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Aumenta resistência ao pacote econômico

Neusa Soliz12 de novembro de 2002

Crescem as críticas às medidas de contenção de gastos. Médicos e protéticos protestaram em Berlim contra os cortes na saúde. E alguns deputados ameaçaram não aprovar o aumento da contribuição à aposentadoria.

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Setor de saúde é um dos afetados pelos cortes de gastosFoto: Bilderbox

O pacote econômico que o governo alemão submeterá ao Parlamento na sexta-feira (15) por pouco não foi desamarrado esta semana, dias antes da votação. Não apenas parte da população está insatisfeita com o aumento da contribuição para a aposentadoria de 19,1% para 19,5%, o imposto ecológico sobre combustíveis e energia, a redução de gastos no setor da saúde e as medidas propostas para combater o desemprego.

Aposentadoria aos 67 anos?

No fim de semana armou-se uma crise, devido ao risco de faltarem de 10 a 15 votos para a aprovação do pacote, porque alguns deputados do Partido Verde se rebelavam contra o aumento da contribuição à aposentadoria. O Partido Verde integra a coalizão de governo junto com o Partido Social Democrático (SPD) do chanceler Gerhard Schröder. Os verdes exigiram e acabaram conseguindo o que queriam: uma comissão para estudar a reforma da previdência. Ela deverá propor medidas para diminuir os custos sociais do trabalho, considerando a mudança na estrutura etária da população (maior número de idosos, menor população economicamente ativa). Alguns políticos, empresários e especialistas acham inevitável que a aposentadoria seja a partir de 67 anos, em vez dos atuais 65, do contrário não haveria como arcar com os custos.

Saúde: protesto até das indústrias farmacêuticas

Por outro lado, várias organizações de classe tem realizado manifestações de protesto na capital, por conta dos cortes no setor da saúde. Nesta terça-feira (12), reuniram-se cerca de 20 mil pessoas, que atenderam ao chamado de 40 associações do ramo. Elas temem a perda de empregos nos hospitais e consultórios. Para economizar 3,5 bilhões de euros, o governo congelou as contribuições das caixas de seguro de saúde durante um ano. Médicos e hospitais também tiveram seu quinhão no orçamento congelado. A segunda-feira (11) foi o dia de protesto dos protéticos, que também saíram prejudicados com o aperto de cintos. A associação da categoria vê ameaçados 30 mil dos 66 mil empregos em laboratórios dentais na Alemanha.

Segundo o semanário Der Spiegel, grandes indústrias farmacêuticas americanas e britânicas ameaçaram cortar empregos na Alemanha, insatisfeitas com a política da ministra de Saúde e Assuntos Sociais, Ulla Schmidt. Elas se queixam da interferência do governo na fixação de preços para medicamentos patenteados. As medidas do pacote obrigam as indústrias farmacêuticas a concederem às caixas um desconto de 6% sobre o preço dos medicamentos. As indústrias calcularam que isso representaria 420 milhões de euros em 2003. Isso equivaleria a 15% da soma a ser poupada no setor, embora os remédios patenteados sejam apenas 3,5% do orçamento das caixas de seguro-saúde. Stefan Oschmann, diretor da Merck na Alemanha, acusou Schmidt de não cumprir a palavra, pois prometera não interferir nos preços, após arrecadar 205 milhões de euros das indústrias no começo do ano.

Combate ao desemprego não é ponto passivo

Ao mesmo tempo, também as medidas de combate ao desemprego, propostas pela Comissão Hartz geram controvérsia. O próprio presidente do Departamento Federal do Trabalho, Florian Gerster, colocou em dúvida a meta da comissão, de reduzir o desemprego à metade até 2005. A União Democrata Cristã (CDU), maior partido de oposição, se opõe principalmente às Agências de Serviços de Pessoal (ASP) que o governo quer criar na repartição federal. Elas funcionariam como empreiteiras, cedendo os desempregados a firmas que os contratem por tempo determinado. A oposição acha que isso deveria ficar por conta da iniciativa privada.

O ministro da Economia e do Trabalho, Wolfgang Clement, reuniu-se hoje com o vice-líder da bancada da CDU, Friedrich Merz, na tentativa de buscar um consenso. No entanto, persistiram as principais controvérsias, principalmente quanto ao cronograma para a reforma do mercado de trabalho e ao pagamento dos desempregados cedidos pelas ASP, se deveria ser inferior ao piso salarial – como propõe a oposição – ou no mesmo nível dos demais funcionários e operários contratados, como quer o governo.