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Assalto a banco no Brasil repercute na Alemanha

Geraldo Hoffmann9 de agosto de 2005

Imprensa alemã compara roubo ocorrido no Ceará com casos históricos semelhantes que viraram roteiros para filmes ou inspiraram obras de literatura. Na Alemanha, golpe digital está na moda.

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Túnel que levou à caixa-forte do BC no Ceará: golpe cinematográficoFoto: AP


"O que é o assalto a banco, se comparado com a fundação de um banco?", pergunta o personagem Mackie Messer na Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht. Nenhum delito é capaz de despertar tanta simpatia popular quanto um golpe bem-sucedido contra um banco. "Nesse caso, não há danos pessoais e, sim, o banco como instituição financeira e de poder é atacado", diz Klaus Schönberger, editor do livro Vabanque, que faz uma historiografia do assunto.

Que o fenômeno fascina o público é talvez uma das explicações para o destaque que a imprensa alemã deu nesta terça-feira (09/08) ao assalto ocorrido no final de semana (e revelado ontem) à caixa-forte do Banco Central do Brasil em Fortaleza, no Ceará.

"Roubo de banco cinematográfico no Brasil" (Die Welt), "Assaltantes roubam 52 milhões de euros" (Süddeutsche Zeitung), "Saque de cerca de 52 milhões no maior assalto a banco do Brasil" (Frankfurter Rundschau) e "Assaltantes de bancos dão golpe histórico via construção de túnel" (Der Spiegel) – foram algumas das manchetes.

A Spiegel Online ainda emenda: "O ladrão é sempre o jardineiro", referindo-se ao fato de que os bandidos tinham aberto uma floricultura nas proximidades do banco, para escavar o túnel até o tesouro. Segundo a revista, "foi um golpe no melhor estilo do filme de gângster Ocean's Eleven (Onze Homens e um Segredo). Desconhecidos ensacaram 3,5 toneladas de notas de dinheiro – e sumiram".

Culto a Ronald Biggs

Bankraub in Brasilien Fortaleza Hauptgebäude der Zentral-Bank
Edifício do Banco Central do Brasil em FortalezaFoto: dpa

Nas reportagens sobre o assalto, foram inevitáveis as referências a um outro caso conhecido dos europeus: o Brasil deu abrigo a Ronald Biggs, que junto com mais 15 comparsas assaltou um trem do correio britânico entre Glasgow e Londres em 1963, levando a quantia de 2,6 milhões de libras.

Refugiado no Brasil, Biggs virou um mito. O culto ao ex-gângster contagiou até mesmo a banda alemã Die Toten Hosen, que numa visita ao Rio de Janeiro em 1989, inspirou-se no ladrão e estrela da alta sociedade para compor a faixa Carnival in Rio.

Irmãos Sass

Não que faltasse um exemplo na Alemanha, que teve os irmãos Franz e Erich Sass. Os dois berlinenses eram os bandidos mais populares do país na década de 20 do século passado e foram os primeiros a ganhar fama como ladrões de banco.

O golpe de mestre que aplicaram em 1929 no Diskontobank na capital alemã poderia ter servido de material didático para os autores do assalto no Ceará. A partir do porão de uma casa vizinha, cavaram um túnel até a caixa-forte do banco, onde se encontravam 181 cofres de clientes. Nunca se soube quanto eles levaram em dinheiro, mas estima-se que foram cerca de dois milhões de reichmark, a moeda da época na Alemanha.

A polícia logo suspeitou dos Sass, mas não conseguiu comprovar seu envolvimento no assalto e os libertou. O golpe caracterizara-se por extrema perfeição e profissionalismo; eles haviam combinado profundos conhecimentos do local com um planejamento inteligente e uma execução impecável.

Mesmo assim, mais tarde seriam capturados na Dinamarca e executados em março de 1940 no campo de concentração de Sachsenhausen. A história dos dois "bandidos gentis" virou livro de Paul Gurk (Arrombamento da caixa-forte), inspirou a obra Emil e os detetives, de Erich Kästner, e virou filme em 2001.

"Operações de desapropriação"

Na década de 70, proliferaram na então Alemanha Ocidental assaltos a banco politicamente motivados. Organizações radicais como a RAF (Facção do Exército Vermelho) passaram a executar as chamadas "operações de desapropriação". Já na ex-Alemanha Oriental, até 1998, não há registros de assaltos bancários. O motivo principal, segundo analistas, é que o marco da RDA não valia nada.

Segundo o site alemão planet wissen, assaltos a banco clássicos "são uma arte do final do século 19 e início do século 20, oriunda dos EUA – há inúmeros filmes sobre o assunto". Um dos últimos grandes golpes na Europa ocorreu em 20 de dezembro de 2004, quando assaltantes levaram o equivalente a 38 milhões de euros da sede do Northern Bank em Belfast – o maior roubo a banco da história do Reino Unido.

Roubo digital está na moda

Na Alemanha, esse tipo de delito vem diminuindo, de 1322 casos em 1997 para 855 em 2002. Um dos últimos casos que mereceu destaque foi o de Jan Zocha, conhecido como "rei dos ladrões de banco", condenado em Düsseldorf, no mês passado, a 13 anos de prisão por 14 assaltos praticados em 2002 e 2003.

O que está na ordem do dia agora é o assalto digital a banco. "Quem, em tempo de online banking e cartões eletrônicos, sonha com rios de dinheiro aposta em bytes em vez de cédulas de dinheiro. Do ponto de vista do delinqüente, esse é um negócio muito mais lucrativo, a possibilidade de saque é maior e o risco de ser descoberto é menor", afirma o planet wissen.

A DW-WORLD tentou obter uma avaliação de peritos em segurança de bancos alemães sobre a possibilidade de ocorrer um assalto semelhante ao do Ceará na Alemanha. A assessoria de comunicação do Deutsche Bank informou que, "por motivos óbvios", não fala sobre os padrões de segurança da instituição. A Associação dos Bancos Alemães informou que apenas tem especialistas na área de segurança digital das instituições financeiras. Também isso é um indício de que o perfil dos ladrões de banco começa a mudar na Alemanha.