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Boxeador comanda oposição na Ucrânia

Roman Goncharenko / Letícia Camargo von Wissell13 de dezembro de 2013

Vitali Klitschko tenta levar suas vitórias do ringue para a política. Nos protestos em Kiev, ele se tornou a figura central da oposição ao presidente Viktor Yanukovytch. E conta com o apoio de Angela Merkel.

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O boxeador Vitali Klitschko é um dos líderes dos protestos em Kiev, capital da UcrâniaFoto: VASILY MAXIMOV/AFP/Getty Images

O ucraniano Vitali Klitschko está envolvido numa luta bem diferente da que campeões mundiais de boxe, como ele, estão acostumados a enfrentar. O boxeador – doutor em ciências do esporte e hoje deputado – é a figura de frente da oposição que, há três semanas, ocupa as ruas de Kiev em protestos contra o presidente Viktor Yanukovytch.

Assim como o restante da oposição, Vitali Klitschko também quer que Yanukovytch renuncie e que novas eleições sejam convocadas. Em ataque ao presidente, Klitschko disse que "não é possível chegar a um acordo com uma pessoa que não respeita a opinião do povo. Só existe uma saída: uma completa mudança das autoridades."

Segundo ele, só depois da renúncia do presidente poderá haver qualquer tipo de negociação. Na noite desta quinta-feira (13/12), Klitschko confirmou que é candidato à presidência se houver eleições.

Estratégias do ringue

Filho de um militar soviético e uma professora, Vitali Klitschko nasceu em 1971 na República do Quirguistão, na Ásia Central. Aos 13 anos, experimentou pela primeira vez luvas de boxe. Inicialmente ele tentou a sorte como lutador de kickboxer e foi para os EUA, onde se tornou campeão mundial múltiplas vezes.

Só depois começou sua carreira como boxeador profissional. Em 1996, ao lado do irmão Wladimir, foi para a Alemanha, onde ambos criaram fama e entraram para o primeiro escalão do mundo do boxe. Em 2008, eles alcançaram um objetivo: unificar, juntos, todos os títulos da categoria peso pesado.

Quando o assunto é estratégia, até mesmo os mais renomados políticos reconhecem que as lições aprendidas no ringue podem ser úteis. Na sua autobiografia, o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela disse que ele não necessariamente gostava da violência do boxe, mas apreciava a ciência por trás do esporte. "Eu achava interessante observar os movimentos de estratégia, tanto para se proteger como para atacar."

Box-Kampf Vitali Klitschko gegen Daniel Charr
Consagrado boxeador quer vencer também na políticaFoto: dapd

Os feitos de Klitschko na política ainda são menores que os esportivos, mas já começam a aparecer. Seu interesse pela área se revelou em 2004, durante a Revolução Laranja, quando ficou do lado do candidato presidencial pró-Ocidente Viktor Yushchenko – de quem foi consultor mais tarde. Suas duas tentativas de se tornar prefeito de Kiev, em 2006 e 2008, fracassaram, apesar de ele ter conseguido formar uma bancada própria na câmara municipal.

Em 2010, Klitschko trocou o nome de seu partido, que deixou de se chamar Novo País e passou a ser conhecido como Aliança Democrática Ucraniana pela Reforma (conhecido como Udar, algo como golpe ou soco em ucraniano). Os índices de popularidade triplicaram. Com a mensagem "É hora de udar", Klitschko posicionou seu partido como sendo de centro-direita e angariou apoio principalmente entre os jovens nas grandes cidades.

Em 2012, o partido dele ficou em terceiro lugar nas eleições parlamentares, e Klitschko conquistou um mandato como deputado. Pesquisas recentes dão ao Udar cerca de 15% dos votos, pouco atrás da aliança em torno da ex-premiê Julia Timoshenko. O partido do governo está na frente, com 23% da preferência.

Promessa de renovação política

Especialistas acreditam que a popularidade de Klitschko se deve ao desejo da população de ver caras novas na política. Ele é considerado uma alternativa aos políticos tradicionais, com os quais muitos ucranianos estão decepcionados, diz Winfried Schneider-Deters, ex-diretor em Kiev da Fundação Friedrich-Ebert, ligada ao partido social-democrata alemão SPD. Mas, assim como há algumas caras novas, há também muitos políticos antigos dentro do partido Udar. São pessoas que estavam no poder durante o governo do presidente Yushchenko.

Kiew Ukraine Protest Regierung 2. Dezember
Manifestantes tomam as ruas de Kiev, n UcrâniaFoto: Yuriy Dyachyshyn/AFP/Getty Images

O que também agrada aos ucranianos é o fato de Klitschko ter ganhado seu dinheiro atuando como esportista no exterior, explica Schneider-Deters. Em um país como a Ucrânia – onde os políticos têm fama de corruptos – o boxeador tem uma imagem limpa.

O especialista compara Klitschko com o ator Arnold Schwarzenegger, que foi governador do estado da Califórnia, nos Estados Unidos. "Os americanos optaram por um ator, e por que os ucranianos não poderiam escolher um atleta para a liderança política?"

Se dentro do país Klitschko não pode contar com o apoio de toda a oposição – a maioria prefere apoiar a ex-premiê Timoshenko, hoje cumprindo pena num hospital – ao menos ele pode se alegrar com apoio externo. Num artigo publicado pelo jornal Bild, o boxeador confirmou ter recebido apoio do governo alemão, incluindo a chanceler federal Angela Merkel.