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Do assassinato à guerra mundial

19 de junho de 2009

O atentado de extremistas sérvios contra o casal herdeiro da coroa austríaca desencadeou a chamada "Crise de Julho" na Europa. Um mês depois eclodiria a Primeira Guerra Mundial. 17º episódio da série "Os Europeus".

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Atentado contra os herdeiros do trono da ÁustriaFoto: AP

O arquiduque Francisco Ferdinando (1863-1914) e sua esposa Sofia (1868-1914) acabavam de chegar em Sarajevo em 28 de junho de 1914, após uma visita ao imperador alemão Guilherme 2º (1859-1941). Seu objetivo era assistir ao encerramento de uma manobra das Forças Armadas austríacas na Bósnia. A caminho do centro da cidade, seu comboio teve que manter marcha lenta, o que beneficiou o autor do atentado, que estava de tocaia.

Primeira tentativa fracassou

Deutschland Kaiser Wilhelm II. mit seinem Sohn Kronprinz Wilhelm
Imperador Guilherme 2º e seu primogênito, Príncipe Guilherme, em 1887Foto: picture-alliance / dpa

A primeira tentativa de atentado fracassou por causa da presença de espírito do sucessor do trono austríaco. Com o canto dos olhos, ele notou algo preto voando em sua direção e, protegendo-se com a mão, conseguiu assim desviar a granada que fora lançada contra o veículo. Ela explodiu diante do carro que vinha atrás, ferindo dois passageiros.

O criminoso tentou se matar com cianeto de potássio, mas o veneno não fez efeito, provocando somente fortes acessos de vômito. Ele foi detido por passantes à volta, enquanto o comboio do arquiduque acelerou para chegar rapidamente à Prefeitura. A viagem até o local de manobra militar foi desviada para uma outra rota.

Ermordung von Erzherzog Ferdinand
Na segunda tentativa, o casal morreuFoto: AP

Logo após a partida para o local da manobra, o motorista de um dos veículos da frente notou que o comboio havia tomado o caminho errado. Os carros tiveram que desacelerar e dar ré. Nas imediações, dois matadores à espreita, armados com uma pistola, aproveitaram o momento para balear Francisco Ferdinando duas vezes. Ele foi atingido na veia aorta e Sofia no abdômen.

Estes matadores também engoliram cápsulas de cianeto de potássio, mas novamente o veneno não fez efeito. Enquanto o segundo matador era detido pela multidão exaltada, Francisco Ferdinando e sua esposa Sofia morriam dentro do veículo em decorrência dos ferimentos a bala.

Em interrogatório, ambos os assassinos revelaram ser adeptos do Movimento Paneslavo. Essa organização apoiada pela Rússia defendia a unificação de todos os povos eslavos em um Estado. Como no Império Austro-Húngaro viviam muitos eslavos, o atentado contra o sucessor da coroa austríaca já vinha sendo planejado há um certo tempo.

Crise de Julho na Europa

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Investida militar austríaca na linha de frente do Isonzo (Itália/Áustria), 1915Foto: dpa

O atentado não foi tratado como o que realmente era, ou seja, um incidente que comprometia as relações diplomáticas entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia, e possivelmente teria levado a conflitos políticos internos com algumas minorias. Como se só estivessem esperando por essa ocasião, as Forças Armadas austríacas pressionaram o imperador Francisco José 1º (1830-1916) a uma revanche militar imediata contra a Sérvia, além de conquistarem para tal o apoio do Estado Maior alemão.

O chanceler do Império, Theobald von Bethmann-Hollweg (1856-1921), enviou a Viena praticamente uma carta-branca por uma guerra contra a Sérvia. O comunicado dizia que Sua Majestade, o imperador alemão, se mantinha fiel e corajoso ao lado da Áustria, "em consonância com seus deveres de aliado e com sua velha amizade". Apesar dessa insinuação, Guilherme 2º ainda teria tido tempo suficiente para evitar um conflito generalizado na Europa. Mas a decisão dos governos foi outra.

Violência cega

No dia 23 de julho de 1914, Belgrado recebeu um ultimato da Áustria, com prazo de 48 horas para aceitar investigadores austríacos no inquérito sobre atentado contra Francisco Ferdinando. Apesar de o governo sérvio ter cumprido esta e outras exigências, a resposta não satisfez o governo em Viena. Francisco José 1º também acabou se decidindo por uma declaração de guerra contra a Sérvia. E assim não se pôde mais deter a cadeia de reações diplomáticas e militares.

Der letzte russische Zar, Nikolaus II
Nicolau 2º, último czar da RússiaFoto: AP

Em 28 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro declarou guerra contra a Sérvia. A Rússia reagiu um dia depois, mobilizando suas forças de combate. Em 31 de julho, o Império Alemão deu um ultimato à França, exigindo que o país se mantivesse neutro no caso de uma guerra entre a Alemanha e a Rússia. Um outro ultimato a Moscou exigia que o czar Nicolau 2º suspendesse a mobilização das tropas russas.

Quando esse prazo expirou sem que o governo russo houvesse detido suas tropas em avanço, as Forças Armadas alemãs pressionaram o imperador a declarar guerra contra a Rússia. Em 1º de agosto, Guilherme 2º assinou a declaração de guerra.

Catástrofe originária do século 20

Nesse dia se iniciava aquilo que o historiador norte-americano George F. Kennan (1904-2005) denominou a "catástrofe originária do século 20": a Primeira Guerra Mundial.

Luftschiffe bomardieren London, Kalenderblatt
Bombardeio de Londres, 1917Foto: picture-alliance / akg-images

Como que fora de si, os líderes políticos da Europa abriram mão – no verão de 1914 – de um relativo bem-estar, de circunstâncias políticas estáveis e da hegemonia cultural do continente sobre vastas regiões do mundo.

Por um motivo insignificante, se comparado com suas consequências, os detentores das coroas europeias selaram um acordo quase tácito e transformaram o continente em um campo de batalha de dimensões imprevistas. Eles estavam inebriados pela ideia de ampliar seu poder ao término da guerra, ignorando, assim, as vozes que alertavam sobre seu próprio declínio.

Autor: Matthias von Hellfeld
Revisão: Augusto Valente