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Art Cologne expõe diversidade da arte contemporânea chinesa

19 de abril de 2012

A China passou a ocupar uma posição de destaque no comércio internacional de artes. Na feira Art Cologne, no entanto, a presença da arte contemporânea chinesa é fraca.

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Foto: DW

Nas manchetes de revistas internacionais de arte ou nos cadernos de cultura dos grandes jornais do mundo, a China é celebrada como o "país número um no mercado global de artes", considerada "um terremoto que mudou o mundo dos marchands" ou até mesmo "um choque elétrico na história do mercado de artes em todo o mundo". Ou seja, a mudança das relações de poder no mercado internacional de artes é clara.

E o fato de a China ter se transformado há muito em uma das nações que lideram o mercado de artes é inegável. Segundo diversas estatísticas, o país superou até mesmo os EUA, até então país líder deste mercado. Na mais antiga feira de artes do mundo, a Art Cologne, essa hegemonia chinesa ainda não é, contudo, muito visível.

Arte contemporânea ainda não é destaque

As estatísticas sobre o mercado de artes reúnem todos os dados disponíveis do setor, desde os lucros das grandes casas de leilões, passando pelos preços recordes pelas quais obras de arte são leiloadas, até os valores relativos ao comércio de antiguidades e a presença internacional em feiras e galerias. Considerando todos esses números, a China dispõe hoje, de fato, da maior parcela do mercado quando se trata de arte.

Art Cologne 2012 He Xiangyu Galerie ALEXANDER OCHS
'Man on the chairs', de He XiangyuFoto: Courtesy: ALEXANDER OCHS GALLERIES

No entanto, enquanto os colecionadores chineses gostam de comprar muitas antiguidades caras, a arte contemporânea do país desempenha um papel importante, mas (ainda) não dominante no mercado. Isso se reflete no volume de obras chinesas em feiras europeias hoje, inclusive na Art Cologne, cuja oferta inclui desde clássicos modernos até arte contemporânea.

Ou seja, na feira alemã, o visitante não chega a tropeçar sobre artistas ou galerias chinesas, mesmo que na entrada da feira o visitante seja "recebido" com uma instalação monumental de He Xiangyu. Para a obra de grandes proporções, o artista transportou a madeira oriunda de um antigo canal fluvial para Pequim e com o material construiu cadeiras.

Nem toda arte chinesa precisa criticar o regime

Com a obra, o artista, representado pela galeria alemã Alexander Ochs, pretende acentuar que "o tempo e a transformação de materiais são temas importantes de sua obra, bem como as experiências elementares do homem e as experiências políticas da comunidade", como diz o próprio He Xiangyu no convite para a feira.

Köln Art Cologne 2012
A artista Kexin ZangFoto: DW

A frase, que se assemelha à típica linguagem dos curadores, prova que os artistas contemporâneos chineses passaram a comercializar seus trabalhos da mesma forma que artistas de outras regiões do mundo. E mostra ainda que as galerias internacionais temem associações muito próximas entre a arte chinesa e a dissidência política, uma vez que o que se pretende é simplesmente vender.

Pelo menos é isso o que pensa o galerista Alexander Ochs, atuante há anos no mercado entre a China e a Alemanha. Ochs nega-se a dar entrevistas, argumentando que está na feira para vender e não para dar declarações de cunho político. Uma prova de que na Art Cologne evita-se a todo custo a "saia justa política". O caso de Ai Weiwei ainda não foi esquecido.

Michael Schultz, que mantém da mesma forma que Ochs relações comerciais com a China há anos, acaba de voltar da Ásia. Ele conta que nunca havia observado uma presença policial tão forte quanto a que observou em Pequim nesta viagem. A entrada e a saída de obras de arte do país também foram muito difíceis, conta Schultz. Devido a estas dificuldades, ele teve que deixar uma obra para trás, que certamente teria sido inserida na Art Cologne.

Porcelana e imagens de Mao

Schultz oferece em seu estande somente obras de artistas chineses. Muitas delas são de fácil identificação por brincarem com signos e símbolos tradicionais e históricos da cultura chinesa. Ma Jun, por exemplo, transporta o design da tradicional porcelana chinesa para outros contextos e formas.

Köln Art Cologne 2012
Trabalhos de Huang He e Ma JunFoto: DW

East is Red, pintura de Zou Cao dividida em diversas partes, estabelece, por outro lado, uma conexão direta com a história do país: a imagem de Mao é reproduzida diversas vezes sobre uma bandeira vermelha – no entanto, não se trata da bandeira chinesa, mas de uma bandeira com a foice e o martelo, numa associação direta com Stalin e a União Soviética.

Köln Art Cologne 2012
O galerista Michael Schultz em frente a 'East is red', de Zou CaoFoto: DW

Esta obra, diz Schulz, foi "contrabandeada" da China há três anos. No país, há um "Departamento de Cultura", que funciona na verdade como órgão de censura e controla cada obra de arte que deixa o país. East is red não teria tido chances de passar por esse crivo, acredita o galerista.

Hoje é possível comprar em Colônia essa imagem de Mao sobre uma bandeira soviética. Os artistas não foram punidos na China posteriormente por isso, explica Schultz, pois para os órgãos chineses de censura o que importa é aquilo que pode gerar controvérsias dentro das fronteiras do país. Uma vez que a obra se encontra no exterior, as autoridades perdem o interesse, diz o galerista.

Fotografias da China

Já a galeria londrina Ben Brown Fine Arts, presente na Art Cologne com obras de fotógrafos chineses, chegou aos artistas que representa através de um curador, com o qual cooperava. Isso se deu sem maiores problemas. As fotografias de grande formato de Chen Wie, que lembram as obras monumentais de fotógrafos alemães como Andreas Gursky ou Thomas Struth, dispensam qualquer declaração política direta.

Köln Art Cologne 2012
'Anonymous Station', de Chen WeiFoto: DW

O mesmo pode ser dito com relação aos trabalhos de Kexin Zang, que vive há 12 anos na Alemanha. A fotógrafa e performer apresenta na Art Cologne, entre outros, a série Überhalbhunderter (algo como Além de Meia Centena), na qual se pode ver homens e mulheres idosos, fotografados pela artista em parques e praças de Pequim.

Com seus hobbys como o canto, a dança ou a meditação, que ficam perceptíveis nas fotos, eles parecem resistir às mudanças alucinantes que acontecem na China moderna. Segundo Kexin Zang, essas são as pessoas mais felizes na China – uma suposição comprovada por diversas pesquisas sociológicas.

O Ullens Center for Contemporary Art, uma instituição não comercial, representa também na Art Cologne vários artistas chineses. Em suas obras, tem-se também a impressão de que quando não se reconhece de imediato fisionomias de chineses ou símbolos do país, a origem não é visível na arte contemporânea feita por artistas de Pequim ou Xangai. Embora os artistas chineses também se voltem com frequência para as "experiências elementares do ser humano", estas podem, mas não necessariamente precisam ter um cunho político.

Köln Art Cologne 2012
Expositora chinesa do Ullens Center for Contemporary ArtFoto: DW

Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer