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Ameaça nacionalista

28 de abril de 2010

Rastko Pocesta tem apenas 12 anos, vive na Sérvia e difunde seus ideais pela internet. O jovem ativista de direitos humanos é alvo de ameaças de grupos ultranacionalistas e, por isso, está sob proteção oficial.

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Rastko Pocesta defende aproximação com OcidenteFoto: DW

Na Sérvia, é raro receber apoio público defendendo causas como a independência de Kosovo e a filiação à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O nacionalismo ainda é forte naquele Estado dos Bálcãs e os defensores de uma aproximação com o Ocidente são, ainda, minoria. No entanto, recentemente, essa minoria parece ter ganhado mais atenção – e isso se deve a um garoto de 12 anos chamado Rastko Pocesta.

Pocesta é um jovem ativista social pró-Ocidente que ganhou fama com artigos publicados em blogs e no Facebook, onde faz campanha para que a Sérvia participe da União Europeia (UE) e da Otan. Ele também apoia a independência do Kosovo, apesar de o governo sérvio não reconhecer a separação da antiga província.

Anti-EU Graffiti in Belgrad
Admissão na UE não é tema popular na SérviaFoto: DW

"A Sérvia deveria ser um país onde os direitos humanos, civis, políticos e de minorias fossem respeitados ao máximo", disse Ratko. "Deveria ser um país que não fosse visto sob a luz dos conflitos de 1990 e dos crimes de guerra, mas por seu envolvimento em assuntos internacionais."

Segundo Rastko, a admissão da Sérvia na União Europeia traria ao país estabilidade econômica e prosperidade. O jovem ativista também acredita que a filiação à Otan ajudaria seu país a melhorar a segurança dos cidadãos.

Resposta violenta

Apesar de sua pouca idade, Pocesta não está imune às ameaças de violência feitas através da internet. Ultranacionalistas sérvios começaram a tomar notícia do trabalho do garoto – e alegam que Pocesta traiu os valores sérvios.

Um comentário publicado no fórum de internet de uma organização de direita conhecida como Obraz dizia: "Nós deveríamos quebrar os ossos dessa criança, e então as suas ideias." Segundo a Obraz, todos os sérvios pró-ocidentais são traidores – pensamento que se firmou desde a participação da Otan na Guerra do Kosovo, no final dos anos 1990.

Os ultranacionalistas ainda têm uma forte presença na sociedade da Sérvia, participando de protestos de rua com certa regularidade. Em 2008, depois que os Estados Unidos declararam apoio à independência do Kosovo, a Embaixada dos EUA em Belgrado foi incendiada.

Proteção oficial

Mladen Obradovic Ultranationalist aus Serbien
Obradovic não concorda com PocestaFoto: DW

Pocesta está sob proteção oficial, mas diz que as ameaças não o impedirão de prosseguir seu trabalho. "Eu continuarei sendo ativista de direitos humanos e nunca vou desistir, independente das ameaças", disse Pocesta. "Se eu desistir, será um fracasso para a democracia nesse país. É a pior coisa que pode acontecer."

Mladen Obradovic, secretário-geral da Obraz, não acredita que as ameaças feitas no site da organização sejam sérias, mas, de qualquer forma, não aprova a visão de Pocesta.

"Há algo de errado com esse garoto", disse Obradovic. "Mas eu espero, já que ele é muito jovem, que ainda haja tempo para que ele possa se tornar um melhor aprendiz, um melhor cidadão sérvio, um melhor cristão, uma pessoa melhor."

País dividido

A história de Pocesta revela um grande conflito político na Sérvia, com um lado liberal disposto a deixar o passado para trás e com outro lado que permanece firmemente nacionalista.

O governo sérvio pró-ocidental se candidatou à admissão na UE no final do ano passado. A União Europeia, por sua vez, incentivou a candidatura, desbloqueando um acordo de livre comércio com Belgrado e liberando os cidadãos sérvios da exigência de vistos na área de Schengen.

No entanto, a declaração de independência de Kosovo, em 2008, ainda é um problema entre UE e Sérvia – com exceção de cinco países-membro do bloco, todos os demais reconheceram o Kosovo como um Estado independente.

Pocesta tem pelo menos um admirador dentro do governo da Sérvia: Marko Karadzic, ministro sérvio de Direitos Humanos. Karadzic disse ter a mesma vontade de Pocesta: eliminar os resquícios do passado violento da Sérvia.

"Ainda existem grupos violentos que simplesmente não conseguem se encontrar dentro de um sistema onde há regras”, disse Karadzic. "Isto é completamente inaceitável, porque temos que mostrar que aprendemos com os males da guerra e da violência e que iremos lutar contra isso.”

Autor: Mark Lowen (np)
Revisão: Carlos Albuquerque