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Berlim recebe a inusitada melancolia da banda Madrid

15 de outubro de 2012

Em turnê pela Europa, Adriano Cintra (ex-Cansei de Ser Sexy) e Marina Vello (ex-Bonde do Rolê) apresentam as canções da banda Madrid e surpreendem ao fugir da fórmula de suas antigas bandas.

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Foto: Madrid

Para quem conhece o Cansei de Ser Sexy e o Bonde do Rolê, ouvir o Madrid pode ser um choque. Num mundo onde os jovens se relacionavam com seus músicos favoritos via MySpace, as duas jovens bandas brasileiras dominavam as festas mais descoladas em Tóquio, Londres ou Buenos Aires. 

Hoje o MySpace é nada mais do que uma lembrança, os tempos de diversão e festa dos integrantes do Madrid parecem ter ficados para trás, pelo menos artisticamente. A sonoridade da nova banda não tem batidas dançantes, sintetizadores ou vocais gritados no melhor estilo Courtney Love do funk.

Adriano e Marina aparecem mais sérios, confortáveis e maduros na composição das canções do álbum de estreia da banda, guiado por um pop sombrio e melancólico com diversas referências, do blues ao country, mas sempre transitando no universo indie rock. Outra grande surpresa é o vocal de Marina. Sua voz parece funcionar para as canções intimistas.

Nascimento não premeditado

CD Cover Band Madrid
Capa do disco de estreia do MadridFoto: Madrid

Os dois integrantes do Madrid se conheceram em 2006, época em que eles ainda tocavam em suas antigas bandas e fizeram juntos sua primeira grande turnê pelos Estados Unidos.

Marina deixou o Bonde do Rolê no final de 2007. Adriano deixou o Cansei de Ser Sexy em 2011. Ambos saíram de forma conturbada, com brigas em público e na internet.

Depois que deixou a banda, Marina passou a viver em Londres. Numa visita a São Paulo em 2011, que era para durar alguns dias, ela encontrou Adriano, eles escreveram algumas músicas juntos e assim, por acaso, nasceu o Madrid.

O trabalho funcionou tão bem que eles resolveram escrever um álbum. Marina voltou para São Paulo em fevereiro deste ano, e alguns meses depois nasceu o disco que leva o nome da banda – que, aliás, é uma junção dos nomes Marina e Adriano.

As 12 faixas do álbum conseguem condensar bem a amargura dos integrantes do Madrid em delicadas canções, levadas pela guitarra e pelo piano, dois instrumentos próximos ao coração dos músicos.

De volta aos palcos europeus

Na frente de uma plateia de não mais que 50 pessoas, Marina e o Adriano subiram novamente a um palco berlinense na última sexta-feira (12/10), numa apresentação bem diferente daquela em que fizeram da última vez que estiveram na cidade, com suas antigas bandas. Esta é a primeira turnê do Madrid pela Europa.

O pequeno público parece não intimidar a banda. Adriano canta e toca piano elétrico com confiança, quase sem falar ou olhar para a plateia. Marina está mais bonita e confortável com sua guitarra. Sua voz, por vezes tímida e insegura, funciona bem na maioria das canções.

A bateria é pré-gravada, e o baterista foi substituído por um vídeo. É uma figura sem rosto que toca em pequenas inserções sincronizadas, dando um aspecto visual interessante e criativo para a apresentação da dupla.

Band Madrid
Parceria entre Marina Vello e Adriano Cintra nasceu por acaso depois de um encontro em São PauloFoto: Madrid

Ao vivo, o Madrid ainda tem algumas limitações, principalmente nos vocais, que se perdem um pouco nas variações – eles funcionam melhor nas músicas intimistas ou mais pop.

Eles se perdem na busca por uma dramaticidade que não vem naturalmente das canções. Quando Marina larga sua guitarra e fuma um cigarro elétrico, por exemplo, parece presa na persona gótica vitoriana que ela quis criar.

Mas o Madrid está no caminho certo e mostra que é possível canalizar, mesmo que de maneira ambiciosa, toda aquela tristeza que vem com a ressaca de alguns anos de festas, abusos e sucesso internacional.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Francis França