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Blix critica Bush e Blair

av20 de fevereiro de 2004

Diplomata sueco que chefiou os inspetores de armas da ONU no Iraque visita a Alemanha. Irritado com os EUA e o Reino Unido, diz que não havia mesmo provas de que Saddam fosse uma ameaça para o mundo.

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Hans Blix rompeu com a diplomaciaFoto: AP

Falando à imprensa em Berlim nesta semana, o ex-chefe da comissão de inspeção de armas de extermínio em massa da Organização das Nações Unidas, Hans Blix, deixou bem claro: ele ainda está irritado pela forma como Washington e Londres trataram as informações recolhidas por ele e sua equipe internacional, antes do início da guerra no Iraque.

Após examinar cerca de 70 instalações naquele país, os inspetores não conseguiram descobrir nada de substancial que justificasse uma intervenção militar, lembrou Blix. Mesmo admitindo que alguns pontos relativos a armas bioquímicas ficaram em aberto, ele ainda acredita que a presença in loco de uma equipe maior de especialistas teria ajudado a responder perguntas importantes.

Antes do início da guerra, o diplomata sueco apresentara ao Conselho de Segurança da ONU um relatório de 173 páginas sobre os arsenais de Saddam Hussein. Do documento constava que os iraquianos não haviam conseguido comprovar a destruição nem de suas reservas do bacilo do antraz nem dos mísseis Scud portadores de substâncias biológicas e químicas.

Rigor atípico

Em declaração ao Conselho de Segurança, Blix dissera claramente que não se pode equiparar "não esclarecido" com "existente". Porém os Estados Unidos não registraram o argumento, preferindo confiar em certos integrantes de seu serviço de inteligência. Ele taxou de "escandalosa" a utilização por Washington de um relatório falsificado sobre supostos negócios nucleares entre o Iraque e a Nigéria.

Suas palavras foram surpreendentemente duras para alguém conhecido por seu caráter brando. Sem acusar o presidente George Bush e o premier Tony Blair de má-fé, Blix censurou a falta de análise crítica na tomada de uma decisão tão grave quanto a de desencadear uma guerra: "Se alguém crê em bruxas, cada xícara de café é a prova de algo. Eles eram caçadores de bruxas e agora arcam com a responsabilidade".

Na opinião do diplomata, Saddam era realmente uma ameaça para a população iraquiana, "mas, com certeza, não constituía perigo direto para seus vizinhos e o resto do mundo".

A cruzada de desarmamento continua

Blix, que foi indicado entre mais de 150 personalidades para o Prêmio Nobel da Paz, preside uma comissão independente de controle de armamento. Apesar da experiência negativa com o Iraque, ele reiterou seu apelo para que se empreguem inspetores internacionais no combate às armas de destruição em massa no resto do mundo. Ele elogiou o programa da Alemanha, França e Reino Unido para demover o Irã de seu programa nuclear.

Em sua opinião, investigações e uma comissão de inspeção da ONU seriam de importância vital também na Coréia do Norte e na Líbia. Além disso, nos próximos anos deveria intensificar-se a cooperação entre as equipes de inspetores e as redes de inteligência.

Ele dá um exemplo: "Os satélites vêem os telhados, mas não o que se passa debaixo deles. Os serviços de inteligência também fazem todo esse rastreamento eletrônico do que está acontecendo no espaço, têm espiões de solo. Eles estão gastando bilhões. Os americanos não encontraram nada. Nem nós, mas pelo menos causamos menos custos".