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As estrelas alemãs perseguidas pelo nazismo

Sven Kästner/dpa (rw)13 de março de 2005

Seu último filme foi uma humilhação, mas Kurt Gerron a encarou, na intenção de salvar a vida. A história deste ator judeu, executado mais tarde pelos nazistas, é tema de uma exposição no Museu do Filme, em Potsdam.

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Theresienstadt: Paraíso tem arame farpado?Foto: dpa

Kurt Gerron, alemão de origem judaica, foi um conhecido ator e diretor na década de 30 do século passado. Ele participou de O Anjo Azul, ao lado de Marlene Dietrich, e dirigiu vários filmes com Hans Albers.

No início de 1944, ele foi deportado do exílio na Holanda para o campo de concentração de Theresienstadt. Lá, pensando em se salvar da morte, aceitou a incumbência da SS (tropa de choque de Hitler) de rodar um pseudodocumentário humilhante sobre as supostas "boas condições de vida" ali reinantes.

Com a fábula O Führer deu uma cidade de presente aos judeus, o regime quis divulgar a ilusão de que os prisioneiros de Theresienstadt viviam em condições paradisíacas. O engajamento de nada adiantou. Gorren morreu na câmara de gás de Auschwitz em outubro de 1944, antes mesmo do término do filme.

A sina de Gerron pode ser vista na exposição Honrados, perseguidos, esquecidos − Atores vítimas do nazismo, organizada pelo Museu do Filme de Potsdam, neste ano em que o mundo lembra os 60 anos do final da Segunda Guerra Mundial. Com esta mostra, seu curador, Ulrich Liebe, pretende despertar a atenção para uma série de atores e atrizes populares na República de Weimar, mas esquecidos após sucumbirem ao terror nazista por motivos políticos ou apenas porque gostavam do swing norte-americano.

Enquanto outras estrelas alemãs que participaram de filmes patrocinados pelo nazismo prosseguiram sua carreira após 1945, poucas pessoas lembram dos artistas mortos durante o regime de Hitler. A maioria dos que sobreviveram nem se dignou a citar em suas memórias que quase 500 colegas de profissão foram vítimas do terror do Terceiro Reich, lamenta Liebe.

Carreiras destruídas

Após vários anos de pesquisa, Liebe, que também é historiador, havia publicado um livro com o tema em 1992. Nesta obra, da mesma forma como na exposição, ele apresentou a história de sete pessoas. "Alguns atores tinham a mesma popularidade de Gustaf Gründgens, Heins Rühmann ou Hans Albers", explica Liebe, lembrando a importância de Joachim Gottschalk, Fritz Grünbaum ou Paul Morgan durante a República de Weimar.

Assim que Hitler ascendeu ao poder, em 1933, os artistas judeus foram os primeiros a serem perseguidos. O poderoso conglomerado UFA rescindiu seus contratos e impediu que atuassem em palcos de grande porte.

Max Reinhardt, österreichische Schauspieler und Regisseur, Porträt
O austríaco Max ReinhardtFoto: DPA

É o caso, por exemplo, do humorista Otto Wallburg, que antes de 1933 trabalhava sob a direção de Max Reinhardt no Deutsches Theater de Berlim. Já em março de 1933, a direção da UFA decidiu demitir os funcionários de origem judaica.

Wallburg, então com 44 anos, foi um deles. Ele atuou no famoso palco berlinense até maio daquele ano, emigrando em seguida para Viena e depois para Amsterdã. Preso após a invasão das tropas alemãs na Holanda, foi morto na câmara de gás de Auschwitz em 1944.

Joachim Gottschalk, por seu lado, ainda interpretou Fiesco, em A Conjuração de Fiesco, de Friedrich Schiller, em 1938, e, até 1940, desempenhou vários papéis principais no cinema ao lado de Brigitte Horney. Quando o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, tomou conhecimento de que a esposa de Gottschalk era judia, exigiu que o ator se separasse da mulher.

Como rejeitasse a sugestão, passou a ser boicotado no mundo artístico. Até que, em maio de 1941, na noite anterior à deportação ao campo de concentração, ele, a esposa e o filho de oito anos se suicidaram.

Filmes desaparecidos

Não só os crimes nazistas são lembrados na exposição organizada por Liebe, também os prejuízos culturais. "Foi um sangramento, com o qual sofremos ainda hoje", explica. A pesquisa para seu livro foi dificultadas pela falta de material: "Muitas vezes, as informações desapareceram junto com as pessoas, por isso tive de ser mais detetive do que cientista para resgatar os dados".

Segundo o historiador, cerca de 63% dos filmes de que participaram vítimas dos nazistas continuam desaparecidos. Já a propaganda sobre a "boa vida" em Theresienstadt foi recuperada.

A exposição "Honrados, perseguidos, esquecidos − Atores vítimas do nazismo", permanece até 6 de abril no Museu do Filme de Potsdam.