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Brasil, a “potência da biodiversidade”

(pc)13 de agosto de 2003

Leia a entrevista exclusiva à DW-WORLD de Manfred Niekisch, biólogo e professor de proteção ambiental da Universidade de Greifswald.

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Foto: AP

Por que só o Sr. criticou no relatório da IAG [International Advisory Group, veja o nosso artigo] a ampliação da hidrovia do Madeira? Que alternativas teria o Brasil para exportar a soja a preços competitivos no mercado internacional?

A justificativa para a ampliação da hidrovia do Madeira é que se poderia aumentar a produção e o transporte de soja de 3 para 28 milhões de toneladas. Mas o que não se diz é que o aumento da produção de soja exigirá o desmatamento de 80 mil quilômetros quadrados de floresta. São áreas intactas onde estão situadas também reservas indígenas.

Oficialmente a hidrovia inundará 250 quilômetros quadrados. Mas este cálculo não incluiu as regiões de várzea, habitadas por muitas famílias de lavradores, e que também serão inundadas. Essas famílias terão de ser deslocadas, assim como as aldeias que vivem hoje da pesca. De que viverão essas pessoas no futuro?

Como devem ser explorados os recursos da Amazônia, conciliando a ecologia com a economia? O Brasil tem condições de enfrentar sozinho este desafio?

O Brasil é um Estado soberano, uma democracia estável e um país com especialistas excepcionais. Para desenvolver seus recursos, o Brasil não deveria basear sua economia na produção de commodities (carne, soja), que podem ser melhor produzidas em outros países e sem provocar estragos sociais e ecológicos.

Na minha opinião, o Brasil deveria assumir o seu papel de “potência da biodiversidade”, explorando de forma sustentável o que ele tem de especial, ou seja, seus recursos florestais.

Por isso é que propusemos no nosso relatório um “Imposto Amazonas” [veja nosso artigo], para que a preservação da floresta possa ser financiada internamente e seja rentável.

Como o Sr. avalia a política ambiental do governo Lula, tendo em vista as críticas que têm sido formuladas por ecologistas ao trabalho do Ministério do Meio Ambiente (MMA)?

Após as conversas do nosso grupo com os representantes do MMA, e sobretudo com a ministra Marina da Silva, não tenho nenhuma dúvida de que o governo [brasileiro] deseja claramente – este é o seu objetivo – a preservação e o aproveitamento sensato das florestas.

Por outro lado, constatamos a fraqueza institucional e operacional de instituições, como por exemplo o INCRA e o IBAMA, que não têm o controle da situação. Outros ministérios possuem outros interesses, mas nós esperamos que as forças progessistas do MMA consigam se impor.

Quais os interesses da Alemanha na Amazônia?

Na qualidade de cientista independente e membro do IAG, não posso falar em nome do governo alemão e das instituições [oficiais] de ajuda ao desenvolvimento. E fora do governo há muitos alemães que se interessam pela Amazônia. Acho que posso sintetizar a opinião geral da seguinte maneira:

A Alemanha tem interesse em apoiar o Estado soberano do Brasil na preservação de suas florestas. A preservação é de interesse internacional – basta citar a biodiversidade e o clima. A comunidade internacional precisa também empenhar-se financeiramente em ajudar um país que deve e quer preversar suas florestas em nome do interesse mundial.

Quem preserva a floresta para a comunidade internacional tem o direito de receber algo em troca. Isto vale tanto para os caboclos, os índios do Amazonas, outras comunidades tradicionais, assim como para os altos escalões do governo. A Alemanha se considera um parceiro do Brasil. O respeito à soberania de um país é o mais importante quando se quer proteger as florestas e outros sistemas ecológicos.