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Língua alemã

21 de outubro de 2010

Há quem reclame que a língua alemã esteja sendo corrompida pela simplificação gramatical e pelos estrangeirismos. Membro da Academia Alemã de Língua e Literatura contraria essa visão em entrevista à Deutsche Welle.

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Edição antiga do Dicionário GrimmFoto: picture-alliance / dpa

Deutsche Welle: A Academia Alemã de Língua e Literatura organizou um debate sobre a relevância da língua alemã. Quais são exatamente os temas da discussão?

Klaus Reichert: Convidamos, por exemplo, dois autores que escreveram livros sobre a língua alemã: Günter Grass, que publicou Grimms Wörter (As Palavras dos Grimm), com o subtítulo "Uma declaração de amor". Trata-se de uma declaração de amor à língua alemã, aos irmãos Grimm e sobretudo ao dicionário de língua alemã que eles compilaram.

O outro autor é Thomas Steinfeld, editor-chefe do suplemento cultural do jornal Süddeutsche Zeitung. Ele escreveu o livro Der Sprachverführer (O Sedutor da Língua), com o subtítulo "A língua alemã – o que ela é e o que ela pode".

O que motiva os autores é o fato de o idioma alemão ter caído nas más línguas, por assim dizer, pois há quem diga que o alemão esteja decaindo. Isso já começa com coisas como o desaparecimento do modo verbal conjuntivo (Konjunktiv) e das conjugações dos chamados verbos fortes, e chega até a falta de domínio competente da gramática.

Trata-se de um fenômeno a ser observado não apenas nas camadas sociais mais baixas, mas em toda a sociedade. Isso é denunciado por muitas associações linguísticas, como os opositores dos anglicismos ou estrangeirismos. Agora queremos inverter o jogo e começar a falar da riqueza e da beleza da língua alemã.

Ou seja, o "bom alemão" não é necessariamente a forma de escrever correta e a pronúncia apropriada?

Não. A chamada reforma ortográfica já foi implantada e algumas decisões demasiadamente absurdas puderam ser evitadas com a ajuda dos linguistas da Academia Alemã de Língua e Literatura. Mas isso já passou; na verdade, ninguém aguenta mais esse assunto.

Os encontros da Academia são realizados alternadamente na Alemanha, como em Darmstadt agora, e no exterior, neste ano em Istambul. Qual o retorno que o senhor recebe no exterior quanto ao significado da língua alemã no contexto internacional?

Constatamos que o interesse pela língua alemã em geral, e pela literatura alemã contemporânea em específico, é extraordinariamente grande. Às vezes, certos políticos ou estudiosos dizem ou então se lê nos jornais que o alemão está decaindo.

Pode até ser, mas há lugares onde isso não está acontecendo. Estivemos, por exemplo, nos países do antigo bloco soviético, na Polônia, na Ucrânia, na Rússia, e percebemos que é grande o interesse pela língua e pela literatura alemãs.

E esse interesse aumenta cada vez mais. Em Istambul é a mesma coisa. Organizamos recitais e leituras em cinco universidades e duas escolas alemãs, e os eventos lotaram.

As sedes do Instituto Goethe estão repletas de estudantes, sobretudo por causa do interesse pela aquisição da língua, mas também pela literatura alemã. Sempre voltamos com uma pilha de endereços de pessoas que querem ser regularmente informadas sobre o idioma alemão.

O alemão é uma língua de relevância meramente cultural ou também uma língua universal? O que o senhor acha?

O alemão deixou de ser uma língua universal, como ainda o era no século 19. Na época, o alemão era a língua científica mais importante. Por ocasião de nossos encontros no exterior, podemos observar – no entanto – que o idioma está ganhando terreno. A depreciação por parte de certos políticos não é tão importante.

Além disso, a Alemanha tem um número cada vez maior de autores brilhantes com herança cultural turca, por exemplo, autores árabes, sérvios, croatas, espanhóis ou italianos. E quando perguntamos o que os levou a optar pela língua alemã, eles dizem que o alemão oferece possibilidades que eles não têm em suas línguas maternas.

É um fenômeno interessante o fato de nove dos 20 autores que constam da lista do último Prêmio Alemão do Livro terem a herança de outra língua; quase a metade, portanto. E quem ganhou o prêmio foi Melinda Nadj Abonji, uma húngara sérvia que vive na Suíça.

Esses fenômenos nos mostram que há muita coisa acontecendo por aqui. Arrisco até prever que isso vá fazer com que a língua alemã se altere a longo prazo, pois esses autores também trazem para o idioma outra competência linguística.

Klaus Reichert, nascido em Fulda em 1938, é especialista em literatura de língua inglesa, tradutor e poeta.

Autor: Klaus Gehrke (sl)
Revisão: Roselaine Wandscheer