabalha no lado oriental ganha, em média, apenas 85% do salário de quem trabalha no lado ocidental.

"Por outro lado, os atuais valores das aposentadorias [no Leste] já se aproximaram a quase 89% dos valores do Oeste", afirma, com uma ponta de orgulho, o mais recente relatório anual do governo sobre a situação da unificação alemã. Só que as pessoas atingidas não celebram a lenta queda dessa diferença: elas percebem a existência dela como uma injustiça.

Esta frustração frequentemente aparece em pesquisas de opinião. Cerca de dois terços dos alemães do Leste reclamam de injustiça social, apontam as pesquisas há quase duas décadas. E 42% diziam sentir-se como um cidadão de segunda classe passados 20 anos da queda do Muro, apurou o Instituto Allesbach.

Pouco mudou nesses resultados desde o início do mandato de Merkel, em 2005. E não há sinais de que algo venha a mudar com Gauck na presidência.

Queda de um, ascensão de outro

É interessante também dar uma olhada nas circunstâncias que levaram à ascensão de Merkel e Gauck ao topo do poder na Alemanha. Gauck foi favorecido pela renúncia do ex-presidente Christian Wulff, que o havia derrotado na eleição de 2010. Já naquela época Gauck, um teólogo evangélico brilhante do ponto de vista intelectual e retórico, era o favorito da população, e teria vencido se o cargo fosse preenchido pelo voto direto.

Mas a lei estabelece que o presidente da Alemanha deve ser escolhido por uma Assembleia Federal, composta por membros do Parlamento e delegados indicados pelos 16 estados. Gauck não era a opção preferida de Merkel, mas ela teve que ceder à pressão do parceiro de coalizão, o Partido Liberal Democrático (FDP).

A própria ascensão, de ministra da Família e mais tarde do Meio Ambiente no governo de Helmut Kohl, passando pelo cargo de secretária-geral e presidente da União Democrata Cristã (CDU), até chegar à chanceleria federal, Merkel deve, além do talento político, sobretudo ao escândalo de caixa dois que vitimou principalmente o seu padrinho Kohl.

Kohl, descobriu-se no final dos anos 1990, recolheu doações milionárias para o partido, o que resultou na maior crise política e financeira da história da CDU. Como o sucessor natural de Kohl na presidência partidária, o hoje ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, também estava envolvido no escândalo, Merkel pôde assumir o comando do partido.

Ou seja, apesar de todas as competências pessoais e merecimentos, essas duas notáveis carreiras alemã-orientais são também a história de notáveis fracassos de seus antecessores ocidentais.

Nenhum ministro do leste

A existência de dois alemães oriundos do leste nos mais altos cargos do país não se reflete em outras posições de liderança. Nem mesmo no governo. Nenhum dos 14 ministros de Merkel vem do lado oriental.

A tendência também é registrada na economia e até dos meios de comunicação. Nenhuma das 30 empresas alemãs que compõem o DAX, o principal índice da Bolsa de Frankfurt, é comandada por um alemão vindo do lado oriental. Mesmo entre os principais diretores dessas empresas há apenas um caso, o de Torsten Jeworreks, da seguradora Münchener.

Apenas no fim do ano passado chegou à liderança de um veículo de comunicação público uma alemã de origem oriental: Karolla Wille, da rádio MDR. Nos grandes jornais alemães, os diretores de redação são todos homens.

Após 22 anos da queda do Muro, o balanço é evidente e avassalador: é difícil encontrar lideranças orientais na política, na economia ou na imprensa. Merkel e Gauck são exceções à regra, e como ocupam os maiores postos da República, duas exceções bem especiais. Mas elas não devem levar à uma falsa conclusão.

Autor: Marcel Fürstenau (msb)
Revisão: Alexandre Schossler