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As semelhanças entre tietes de k-pop e torcedores de futebol

Julia Hitz | Mona Westholt
17 de junho de 2023

As jovens fãs de bandas coreanas são muitas vezes menosprezadas como histéricas. Mas isso é sexista, diz pesquisadora, argumentando que torcedores de futebol não são diferentes.

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Público feminino de fãs durante um show
Tietagem é uma expressão da feminilidadeFoto: David Rowland/AP Photo/picture alliance

"Histéricas" e "obcecadas" estão entre os adjetivos usados para descrever as tietes de grupos pop. Há também o termo depreciativo "groupie". A cultura de fãs femininas de pop geralmente não é levada a sério na sociedade, que remonta à era dos Beatles, diz Victoria Cann, professora da Universidade de East Anglia, em Norwich, no leste da Inglaterra. Ela estuda gênero e identidade na juventude.

A suposição generalizada é que as meninas "gostam dos Beatles porque se sentem atraídas por eles, enquanto os meninos, quando gostam dos Beatles, é pela forma com que eles tocam piano e guitarra e porque são bons músicos", diz ela à DW.

Subjacente a isso estava a crença de que "as mulheres jovens não têm noção do que é importante no mundo; elas são apenas obcecadas e histéricas". É uma forma de misoginia estrutural, segundo a especialista, que parte do pressuposto de que as mulheres são irracionais comparadas aos homens.

Colecionar cartões de k-pop "não é legal"

As tietes se sentem vítimas de preconceito, especialmente na cena do k-pop. Os sul-coreanos chamam as fãs de k-pop de "bbasooni", tietes que perseguem cegamente ídolos masculinos, de acordo com o Korea Times. Pode ser por isso que muitas fãs mantêm em segredo de que gostam de k-pop, segundo o jornal.

Vivien Pistor é uma tiete de k-pop há anos. De sua Alemanha natal, a jovem de 25 anos viaja para o exterior para shows, compra todos os álbuns lançados por sua banda favorita, Stray Kids, e coleciona e troca cartões com fotos de diferentes bandas de k-pop.

O fato de ela colecionar cartões costuma gerar críticas. Ao contrário dos populares cartões de Pokémon, onde a coleção é respeitada, "não é legal para as meninas colecionar cartões de k-pop", diz ela à DW.

Pop e futebol: experiências semelhantes

"Se a tietagem é aceitável ou não depende muito do fato de o grupo de fãs ser principalmente masculino ou feminino", argumenta Victoria Cann. "Os torcedores de futebol são criticados, mas raramente ridicularizados, por exemplo. No entanto, as tietes de pop são comparáveis aos fãs de futebol: ambos os grupos gastam muito dinheiro em seu time ou banda favorita", diz a pesquisadora.

Público feminino durante show a céu aberto
Tietes da banda de k-pop The Rose no Lollapalooza 2023 em São PauloFoto: Leco Viana/ZUMAPRESS.com/picture alliance

Eles gritam e cantam para torcer por seus ídolos no campo ou no palco. Eles ficam ansiosos para ter uma lembrança dos ídolos, seja uma camisa de futebol ou uma camisa de banda. Os torcedores de futebol criam coreografias impressionantes no estádio, e as tietes em shows normalmente seguram isqueiros ou celulares cantando em uníssono durante as baladas.

De onde vem a ridicularização

"Tietagem é uma expressão de feminilidade; é uma maneira de as meninas explorarem sua feminilidade e se divertirem com isso", diz Cann, acrescentando que a feminilidade é algo que não é particularmente valorizado, a menos que esteja servindo ao patriarcado de alguma forma, o que nesse caso não necessariamente acontece. "É por isso que esse fenômeno costuma ser ridicularizado", acrescenta ela.

Marie Feller, outra fã de k-pop da Alemanha, evita admitir abertamente sua paixão pelo gênero musical quando adolescente, pois costumava ouvir seus colegas fazerem comentários preconceituosos, até mesmo racistas, sobre os próprios cantores de k-pop que ela idolatra. "Costumava me deixar muito desconfortável. Não falava sobre isso porque queria manter meus amigos." A jovem de 21 anos ainda não menciona suas preferências para qualquer um.

Tietes de k-pop são criativas e políticas

"Há mais na vida de tiete do que apenas ouvir música", argumenta Vivien Pistor, que traduz letras de músicas coreanas, o que permite que ela conheça melhor o idioma e a cultura da Coreia do Sul. Marie Feller faz pulseiras e as distribui em shows. Elas costumavam tentar aprender sozinhas a coreografia das músicas do k-pop. "Claro, é um bônus que os ídolos do k-pop sejam bonitos", diz Marie sobre sua banda favorita, NCT Dream. "Mas não conheço ninguém que seja fã só por causa disso."

Vivien Pistor
Vivien Pistor: "Há mais na vida de tiete do que apenas ouvir música"Foto: privat

A narrativa das tietes geralmente se limita a gritar e desmaiar, mas as jovens também são politicamente ativas.

Após o assassinato de George Floyd nos EUA, os fãs da bem-sucedida banda de k-pop BTS pediram doações para o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam). Quando a hashtag "WhiteLivesMatter" se tornou tendência no Twitter, os fãs de k-pop deliberadamente enviaram spam para a hashtag para que os slogans de direita fossem menos perceptíveis.

O conselho de Victoria Cann para as jovens ridicularizadas como tietes é: dê de ombros. "Se você encontra prazer em algo e não está prejudicando ninguém – e tietar nunca prejudica ninguém – então e daí? E daí se as pessoas não gostarem? E daí se elas não entenderem?"

"Há muito potencial na tietagem", diz Cann. "Ela proporciona uma comunidade, oferece prazer apenas em ouvir música, ajuda a entender o mundo ou a se sentir menos sozinha", diz. "Essas coisas são realmente importantes."