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Atleta de Tonga assume nome do patrocinador para ir a Jogos de Sochi

Olivia Gerstenberger (rc)15 de fevereiro de 2014

Fuahea Semi adota o nome da grife de roupas alemã Bruno Banani e, graças ao patrocínio, torna-se o primeiro representante da ilha nos Jogos Olímpicos de Inverno.

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Bildergalerie Winterspiele 2014 außergewöhnliche Teilnehmer
Foto: Getty Images

"Pode parecer um pouco maluco, mas eu consegui provar: não importa de onde você vem ou se existem ou não neve e montanhas em seu país. Se você tem um objetivo, lute por ele", declarou, feliz, o primeiro e até agora único atleta de Tonga, ilha no Pacífico Sul, em sua estreia nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi.

O sonho do jovem de 26 anos, pelo qual ele sacrificou o próprio nome, tornou-se realidade. Fuahea Semi é agora chamado oficialmente de Bruno Banani, o nome da grife alemã que o patrocina. Ele chegou na 32ª colocação, à frente de sete outros competidores em sua categoria, o luge (descida de trenó).

Sua história soa como um conto de fadas. A princesa de Tonga tinha o desejo de enviar um atleta de seu país aos Jogos Olímpicos de Inverno. Ela consultou uma empresa americana de marketing, que iniciou um processo de seleção e teve a ideia de mudar o nome do atleta escolhido para o da empresa que estivesse disposta a patrociná-lo. A marca alemã topou.

"É apenas um nome"

Já o Comitê Olímpico Internacional (COI), que só mais tarde tomou conhecimento dessa história, não gostou da iniciativa. Mas o novo nome do atleta já havia sido mudado nos documentos, e Bruno já estava regularmente classificado para os jogos.

Fuahea esclarece que virou Bruno para conseguir o suporte financeiro necessário para praticar o caro esporte. Seu país não tinha como bancar a aventura. No entanto, ele explica que aceitou mudar de nome apenas após o consentimento de seus pais.

"Eles concordaram porque desejam o melhor para o meu futuro. É apenas um nome. Os outros me respeitam pelo que estou fazendo", afirma o rapaz. Agora, ele é um atleta olímpico – "não por causa do nome, mas porque consegui me classificar", ressalta, com orgulho. Sua treinadora, a alemã Isabel Barschinski, concorda. "Bruno é um atleta extremamente talentoso", garante.

"Pensei que era uma maluquice"

Há cinco anos, a ex-atleta profissional de luge recebeu uma ligação da empresa de marketing contratada pelos tonganeses, onde uma amiga trabalhava. "Queriam saber o que é importante para a prática do luge, o que se deve fazer, quais são os equipamentos necessários", lembra Barschinski. Mas ninguém ainda havia mencionado que o objetivo eram os Jogos Olímpicos. "Quando soube que esse era a finalidade, pensei que era uma maluquice."

Ela concordou em participar das seletivas em Tonga. Em dezembro de 2008, 20 jovens entre os 18 e 25 anos de idade foram testados. Nos principais países onde o luge é praticado, os atletas são iniciados no esporte ainda pequenos, aos 10 anos. "Isso foi uma loucura, algo que não se deve repetir. Não se pode simplesmente ir a uma ilha e dizer 'vamos reunir alguns jovens de 20 anos e ver se eles conseguem praticar luge'."

Fuahea Semi, ou Bruno Banani, chegou na 32ª colocação no luge nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi
Fuahea Semi, ou Bruno Banani, chegou na 32ª colocação no luge nos Jogos Olímpicos de Inverno de SochiFoto: picture-alliance/dpa

Barschinski conta que alguns dos voluntários estavam lá apenas porque queriam uma oportunidade para ir à Europa. "Eu sabia que ia ser difícil."

Após um teste esportivo básico, os candidatos foram levados a descer o monte mais alto de Tonga em um trenó sobre rodas. "Era mais como uma colina, não chegava a ser nem mesmo uma montanha baixa", lembra, sorridente. Bruno obteve o melhor rendimento, conseguiu a vaga e foi treinar na Alemanha.

Primeira experiência na neve

O jovem da ilha do Pacífico Sul viu a neve pela primeira vez no início de 2009. "Em Tonga, o lugar mais frio é a geladeira. Foi muito impressionante", conta. O mesmo pode ser dito de sua estreia no esporte.

"Eu comecei descendo apenas meia pista. Estava muito nervoso, não sabia exatamente o que me aguardava. Mas quando cheguei lá embaixo estava muito contente e animado", relembra. "Pensei 'quero ir mais alto e mais rápido'. A partir daí eu sabia que esse era o esporte certo para mim."

Bruno passa nove meses por ano na Alemanha. Após a temporada de treinamento, ele volta para sua terra natal. Para sua treinadora, Bruno é quase como um filho adotivo. "Para mim era importante aproximá-lo não apenas do esporte, mas também da cultura. Ele fica nove meses longe da família e dos amigos", conta. Para facilitar a adaptação do atleta tonganês na Alemanha, Barschinski incluiu Bruno em seu círculo familiar.

Dicas de um campeão olímpico

Há cinco anos ele faz treinamentos extensos e puxados, inclusive com alguns dos melhores atletas do mundo no luge, como o alemão Felix Loch. "Quando treinávamos juntos, perguntei a ele sobre manobra nas curvas, entre outras coisas, e ele me sempre me ajudou. Tive muita sorte de poder treinar ao seu lado. Estou muito contente, ele é meu ídolo", conta Bruno.

O tonganês acredita que só vai conseguir assimilar tudo isso apenas mais tarde. Na verdade, ele não ficou muito satisfeito com a 32ª colocação. Ele quase conseguiu chegar em 30º. Após as competições, quer permanecer algum tempo em Sochi para assistir às competições de hóquei no gelo, que nunca viu antes.

Bruno não sabe ainda se volta a competir no luge daqui a quatro anos, e brinca que talvez vá tentar um esporte diferente. Ninguém poderá mais tirar dele a experiência dos Jogos de Sochi, mas ele ainda não quer se despedir. "Quando desfilei na cerimônia de abertura, com a bandeira nas mãos, eu já sabia que iria querer voltar. Espero que eu consiga participar novamente."