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Memória

DW/Agências (mf/ca)11 de janeiro de 2009

Anualmente, milhares de pessoas peregrinam para o cemitério Friedrichsfelde, em Berlim, onde estão enterrados os revolucionários socialistas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, brutalmente assassinados há 90 anos.

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Cravos vermelhos encobrem a lápide de Rosa Luxemburgo em BerlimFoto: AP

Todos os anos, no segundo domingo de janeiro, milhares de pessoas visitam o Memorial dos Socialistas, no cemitério berlinense de Friedrichsfelde. Ali estão enterrados os políticos social-democratas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, cofundadores do Partido Comunista da Alemanha (KPD).

Neste domingo (11/01), milhares de pessoas voltaram a jogar cravos vermelhos nos túmulos dos dois socialistas, assassinados há 90 anos. À frente do cortejo estava o presidente do partido A Esquerda, Lother Bisky, como também o chefe da bancada parlamentar do partido, Gregor Gysi.

Egon Krenz, chefe de Estado da extinta Alemanha Oriental (RDA), também estava presente. Na época da RDA, a tradicional peregrinação era um evento. A liderança do partido A Esquerda, no entanto, afirmou que a lembrança anual da morte dos dois socialistas nada teria a ver com "nostalgia da RDA"

Análises do capitalismo "incrivelmente atuais"

Deutsche Geschichte Kapitel 19 Liebknecht-Luxemburg
Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo foram um casal

Em 15 de janeiro de 1919, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram mortos brutalmente. Os assassinos foram soldados voluntários de tendência de direita, engajados pelo então governo social-democrata, que lhes dera carta branca. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, o medo de que uma guerra civil pudesse levar a Alemanha a se tornar uma república socialista nos moldes da Rússia comunista levou ao assassinato de Luxemburgo e Liebknecht, cujos enterros foram acompanhados por protestos em massa.

"Os mortos nos exortam", está escrito na coluna em pedra de quatro metros de altura, ponto central do Memorial dos Socialistas. Um mar de coroas e cravos vermelhos encobre o espaço circular onde estão as placas em memória dos socialistas mortos, entre eles Liebknecht e Luxemburgo.

Bisky e outros conhecidos políticos de esquerda reúnem-se anualmente diante dos revolucionários mortos. Apesar de realizadas há mais de 90 anos, as análises do capitalismo feitas por Luxemburgo e Liebknecht seriam "incrivelmente atuais", afirmou Bisky em alusão à crise financeira e suas consequências.

"Liberdade é sempre também a liberdade de quem discorda de nós"

Rosa Luxemburg und Karl Liebknecht Gedenkfeier in Berlin
'Os mortos nos exortam' está escrito no ponto central do MemorialFoto: AP

Na época da RDA, a participação na cerimônia era um exercício obrigatório. Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, o evento continuou a acontecer, mas voluntariamente. Todos os anos, por diferentes motivos, milhares de pessoas atendem ao chamado do partido A Esquerda e de outros partidos. "Rosa Luxemburgo foi uma mulher excepcional, que não deve ser esquecida. Acho bom o fato de muitas pessoas irem à rua para lembrar-se dela", afirmou uma participante.

O presidente do partido A Esquerda se lembra, especialmente, da cerimônia realizada em 1988, quando ativistas de direitos civis da antiga RDA protestaram no evento em memória de Luxemburgo e Liebknecht. Na ocasião, o lema foi: "Liberdade é sempre também a liberdade de quem discorda de nós", uma famosa frase de Rosa Luxemburgo.

Flores aos revolucionários que não venceram

Duas décadas após a reunificação alemã, multidões ainda se reúnem em torno do Memorial dos Socialistas. "Acho que essa é a forma respeitável com a qual as pessoas de esquerda dizem: 'Nós lembramos nossos ícones, personalidades do movimento trabalhista. Mesmo que não nos exijam, mesmo que não sejamos obrigados. Honrar Karl e Rosa é uma necessidade'", afirmou Bisky.

Pouco antes de ser assassinada, após a repressão da Revolução de Novembro de 1918, Luxemburgo escreveu que o regime dos seus opositores estava "construído sobre areia" e que a revolução iria reerguer-se, rapidamente – um erro, como demonstrou a história.

No entanto, também no século 21, as idéias de Luxemburgo e Liebknecht são compartilhadas por muitas pessoas, como provam os milhares de peregrinos que, ano após ano, jogam cravos vermelhos nos jazigos dos revolucionários que não venceram sua causa.