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Leste alemão

22 de junho de 2009

Estudo realizado pelo Hypo Vereinsbank descreve a situção econômica das regiões que pertenciam à ex-Alemanha Oriental 20 anos após a reunificação do país.

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Empresas alemãs investem pouco em pesquisa e desenvolvimento no leste do paísFoto: AP

Já se passaram 20 anos desde que o então premiê alemão Helmut Kohl utilizou o termo "paisagens prósperas" para descrever as perspectivas econômicas dos territórios pertencentes à antiga Alemanha Oriental.

Hoje, percebe-se que o pronunciamento do então chefe de governo fora um tanto quanto prematuro, pois a região em questão não floresceu tão rápido quanto anunciado, tendo se transformado, em parte, numa paisagem desertificada e quase abandonada. Apesar de tudo, o Leste e Oeste da Alemanha foram de certa forma se equiparando ao longo das duas últimas décadas.

Prosperidade, mesmo que tardia

O banco Hypo Vereinsbank dedicou um estudo à situação econômica dos estados alemães pertencentes à antiga Alemanha Oriental, concluindo que essa região passou por um caminho tortuoso, mas que, mesmo assim, aqui e ali, já podem ser reconhecidas as tais "paisagens prósperas" anunciadas por Helmut Kohl.

Problemas graves

Tudo é uma questão de perspectiva. Se quem estiver em Leipzig, Dresden ou Magdeburg olhar para Varsóvia ou Gdansk (cidades polonesas), por exemplo, parece que os alemães orientais se desenvolveram muito bem nos últimos anos. Se o seu olhar se volta, porém, para Munique, Stuttgart ou Hamburgo, então a impressão é a de que ainda há muito a ser feito nessas regiões.

Quando se compara o PIB per capita dos estados que compunham a ex-Alemanha Ocidental com o da Polônia, vê-se que o desenvolvimento econômico do país do Leste Europeu atinge apenas 30% do nível alemão ocidental.

Já os estados da ex-Alemanha Oriental, embora estejam em melhor situação que a Polônia, não conseguem nem chegar a três quartos do que movimenta a economia no oeste do país. E isso apesar dos bilhões de euros transferidos para a região leste nas últimas décadas.

As razões para isso são várias, explica Lutz Diederichs, membro da presidência do HypoVereinsbank. "Restam alguns problemas graves. As taxas de desemprego na região leste continuam mais altas que no oeste do país e o êxodo da população é um problema central. Isso elimina chances de futuro para os estados do leste", diz o especialista.

Boas condições

HypoVereinsbank Logo Schild
HypoVereinsbank: de olho nos clientes do lesteFoto: AP

O HypoVereinsbank não esconde que tem grande interesse pela região. Como instituição privada de crédito, o banco tem várias empresas de médio porte como clientes no leste do país. Em tempos de crise, o HypoVereinsbank optou por fazer um balanço econômico da situação dessa região do país, justamente no ano de comemoração dos 20 anos da queda do Muro de Berlim.

O estudo partiu de números oficiais do Departamento Federal de Estatísticas. Estes números, diz Diederichs, indicam perspectivas positivas na região, apesar de todos os problemas.

"A região leste da Alemanha tem, na nossa opinião, boas condições de tornar bem-sucedida a longo prazo. Isso se dá por diversas razões: a infraestrutura é exemplar; as empresas ali instaladas hoje são capazes de competir no mercado internacional; os salários têm o mesmo nível dos do oeste do país e a base industrial é relativamente estável", observa o especialista.

Menos suscetível à crise

No entanto, a região leste da Alemanha ainda é menos voltada para o mercado externo que o oeste do país. Setores como o da indústria automobilística ou de máquinas não exercem um papel relevante na região, enquanto a prestação de serviços é mais presente. Logo, explica Diederichs, a crise no leste traz consequências menos graves para a região do que para o oeste do país.

Para o futuro de estados como a Saxônia, Turíngia, Sachsen-Anhalt, Brandemburgo e Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, isso não tem, contudo, muita importância. Pois os estados da antiga Alemanha Oriental ainda vão demorar muito a ultrapassar os índices econômicos da região ocidental, diz Diederichs.

"Mesmo que o leste do país, em comparação com o oeste, se desenvolva bem nos próximos cinco anos (e não podemos esquecer de que os últimos anos foram muito bons em termos econômicos para os estados do leste, com um crescimento de 2,2%), a produção dessa região só chegaria, no ano de 2025, a atingir 75% da produção da parte ocidental do país", comenta o especialista. Um percentual relativamente baixo, segundo Diederichs. Além do fato de que um alto crescimento econômico será improvável em tempos pós-crise.

Possibilidades de crescimento

Schrumpfende Städte in Ostdeutschland
Êxodo da população é um dos principais problemas da região leste da AlemanhaFoto: picture-alliance/ ZB

"O que parece ser atingível é a expectativa para o futuro, algo que vem sendo subestimado, inclusive no relatório anual feito desde a reunificação alemã. Podemos partir do princípio de que, até 2019, os estados do oeste irão atingir o nível de produção dos estados economicamente fracos do leste do país. A título de comparação: o estado ocidental mais fraco do ponto de vista econômico é Schleswig-Holstein, como um PIB per capita de apenas 80% da média do resto dos estados da ex-Alemanha Ocidental. E há grandes possibilidades de que os países do Leste Europeu cheguem, até 2019, a esse nível", analisa Diederichs.

Isso não vale, contudo, para todas as regiões do leste do país. Pois nos estados da ex-Alemanha Oriental existem áreas que jamais se transformarão nas "paisagens prósperas'' prometidas na época da reunificação, avalia o especialista.

Um dos exemplos são as regiões de Brandemburgo afastadas de Berlim, uma das partes do país com o mais fraco desenvolvimento nos últimos 20 anos. Nessas regiões, continua havendo evasão populacional, sem perspectiva de melhora. Diederichs acha que isso não vai mudar, pois os incentivos econômicos destinados à região leste estão voltados, hoje, para áreas que já se encontram em desenvolvimento.

Investir mais em pesquisa

"A pesquisa pública no leste se equipara à do oeste. A infraestrutura é pelo menos a mesma, se não melhor. Ou seja, é preciso destinar recursos para incentivar os empresários a investirem mais na pesquisa e desenvolvimento e, com isso, impulsionar os índices econômicos do leste do país. É absolutamente claro que só vai haver um forte crescimento econômico se houver inovação nessas regiões", sugere Diederichs.

Hoje, mais de 40% das verbas destinadas à pesquisa no leste do país fluem para os cofres de Berlim. Grandes empresas mantêm unidades de produção na parte oriental do país, mas as pesquisas continuam a ser realizadas nas matrizes sediadas no oeste ou mesmo no exterior. Isso, diz Diederichs, deveria mudar de qualquer jeito. O leste não pode continuar sendo apenas uma fábrica para o oeste.

Autora: Sabine Kinkartz

Revisão: Simone Lopes