1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Barreira israelense diante do Tribunal de Haia

Mahmoud Tawfik / av23 de fevereiro de 2004

Começa o processo relativo à controvertida cerca construída pelo governo de Israel na Cisjordânia. A polêmica é complexa e a decisão do Tribunal Penal Internacional não terá caráter de sentença.

https://p.dw.com/p/4hnM
Protestos em Berlim contra o muro na PalestinaFoto: AP

É uma cerca? Ou um muro? Do ponto de vista óptico a resposta é simples: a construção que separa Israel dos territórios palestinos na Cisjordânia é tanto uma coisa como a outra: nos planejados mais de 700 quilômetros de extensão, ela toma ora uma forma, ora outra, de acordo com a necessidade.

Porém do ponto de vista político, faz uma grande diferença, se a barreira, anunciada em abril de 2002 recebe um nome ou outro. Isto, o o embaixador israelense na Alemanha, Shimon Stein, fez questão de enfatizar a um jornalista do canal alemão de TV ARD: "De início o senhor falou em 'cerca anti-terror'. Mantenhamos esta denominação, pois a palavra 'muro' desperta certas lembranças na Alemanha."

Preocupação justificada ou publicidade exagerada

Porém o que está em jogo é mais do que mera questão de definição. A discussão sobre a barreira erguida por Israel para isolar a população palestina tomou tamanhas proporções, que faz esquecer numerosos problemas e zonas de conflito no Oriente Médio, exigindo até mesmo a intervenção do Tribunal Penal Internacional, sediado em Haia.

Nas capitais européias, manifestantes têm ido às ruas, carregando modelos de isopor, em tamanho natural, do trecho da barreira construído como um muro. E, como se não bastasse, o primeiro-ministro palestino, Ahmed Kureia, é acusado de, com entregas ilegais de cimento a Israel, haver apoiado justamente o projeto que agora condena.

Necessidade ou castigo

Mesmo uma organização que se pretende exclusivamente humanitária, como a Cruz Vermelha, se vê forçada a tomar uma posição quanto à política do governo israelense. Assim, o porta-voz da organização na Jordânia, Moain Kessis, declarou-se preocupado com as conseqüências humanitárias da cerca, que corta o acesso dos palestinos a água, cuidados médicos e educação. Além de isolá-los de suas fontes de renda, seus campos de cultivo e locais de trabalho.

Grenzmauer in Israel
Soldados patrulham barreira que corta a CisjordãniaFoto: AP

A barreira só é aberta três vezes ao dia, durante meia hora e em horários nem sempre favoráveis. Uma série de povoados palestinos no lado ocidental da barreira fica assim sem acesso aos campos e ao abastecimento adequado vindo das cidades maiores. A Cruz Vermelha calcula que , do total de dois milhões de palestinos, cerca de 620 milhões são prejudicados pelo projeto.

Política ou segurança

Para além das conseqüências humanitárias à parte, cabe discutir se o trajeto estabelecido para a barreira é lícito. Em alguns pontos ela ultrapassa claramente a chama "linha verde" entre Israel e o território autônomo palestino. Os adversários da construção temem que ela seja uma forma de Telavive criar uma nova realidade, dividindo de fato a Cisjordânia em duas metades.

O embaixador Stein assegura: "O percurso da barreira não é político, [...] mas sim ditado por exigências de segurança. [...] Farei tudo para garantir que ele considere, em primeiro lugar, aspectos de segurança, e não políticos, e, em segundo lugar, as necessidades dos palestinos."

Políticos israelenses asseguram que não se trata de ocupação dos territórios palestino, pois a barreira será derrubada, tão logo se chegue a um acordo de paz. Quanto às considerações de segurança, trata-se sobretudo de evitar a entrada de terroristas palestinos. Aqui, também é questionada a eficácia da construção, já que o percurso escolhido coloca centenas de milhares de palestinos dentro de terreno israelense.

Oito ou oitenta

O Tribunal Penal Internacional de Haia ocupa-se a partir dessa segunda-feira (23) dessas questões, por solicitação da Assembléia Geral das Nações Unidas. Para as partes implicadas sua decisão não terá caráter de sentença.

Para o embaixador palestino na ONU, Nasser El Kidwa, que abriu o processo em Haia, a barreira nem é temporária nem serve à segurança contra o terrorismo: se fosse este o caso, Israel a teria construído exclusivamente em solo próprio. E ela não teria oito metros de altura, mas sim 80.