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Aritmética complicada

(ns)12 de março de 2003

O Comitê Organizador da Copa do Mundo 2006 se preocupa com as dificuldades que resultariam de se aumentar para 36 o número de participantes, como quer a Confederação Sul-Americana.

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Beckenbauer e o símbolo da Copa 2006Foto: AP

O Comitê Organizador da Copa do Mundo 2006 está dando tratos à bola para avaliar a proposta de elevar o número de participantes na próxima Copa do Mundo de 32 para 36, apresentada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) na última reunião do Comitê Executivo da FIFA. Mesmo que Franz Beckenbauer, presidente do Comitê Organizador, considere possível que os jogos saltem de 64 para 70, a questão implica uma série de detalhes e, como mestres em organização, os alemães bem sabem que "o diabo se esconde nos detalhes", como reza um ditado popular (Der Teufel steckt im Detail).

Logística não é problema

Horst R. Schmidt, secretário-geral da Federação Alemã de Futebol (DFB) e encarregado da logística como vice-presidente do Comitê da Copa diz que "em princípio a tarefa não seria insolúvel. Quanto a estádios, hotéis, campos de treinamento não haveria problema. No entanto, precisamos examinar o assunto até as últimas ramificações, para conhecer todos os efeitos de um aumento do número de participantes". A proposta sul-americana será discutida por Schmidt e Urs Linsi, o secretário-geral da FIFA, em sua próxima reunião de trabalho, na quinta-feira (13).

Os sul-americanos estão descontentes com apenas quatro vagas para 10 nações em 2006, quando já tiveram quatro e meia em 2002, isto é, quatro vagas mais a possibilidade de uma equipe disputar a repescagem com um adversário de outro continente. Sem falar no fato de o Brasil, como atual campeão, não ter vaga garantida na próxima copa na Alemanha - outra das mudanças a partir de 2006. Para tentar convencer os europeus na Comissão Executiva da FIFA, os sul-americanos puseram de isca, em sua proposta, duas das quatro vagas para seleções européias.

A divisão do bolo e outros detalhes "diabólicos"

Já o presidente da Federação Alemã de Futebol, Gerhard Mayer-Vorfelder, membro da executiva da FIFA e, ao mesmo tempo, presidente do conselho administrativo do Comitê Organizador, é bem mais cético em sua apreciação: "A proposta me surpreendeu. Sem querer me adiantar à reunião com o Comitê Organizador, eu diria que é difícil colocar a ampliação em prática já em 2006", diz o alemão.

Voltando à questão dos "diabólicos" detalhes, fato é que os contratos com patrocinadores e emissoras de tevê já foram concluídos, com o que a receita já está determinada. Um aumento do número de participantes significaria que o "bolo" teria que ser dividido entre mais seleções. Em vez de receber 3,125%, cada uma ficaria com uma fatia de 2,777%. Sobre isso, diz o diretor de mídia do Comitê Organizador: "No que diz respeito à qualidade esportiva de uma ampliação e à parte financeira de cada seleção, cabe à FIFA decidir, e não a nós".

Horst Schmidt avalia que um aumento dos participantes traria maior arrecadação mas, por outro lado, elevaria os custos de organização, não apenas no que se refere aos jogos, mas também às medidas de segurança para as equipes e custos de transporte. "Precisamos calcular se compensa", resume. Quanto a estádios ele não vê problema, os dez escolhidos bem poderiam suportar mais seis jogos.

Cronograma e chaves: a aritmética

O cronograma dos jogos é considerado problemático, pois a copa, com duração de 31 dias, não pode ser prolongada sem conseqüências para os jogadores e seus clubes. O plano atual, de 9 de junho a 9 de julho de 2006, só pode ser mantido se houver um segundo jogo no dia da abertura. A televisão, que deseja transmitir todos os jogos, se possível, faz pressão para que haja poucas vezes três partidas por dia. Com seis jogos a mais na primeira fase, porém, não haveria como evitar quatro partidas em alguns dias.

Organizar grupos e chaves com 36 participantes seria um tanto complicado, como admitiu Beckenbauer a um jornal alemão. Dos oito grupos atuais da primeira fase saem os primeiros e segundos colocados, mas com nove grupos a situação mudaria. Os primeiros passariam às oitavas-de-final, mas entre os segundos teriam que ser escolhidos os sete melhores, ou seja, uma aritmética complicada, quando problemas desse gênero pareciam resolvidos após o aumento de 24 para 32 participantes da copa. Entre 1982 e 1994 houve seis grupos, classificando-se para as oitavas-de-final os primeiros e os segundos colocados de cada grupo, além dos quatro melhores terceiros colocados.

"O sistema atual com 32 equipes já se consagrou e seria melhor deixá-lo como está, senão vamos acabar tendo que admitir na primeira fase da copa todos os 204 países membros da FIFA", teria comentado Beckenbauer. Uma divisão de 36 equipes em seis grupos deve ser excluída desde o início, pois cada time teria que disputar cinco partidas em vez de três na primeira fase. Com isso, a Copa do Mundo seria "esticada" para 106 jogos. A FIFA deve decidir sobre a proposta na próxima reunião da Comissão Executiva, em 3 de maio.