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Arquiteto da ditadura ou herói da reunificação?

Carlos Albuquerque18 de novembro de 2005

Livro recentemente publicado sobre general americano Vernon Walters tenta mostrar a ligação entre a ditadura brasileira e a reunificação da Alemanha.

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Vernon Walters: de adido militar americano no Brasil a embaixador na AlemanhaFoto: dpa

Um livro sobre o embaixador americano na Alemanha entre 1989 e 1991, publicado este ano, e do qual, com exceção da imprensa de orientação de esquerda, pouco se leu. Este livro talvez pouco interessaria a brasileiros, se o embaixador em questão não se chamasse Vernon Walters, antigo adido militar norte-americano no Brasil entre 1962 e 1967.

Embaixador dos EUA em Bonn entre 1989 e 1991, ele recebeu o prêmio Leo Goodman das mãos do ex-chanceler federal Helmut Kohl, em 1999, por seus méritos nas relações teuto-americanas. Para alguns, ele é considerado um herói da Guerra Fria e da reunificação alemã.

Para outros, o General Walters representa o arquiteto da ditadura brasileira. Como, por exemplo, para o jornalista Geneton Moraes Neto, editor-chefe do Fantástico, que em seu site comenta sobre o então coronel ao entrevistá-lo pouco antes de seu falecimento: “O coronel que, durante a conspiração que derrubou João Goulart, desempenhava o papel de adido militar da embaixada dos Estados Unidos entrou irremediavelmente para a história do movimento militar de 1964 como símbolo de conspiração”.

Vernon Walters Buchcover Ausschnitt aus Klaus Eichner, Ernst Langrock Der Drahtzieher Vernon Walters - Ein Geheimdienstgeneral des Kalten Krieges
Capa do livro: O Manipulador Vernon Walters

Klaus Eichner e Ernst Langrock são os autores do livro Der Drahtzieher (O Manipulador: Vernon Walters – Um General do Serviço Secreto da Guerra Fria).

A DW-WORLD conversou com Klaus Eichner sobre o seu livro.

DW-WORLD O nome Walters já lhe era conhecido antes mesmo da queda do Muro de Berlim?

Eichner – Eu era analista chefe do quartel-general do Serviço de Inteligência da ex-Alemanha Oriental na área de espionagem norte-americana. Através desta atividade, tanto o nome Walters quanto algumas de suas atividades me eram conhecidos.

Em seu livro, o senhor menciona várias vezes a estada de Vernon Walters no Brasil. Poderia se dizer que o Brasil teve um papel importante para a carreira do general Walters?

Em estações anteriores de suas “atuações“, Walters tinha, até 1962, uma posição relativamente subordinada, tendo trabalhado como ajudante de outros atores. No Brasil, através de sua posição como adido militar da embaixada dos Estados Unidos, e usando a experiência adquirida até então, ele pôde cumprir, de forma autônoma, a sua primeira missão.

Junta-se a isto o fato de que ele já conhecia e havia travado uma estreita amizade, desde pelo menos 1943, com o general Castelo Branco, líder do golpe contra o presidente eleito João Goulart. De qualquer maneira, isto lhe trouxe a sua primeira estrela de general.

Segundo o seu livro, a reunificação da Alemanha serviu aos interesses norte-americanos. Não se pode também dizer que os alemães precisaram dos EUA para atingir o seu objetivo?

Com este livro, eu quis mostrar sobretudo qual estratégia a antiga administração Bush (pai) tinha desenvolvido para acabar com o real socialismo na Europa. E, por falar nisso, os principais assessores de Bush (pai) desse período estão hoje em postos decisivos do governo do filho. Walters teve um papel central, nessa estratégia, como embaixador dos Estados Unidos em Bonn de 1989 a 1991.

A política externa norte-americana foi diferente da soviética? Não existiam também “Walters” soviéticos?

A história da Guerra Fria é cheia de atos de agressões e golpes de Estado contra governos malquistos. Isto também aconteceu pelo lado da União Soviética (Hungria 1956, Praga 1968, Afeganistão 1979). Em todas essas ações, militares de alto escalão e agentes secretos tiveram provavelmente uma atuação importante.

O senhor dedicou o seu livro aos norte-americanos que não são como o foi Vernon Walters. A política externa dos EUA, no que tange à Guerra Fria, teria sido diferente se Vernon Walters não tivesse existido?

Agentes secretos, até mesmo em posições importantes, não decidem sobre política, sua missão é cumpri-la mais ou menos bem. Walters morreu no ano 2002. Eu vejo, hoje, na política do governo de George W. Bush, traços bem piores do que no tempo das ações do general Walters.

Não são organizadas somente ações secretas em governos malquistos, eles são derrubados, utilizando mentiras e falsificações, civis inocentes são mortos e regimes desagradáveis são eliminados com a ajuda de um aparato militar de alta tecnologia.