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As conseqüências da "fuga de cérebros"

Oliver Samson (ns)26 de maio de 2003

Um amplo estudo das Forças Armadas alemãs constatou enormes diferenças regionais na inteligência dos alemães. Os dados agora divulgados foram considerados tão chocantes que ficaram na gaveta por vários anos.

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As áreas mais escuras correspondem ao maior quociente de inteligência

Desde 1965, as Forças Armadas da Alemanha (Bundeswehr) realizam, além do exame físico dos recrutas, um teste de inteligência. Tendo constatado diferenças regionais gritantes há muito tempo, o seu Serviço de Psicologia decidiu ampliar a quantidade dos dados levantados e diferenciar melhor as regiões.

O estudo em questão se baseia em testes de inteligência de algumas horas de duração, a que foram submetidos 248.727 recrutas de 18 a 22 anos que se apresentaram para o serviço militar em 1998. A imensa quantidade de dados foi distribuída em 83 distritos de procedência dos recrutas. O título do estudo em si já revela o dramático resultado: "Perda de capital humano em regiões de alto desemprego".

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Cérebros fogem para o Sul

Depois de calcular a média regional de inteligência (MRI), os pesquisadores introduziram cinco fatores, na tentativa de explicar as grandes diferenças: potencial econômico, desemprego, migração interna, grau de urbanidade e quota de conclusão do segundo grau. O resultado não deixa margem a dúvidas: a forte emigração de uma região com alto índice de desemprego ocasiona um baixo nível de inteligência, porque se mudam principalmente as famílias de melhor formação e que estão mais abertas ao fomento intelectual de seus filhos. Segundo os pesquisadores, "as faculdades cognitivas e o status sócio-econômico estão reciprocamente relacionados". Isso significa, em outras palavras, que jovens das áreas mais prósperas do país apresentam melhor rendimento em termos de inteligência.

A "sangria" e o círculo vicioso

A conseqüência desse êxodo é que regiões inteiras nos estados do Leste alemão "sofrem uma sangria", segundo Heinz Jürgen Ebenrett, do Instituto de Ciências Sociais das Forças Armadas alemãs, em Straussberg. "Os mais capazes vão para o sul, ou já estão lá". Este fenômeno de brain drain (fuga de cérebros) leva diretamente a um círculo vicioso "de constante piora das condições econômicas em geral e da qualificação profissional do restante da população" que permanece na região.

Maikundgebung in Leipzig, Gewerkschaft, Arbeitslosigkeit
Manifestação de 1º de maio em Leipzig, contra o desempregoFoto: AP

A questão alarmou as autoridades e a Conferência dos Secretários Estaduais da Educação solicitou uma cópia do estudo, assim como várias Secretarias Estaduais, principalmente do Leste, os territórios antes pertencentes à República Democrática Alemã (RDA) de regime comunista. "Os políticos lá estão muito preocupados, o que é compreensível", diz Ebenrett. Os próprios pesquisadores teriam ficado muito surpresos com os resultados. "Com o que nós não contávamos é que, desde já, podemos demonstrar os efeitos da fuga de cérebros. As regiões apresentam diferenças enormes na média do quociente de inteligência", conforme os testes aplicados. As estatísticas revelam as discrepâncias de forma gritante.

Comparações Norte-Sul e Leste-Oeste

Bem mais significativas do que as diferenças Leste-Oeste são as Norte-Sul, e isso em dose dupla, pois se referem tanto ao território da antiga RDA, como à parte ocidental da Alemanha. Nas duas metades se nota a diferença de inteligência. O estudo apontou oito distritos com um "quociente de inteligência muito superior à média" e nenhum deles se situa no Norte . Para os cientistas, o fenômeno não está relacionado às diferenças na política educacional - que na Alemanha é de âmbito estadual -, mas a décadas de movimentos migratórios dentro do próprio país.

A bomba que não explodiu

Bem mais explosivas, mas por motivos políticos, foram as diferenças constatadas entre Leste e Oeste. As investigações da Bundeswehr no início dos anos 90 constataram diferenças tão fortes, que os pesquisadores desistiram de publicar os resultados por quase dez anos. É que a avaliação mostrava um quadro tão desolador do Leste alemão, que os cientistas preferiram calar-se, temendo um debate muito emocional da problemática Leste-Oeste, logo após a unificação das duas Alemanhas.

Possíveis explicações para isso são diferenças no processo de socialização e nos sistemas escolares, ou então que "os alemães orientais estavam menos acostumados a testes de medição da inteligência", como Ebenrett diz hoje. Além do mais, sabe-se que testes de inteligência devem ser adaptados às especificidades culturais. O que, em outras palavras, significa que as diferenças entre a RDA comunista e a antiga República Federal da Alemanha de antes da reunificação eram bem maiores do que se supunha.