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Arábia Saudita

8 de agosto de 2011

O país é considerado um aliado estratégico dos EUA. Ao mesmo tempo, a maioria dos atentados do 11 de Setembro tem origens sauditas, assim como doações que financiam a rede terrorista Al Qaeda.

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Foto: DW / fotolia

Ao passar por Riad em sua primeira viagem pelo Oriente Médio, em junho de 2009, o presidente norte-americano, Barack Obama, não poupou elogios à casa real saudita. Os dois países "não são parceiros apenas econômicos, mas também estratégicos", acentuou Obama, ao elogiar a "sabedoria e a complacência" do ao rei Abdullah.

Mas partindo do princípio que os documentos secretos do governo norte-americano publicados pelo WikiLeaks no mesmo ano sejam verídicos, a secretária de Estado do governo Obama, Hillary Clinton, chegou a uma avaliação bem diferente: "É um desafio permanente convencer oficiais sauditas que os recursos financeiros que saem do país para financiar o terrorismo deveriam ser tratados como prioridade estratégica", teria escrito Clinton em um memorando governamental em tom de irritação. A crítica chegou a seu ápice na constatação de que "recursos da Arábia Saudita são a fonte mais significativa de financiamento de grupos terroristas sunitas em todo o mundo".

Saudi-Arabien Riad Anschlag Selbstmordanschlag 14.05.2003
Ataque por homem-bomba na Arábia Saudita em 2003Foto: picture alliance/dpa

Aliado de duas caras

O antagonismo entre as declarações de Obama e de Clinton é um exemplo típico das complexas relações entre os dois países. De um lado, a Arábia Saudita é o fornecedor mais importante de petróleo para os EUA no Oriente Médio. Os norte-americanos prezam a Arábia Saudita como um polo estratégico contrário à crescente influência iraniana e como um país que participa, com iniciativas diplomáticas, da busca de soluções para conflitos na região.

Por outro lado, há, na Arábia Saudita, muito daquilo que os EUA criticam em outros países: desrespeito aos direitos humanos, falta de liberdade religiosa, censura à mídia, falta de igualdade de direitos entre homens e mulheres. A maioria desses problemas está ancorada na ideologia reinante do wahabismo, considerada uma das interpretações mais radicais do islã. Por isso, muitos especialistas não se surpreenderam com a constatação de que a maioria daqueles que executaram os atentados do 11 de Setembro era de origem saudita.

O rei Abdullah tenta implementar reformas, mesmo que com muita cautela. No entanto, entre o wahabismo e a ideologia da Al Qaeda há vários pontos em comum, aponta Guido Steinberg, especialista em terrorismo e radicalismos islâmicos do Instituto de Política Internacional e de Segurança (SWP, do alemão), sediado em Berlim.

Isso faz com que "muitos jovens sauditas acabem aderindo ao extremismo a partir daquilo que aprenderam em escolas e universidades sauditas", reflete o especialista. Segundo ele, as lideranças políticas no país não querem enxergar essa proximidade entre a própria ideologia do Estado e a ideologia da Al Qaeda, finaliza Steinberg.

Guido Steinberg
O especialista Guido Steinberg

Mala cheia de dinheiro

A acusação mais grave é a de financiamento do terrorismo. No entanto, não há provas de que a maioria dos recursos que financiam a Al Qaeda venham realmente da Arábia Saudita e de outros países ricos da região do Golfo Pérsico. Especialistas como Yassin Musharbash, que trabalha para o semanário alemão Der Spiegel, parte do princípio de que financiadores do terrorismo da Arábia Saudita transportam regularmente altos montantes de dinheiro em malas para o Afeganistão e o Paquistão, a fim de financiar naqueles países campos de treinamento de terroristas.

É preciso salientar, contudo, que nenhum departamento oficial do país pode ser responsabilizado por isso. "Trata-se de uma rede imensa de organizações filantrópicas em parte usadas de má-fé, sem que elas o saibam", afirma Musharbash. No entanto, acredita-se que, nas repartições públicas, haja pessoas que saibam de tudo e acabem fazendo vista grossa, diz o especialista. "Quando você imagina quantas viagens acontecem somente em função do alto número de migrantes que trabalham na Arábia Saudita e vêm do Paquistão, fica claro que é praticamente impossível cessar esse fluxo de dinheiro", acrescenta Steinberg.

25.11.2010 DW-TV Quadriga Yassin Musharbash
Yassin Musharbash

A história das doações sauditas a grupos militantes tem história e remonta aos anos 1980, quando abastados árabes da região do Golfo contribuíam com altas somas de dinheiro para apoiar o chamado mujahidin contra as tropas soviéticas de ocupação no Afeganistão. Osama bin Laden desempenhou neste contexto um papel crucial, antes de romper definitivamente, nos anos 1990, com a realeza saudita. Antes, diz Guido Steinberg, os mujahidin recebiam também apoio oficial do lado saudita.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, muitas organizações semiestatais, como a Fundação Al Haramein, foram fechadas pelas autoridades, "porque dali fluía, pelo menos de maneira indireta, dinheiro para organizações terroristas ou militantes". O que moveu essa mudança de pensamento entre os sauditas não foi apenas a pressão norte-americana, mas também o fato de o próprio país ter sido alvo de um ataque terrorista em 2003. Hoje, diz Steinberg, "não se tem mais provas" nem mesmo de um apoio passivo proposital. A política oficial dos sauditas tornou-se, neste sentido, "mais clara de forma geral". O que não se sabe é se os mecanismos de controle disponíveis são suficientes.

Financiadores também da Europa

Para seus ataques, a Al Qaeda, contudo, não recebe dinheiro de doadores ricos da Arábia Saudita e da região do Golfo. Com a ajuda da internet e de redes pessoais, a rede terrorista reúne recursos entre seus simpatizantes em todo o mundo, relata Yassin Musharbash. Inclusive na Europa.

E uma fonte adicional de dinheiro os membros da Al Qaeda descobriram também nos países do Magreb, onde militantes sequestram estrangeiros e pressionam seus parentes para receber resgate.

Autor: Khalid El Kaoutit(sv)

Revisão: Roselaine Wandscheer