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Banheiros limpos, negócios sujos

rw7 de março de 2004

Empresas que fazem limpeza de banheiros públicos são acusadas de explorar mão-de-obra. Fiscalização investiga fraudes, ocupação ilegal e sonegação de impostos e fala de crime organizado.

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Fiscais denunciam exploração de mão-de-obra em banheiros públicosFoto: dpa

É comum na Alemanha a terceirização da limpeza de banheiros públicos, seja em lojas de departamentos ou das inúmeras instalações sanitárias ao longo das auto-estradas alemãs.

Mesmo que não tenha o emprego dos sonhos, quem limpa banheiros merece ser remunerado à altura e tratado com dignidade, lembrou o programa Panorama, da rede alemã de televisão ARD, ao denunciar a exploração deste tipo de mão-de-obra.

Em geral, as pessoas não se importam em deixar de 20 a 50 centavos de euro no prato à saída do banheiro, desde que o tenham encontrado limpo e cheiroso. O que acontece com este dinheiro, entretanto, é desconhecido pela maior parte. A maioria supõe que a sua gorjeta seja para a pessoa que zela pela higiene dos sanitários, seja homem ou mulher.

Escravidão moderna

Na realidade, eles recebem em torno de miseráveis 150 ou 180 euros fixos por mês e são obrigados a entregar aos patrões os até mil euros em gorjetas que recebem a cada dia, advertem os fiscais, falando de escravidão moderna. Na grande maioria, as vítimas são russos de ascendência alemã, humildes e pouco esclarecidos sobre o mercado de trabalho na Alemanha.

"Eles ganham cerca de dois euros por hora. O pagamento geralmente é em dinheiro vivo, sem qualquer tipo de comprovante, o que dificulta nossa fiscalização", explica um dos fiscais, membro de uma equipe que faz controles regulares.

Perseguição aos criminosos

Reinigungskraft Kombilohn
Foto: AP
A dificuldade para contatar os responsáveis por este tipo de serviço já começa na localização de um representante, pois muitas vezes são usados testas-de-ferro ou simplesmente nomes ou endereços fantasmas.

É o caso da HBVS, que zela pela higiene dos banheiros em mais de 150 estabelecimentos em todo o país. Em sua sede, perto de Berlim, foram encontrados mais de 10 milhões de euros, sobre os quais não foram pagos os encargos sociais correspondentes.

Um controle realizado no final do ano passado deixou os fiscais de queixo caído. Encontraram, por exemplo, instalações sanitárias onde estavam guardados vários baldes cheios de moedas, que eram recolhidos em datas predefinidas.

Novo modelo de carga horária

Roman Bogomolni, um dos chefes de outra empresa, a Rein-Konzept, de Düsseldorf, acha os pagamentos justos. "Não temos aqui ninguém com diploma universitário. Em geral são pessoas mais velhas e que só sabem fazer isso", explica.

Andreas Stüve, do Ministério Público de Düsseldorf, tem outra opinião. "A Rhein-Konzept é acusada de explorar seus funcionários, obrigando-os a trabalhar muito além das 15 horas diárias permitidas. O modelo de carga horária inventado pela firma obriga seus funcionários a ficarem todo o dia nos banheiros, mas considera "horas trabalhadas" apenas o tempo que o funcionário leva para limpar os sanitários. Considera-se, assim, ao final do dia apenas duas a três horas trabalhadas.

Pontos pagos

A fiscalização sabe que se trata de uma alta fonte de renda, envolvendo muitas vezes estruturas semelhantes à da máfia. Mas nem sempre. Um exemplo é Sven Koch, de Berlim, que zela pela limpeza de uma dúzia de banheiros públicos na capital alemã.

"O chato é que a gente trabalha com tantas moedas, o que exige uma verdadeira infra-estrutura para transportá-las. Muitas vezes me sinto como o Tio Patinhas", esclarece. Ele conta que a maioria das lojas de departamentos que atende nem lhe pagam pelo serviço.

Ao contrário, muitas vezes é sua empresa que paga algumas centenas de euro pelo ponto. Paradoxo? Não, regras da economia de mercado.