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As algemas da liberdade de imprensa

(sv)3 de maio de 2004

Em alguns países ela simplesmente inexiste. Em outros, é disfarçadamente cerceada sob o signo do patriotismo. O que será da liberdade de imprensa na era da reprodutibilidade desesperada de informações?

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Pouco motivo para festa: Dia Internacional da Liberdade de ImprensaFoto: dpa zb

Dedicada à liberdade de imprensa, esta segunda-feira (3/5) não tem muito o que celebrar. Segundo organizações internacionais, pelo menos um terço da população mundial não convive com a liberdade de imprensa. Somente nos primeiros meses deste ano, 13 jornalistas foram mortos durante o exercício da profissão. Centenas foram presos, ameaçados, atacados.

Os argumentos dos regimes totalitários são semelhantes: ao amarrar os tentáculos da imprensa, os donos do poder estariam defendendo ideais sempre proclamados como “democráticos”. A censura, nesse caso, é quase sempre defendida como uma arma frente ao “caos” iminente.

Relatórios recentes de organizações de defesa dos direitos humanos como Repórteres Sem Fronteiras, Human Rights Watch ou Anistia Internacional provam que não há tendência alguma em direção a uma maior liberdade de imprensa em países onde ela cerceada de forma conseqüente.

Em nome do combate ao terrorismo

Recentemente, o combate ao terrorismo tornou-se a desculpa predileta de boa parte da mídia internacional para a auto-censura, como é o caso de parte da imprensa norte-americana. As estratégias de manipulação da opinião pública através da mídia se deram, por exemplo, durante a guerra do Iraque, através dos jornalistas "embutidos" nas tropas de guerra norte-americanas.

Os repórteres de guerra, nesse caso, estiveram completamente subordinados às rígidas regras do Pentágono. O resultado foi o previsto: uma guerra encenada em forma de vídeo game, apresentada a um público ávido pelo espetáculo.

O caso espanhol

Outro caso peculiar de cerceamento da liberdade de impresa pôde ser observado nos últimos anos no cenário da mídia espanhola. Em meados de abril último, quando o governo conservador de José Maria Aznar despedia-se do poder, o novo primeiro-ministro José Luis Rodrigues Zapatero já anunciava uma reforma estrutural na mídia do país, com o intuito de libertar esta das rédeas do Estado.

Até então, o canal estatal de TV do país definitivamente não emitia sequer um suspiro contrário às ordens de Madri. O diretor geral da emissora, afinal, é até hoje escolhido diretamente pelo governo. Com a entrada de Zapatero, espera-se que as prometidas reformas sejam levadas a cabo.

“Quero libertar principalmente a emissora estatal e a agência nacional de notícias do controle do governo, pois estas sempre estiveram subordinadas ao poder do Estado. Isso é necessário para que elas possam desempenhar livremente o papel que lhes cabe em uma sociedade democrática”, anunciou o novo premiê.

Adeus telelixo?

A reforma não deve ser planejada nem pelo governo nem pelos partidos, mas por uma comissão criada especialmente para a função, formada por cinco intelectuais. Em nove meses, o projeto de reformas deverá ser concluído. Se o filho ainda está longe de vir ao mundo, pelo que parece, ele começa realmente a ser gerado.

A especialista em mídia Carmen Caffarel foi nomeada para o cargo de diretora-geral da emissora estatal espanhola. “Vou fazer de tudo para que as metas independência, pluralismo e renovação ética, democrática e cultural sejam alcançadas dentro desse órgão público”, anunciou Caffarel.

Se o começo do fim da TV atrelada ao poder está por vir, só o tempo poderá dizer. Os sindicatos espanhóis saúdam principalmente o fato de que a nova diretora da emissora estatal não vem do cenário político do país nem de um grupo multinacional de mídia.

A principal promessa, se for cumprida, pode servir de exemplo para vários outros cenários semelhantes mundo afora: conseguir transformar o que os espanhóis chamam de telebasura – literalmente telelixo – em um fórum de debate cultural. Se os sete bilhões de euros de dívidas da emissora permitirão tamanho salto de qualidade é a grande pergunta.