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Atentado contra o alto escalão leva insegurança ao regime Assad

20 de julho de 2012

Atentado que matou integrantes do governo e um membro da família Assad tem também um efeito psicológico e mostra que a rede de conexões dos rebeldes é ampla e eficiente.

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Syrian President Bashar al-Assad, right, his brother Maher, centre, and brother-in-law Major General Assef Shawkat, left, stand during the funeral of late president Hafez al-Assad in Damascus on June 13, 2000. Syria is considering a U.N. request to interview six top officials about the slaying of a former Lebanese leader, a Foreign Ministry official said Monday, while declining to disclose the identities of the people that the U.N. investigators want to question except that they want to see Gen. Assef Shawkat, the brother-in-law of Syrian President Assad, among others. (AP Photo)
Foto: AP

Um ataque ao centro do poder era previsível. No início desta semana, o porta-voz do Exército Livre Sírio, Qassem Saad Eddin, havia anunciado uma ofensiva das forças de resistência armada em Damasco. Como reação, as tropas do governo se prepararam para batalhas de rua em várias áreas da capital síria. Mas ninguém contava que a ofensiva começasse com uma operação secreta.

E, assim, um guarda-costas que havia passado para o lado dos insurgentes teria colocado, sem grandes problemas, uma bomba numa sala de reuniões da sede do departamento de segurança nacional. Por controle remoto, ele detonou o dispositivo quando a cúpula da segurança nacional da Síria estava reunida no recinto.

A explosão matou vários representantes do regime, incluindo o ministro da Defesa, general Daud Rayiha, o cunhado do presidente Bashar al Assad e vice-ministro da Defesa, Assef Shavcat, e o chefe do núcleo de repressão aos rebeldes, general Hassan Turkmani. Nesta sexta-feira (20/07), foi confirmada a morte do chefe da segurança nacional, general Hisham Ikhtiyar, que havia ficado gravemente ferido.

Rebeldes atingem a família de Assad

Analistas avaliam a morte de Shavcat como um fator particularmente importante. O marido de Bushra, irmã de Assad, havia sido nomeado diretor do serviço militar de inteligência em 2005. EUA e União Europeia impuseram sanções contra o político, acusando-o de agir com brutalidade contra os oposicionistas. Além disso, os Estados Unidos o acusam de envolvimento no assassinato do primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, em fevereiro de 2005.

Free Syrian Army fighters swear to the Qur'an, to fight against government troops until the last soldier is alive in Idlib, north Syria, Thursday, March 8, 2012. (Foto:Rodrigo Abd/AP/dapd)
Exército Livre Sírio: rebeldes estão bem relacionadosFoto: dapd

Com a morte de Shavcat, pela primeira vez os próprios Assad são vitimados pela revolta no país. O atentado irá dividir a família, segundo afirma um porta-voz do Conselho Nacional Sírio, em entrevista à Deutsche Welle. "A irmã de Assad não vai aceitar facilmente a morte do marido. Ela vai responsabilizar o irmão ou outro membro do regime por isso", especula o ativista, que não deseja ter seu nome revelado.

Em quem confiar?

Ainda mais preocupante para o presidente Assad deve ser o fato de os rebeldes terem conseguido levar a cabo um ataque de tal calibre. O fato de que eles terem sido capazes de agir dentro de um órgão de segurança fortemente vigiado revela a amplitude de suas conexões. A rede que eles teceram ao longo dos últimos meses deve ser um dos aspectos que mais inquieta Assad. Esse ataque deixa a mensagem de que, a partir de agora, poucos lugares estão livres do alcance dos rebeldes. "A confiança desaparece mesmo dentro do círculo interno do poder", opina o jornal publicado em Londres Asharq Al-Awsat.

O ataque deverá servir de alerta, afirma o especialista alemão Heiko Wimmen, do Instituto Alemão de Estudos Internacionais e de Segurança. "A renúncia do embaixador da Síria no Iraque, Navaf Fares, já havia deixado muitos partidários de Assad inseguros", observa o analista, em entrevista à Deutsche Welle. A explosão no coração do regime mostrou a sua vulnerabilidade de forma patente. "Muitas pessoas agora avaliam, friamente, quando chegará o ponto em que elas deverão começar a se preparar para a era pós-Assad."

Outros já se distanciaram do governo por convicção. Entre eles, alguns estão dispostos a sacrificar a vida na luta contra o regime. "Podemos partir do pressuposto de que essas pessoas estão motivadas ideologicamente e religiosamente. Elas estão, teoricamente, disponíveis a um chamado da oposição para ações como essa [o atentado]", observa.

epa03311362 Syrian refugees are seen crossing the Lebanese border post at Al Masnaa area upon their arrival from Syria, in Al Masnaa, Lebanon, 19 July 2012. Unrest in Syria has triggered the departure of thousands of people who fled the violence, some 150,000 went to Jordan while tens of thousands others headed to Turkey and Lebanon. EPA/LUCIE PARSEGHIAN +++(c) dpa - Bildfunk+++
Refugiados sírios: população começa a pensar na era pós-AssadFoto: picture-alliance/dpa

Militares mudam de lado

O atentado provavelmente também repercutiu entre os militares. "Sabemos de 160 líderes militares que já deram as costas ao regime", diz o integrante do Conselho Nacional Sírio. "Além disso, sabemos que cerca de 100 mil soldados desertaram. Muitos mudaram de lado após o atentado. Não podemos dar números exatos. Mas sabemos que muitos soldados se afastaram do regime."

O que permanece em aberto é como o atentado afetará as batalhas nos próximos dias. O regime foi, de fato, atingido, mas o atentado não foi um golpe final. Na verdade, o governo tem demonstrado estar resoluto. "Os militares estão determinados a finalmente livrar o país dos grupos criminosos", informou a agência de notícias oficial síria SANA. As lutas continuam em muitas regiões do país, entrando cada vez mais na própria Damasco.

Wimmen não descarta que as batalhas se intensifiquem nos próximos dias e semanas. Ele diz que a violência pode ganhar contornos cada vez mais étnicos e religiosos. "Em particular os alauitas, aos quais a família Assad pertence, temem uma punição coletiva contra sua comunidade religiosa. Isso significa que haverá um núcleo, também dentro das Forças Armadas, que manterá a lealdade a esse regime até o fim, e esse fim deverá ser bem amargo", diz o especialista.

Autor: Kersten Knipp (md)
Revisão: Alexandre Schossler